“Pobre, vagabunda. Outra coisa, não vem reclamar depois que o meu pai te demitir”, afirma uma aluna do Colégio Israelita Brasileiro de Porto Alegre em uma live que viralizou após a eleição de domingo, 30. Ao ficar sabendo que seria denunciada, reagiu lendo um comentário feito por outro aluno: “o juiz que vai pegar o caso provavelmente é da minha família”, zombou.
A gravação viralizou durante a semana, provocando o afastamento temporário de dois estudantes envolvidos. A direção da escola informou que só tomou conhecimento da live com as ofensas nesta sexta-feira, 4, quando o Israelita passou a ser marcado nos vídeos e a receber cobranças por um posicionamento.
A live foi gravada após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que derrotou Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno, no domingo, 30. Essas e outras declarações preconceituosas contra eleitores e simpatizantes de Lula foram feitas pela autora da gravação, fora da instituição, na companhia de outros estudantes.
Colegas dela que participaram do vídeo também destilaram ofensas, inconformados com o resultado da eleição presidencial.
Dois alunos identificados pela direção da escola, conforme apurado pelo Extra Classe, foram temporariamente afastados nessa quinta-feira, 4.
Apesar da live ter sido feita fora das suas dependências, o Colégio emitiu nota pública repudiando o ocorrido e informou que na próxima segunda-feira, 7, a Comissão Administrativo-Pedagógica do Israelita deverá deliberar sobre o futuro dos estudantes.
Essa comissão é formada por docentes e integrantes da mantenedora, a Sociedade de Educação e Cultura Porto-Alegrense.
“O discurso de ódio não será tolerado. Dentro da legislação e dos nossos regulamentos, serão aplicadas as penalidades cabíveis. No entanto, muito mais do que punir, sabemos que nosso papel é educar e formar seres humanos capazes de colaborar para a evolução da sociedade”, enfatiza a instituição.
A nota do Israelita
No documento que foi divulgado hoje, após achegarem ao Israelita os vídeos que acabaram viralizando, o colégio afirma se solidarizar com todas as pessoas que foram e se sentiram ofendidas com o “teor discriminatório e preconceituoso praticadas por alunos desta instituição”.
Segundo a instituição, as ações dos alunos que foram viralizadas não refletem seus princípios filosóficos e prática pedagógica.
“Nenhuma escola é uma ilha. Estamos inseridos em uma sociedade que se encontra em parte contaminada por dinâmicas disfuncionais. Mas vamos agir. O discurso de ódio não será tolerado. Dentro da legislação e dos nossos regulamentos, serão aplicadas as penalidades cabíveis”, registra o colégio.
O Israelita ressalta que mesmo sabendo que o vídeo não foi gravado em suas dependências e que os envolvidos não estavam usando o uniforme da instituição resolveu agir rapidamente diante do discurso que considerou grave.
Na nota, o colégio diz se comprometer em “usar da melhor maneira as ferramentas que possui para por em prática um programa ativo de resgate das boas relações e da ética. Estas ferramentas são nossos valores, nossa capacidade educadora, nossa crença na tolerância e na convivência entre diferentes”.
Diferentes intolerantes
Na live protagonizada por estudantes do Israelita, em discussão com pessoas que repudiaram a posição dos alunos, essa diferença foi mais do que evidenciada.
“Eu estou pagando o teu salário”, disse um aluno. “Nosso sonho, literalmente, é ter o Sul fora do mapa do Brasil e virar um país”, disse a aluna que iniciou toda a polêmica.
Em outro momento, chegou a ter zombaria com um sobrenome mais comum de outra pessoa que interagiu na live.
Informada que a live seria denunciada, a aluna leu um dos comentários publicados: “O juiz que vai pegar o caso provavelmente é da minha família”, desdenhou.
Com desprezo aos mais pobres, a aluna ainda disse, entre risos dos demais colegas, “se você está achando que as coisas são caras no mercadinho de esquina que tu vai (Sic.) na tua favela, tu não tem noção de como é nos supermercados que a gente vai, tá amore”.
A jovem vai adiante na zombaria, enumerando hábitos de consumo para expressar a sua suposta superioridade de classe. Ela cita que costuma comprar um sorvete cujo nome não soube pronunciar corretamente, mais “papel higiênico de folha dupla”, ela finaliza, “aí já deu os 600 pilas”.
“Seiscentos pilas pra gente não é nada. A gente gasta isso numa festa”, completa outro adolescente.
Edição: Extra Classe