Talvez agora dê pra respirar novamente, sem ninguém debochando, imitando nosso sufoco
Acordamos diferentes.
Depois de tanto assédio eleitoral, da distribuição indecente de direito público, do uso do aparato estatal para impedir votos. Apesar do pânico moral, das notícias falsas, do terrorismo constante. A justiça eleitoral se manteve firme.
Os votos foram depositados e a vitória do discurso em favor da ciência, da vida e da redução da pobreza venceu.
É um passo apenas, para o necessário retorno ao compromisso com uma democracia que vá além do que jamais fomos.
É somente o começo, de uma estrada que precisa nos levar para longe de tanta violência, de tanta insanidade. Mas é simbolicamente essencial.
Desde o golpe em 2016, vivemos em estado de constante assédio institucional, realizado através da destruição das poucas conquistas sociais, de que é exemplo a “reforma” trabalhista.
Não há como esquecer a sessão em que o deputado federal Jair Bolsonaro, ao votar pelo impeachment da primeira mulher eleita presidenta, evocou o militar que a torturou durante o regime civil-militar.
Atualizou a memória da dor de tantas mulheres, estupradas, violadas, destruídas durante os anos de chumbo. E, em vez de ser destituído, virou presidente. Ali, rompemos com o que ainda havia de respeito à democracia e à ordem constitucional.
Aquele dia, aquele ato, foi fundamental para desencadear a série sem fim de desmandos. Instituir a lógica do inimigo. Empoderar machistas e torturadores. Ontem, um novo ato. A maioria do povo brasileiro, apesar de toda violência, deu a resposta que desde 2016 estava presa na garganta de tantas de nós.
Talvez agora dê pra respirar novamente, sem ninguém debochando, imitando nosso sufoco. Há muito a fazer. Comecemos, juntas, a nova página da nossa história.
Hoje é um novo dia
De um novo tempo que começou
Nesses novos dias, as alegrias serão de todos
É só querer
Todos os nossos sonhos serão verdade
O futuro já começou
Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa
É de quem quiser, quem vier
A festa é sua, hoje a festa é nossa
É de quem quiser, quem vier
(Um Novo Tempo, Marcos Valle)
* Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko