As manobras fascistas não vão parar assim como não pode cessar a resistência
Com 100% das urnas apuradas, Luiz Inácio Lula da Silva recebeu 50,90% dos votos, vencendo ao atual presidente, Jair Messias Bolsonaro, que recebeu 49,10% dos votos. O total de eleitores a favor do ex-presidente foi de 60.345.999 milhões, contra 58.206.254 milhões para a chapa da extrema-direita coligada com as oligarquias de sempre – o famigerado “Centrão”.
No domingo, 30 de outubro, o segundo turno das eleições presidenciais terminou com a vitória de uma coalizão abrangente liderada pela social-democracia, em um leque que vai desde banqueiros neoliberais, figuras da direita e centro-direita liberal democrática à centro-esquerda e à esquerda reformista. Para além da disputa eleitoral, uma ampla camada de organizações sociais e ativistas midiático-digitais engajou-se na luta antifascista e enfrentou de forma desigual uma operação de guerra psicológica promovida pelo governo Bolsonaro.
Jair Messias tentava a reeleição e usou o conjunto de recursos do Poder Executivo da União para tanto. Somente seu “rombo fiscal” – gastos não previstos para 2022 – geraram um problema de receita de R$ 185 bilhões, quase dez vezes maior que o orçamento secreto, cujo eufemismo e a cretinice chamam de “emendas de relator”.
A guerra eleitoral e os crimes subsequentes
A tensão social é fruto do leque de manobras de sabotagem e crimes eleitorais, tentações golpistas – como a de adiamento da votação – e operações de fake news de ordem gigantesca. Apenas na plataforma Telegram, seis canais com mais de 500 mil membros foram derrubados nas 48 horas anteriores ao pleito. Centenas de contas em outras plataformas foram derrubadas pela corte eleitoral. Também tivemos um recorde absoluto de denúncias de assédios patronais, com 2.333 denúncias registradas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), dez por cento das quais na véspera das eleições.
Uma semana antes das eleições, o país ficou paralisado em frenesi acompanhando o papel de Roberto Jefferson, que atraiu a atenção do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O ex-deputado federal pelo PTB/RJ – aliado incondicional de Bolsonaro e antes parte da base oligárquica de todos os governos – recebeu a tiros de fuzil e granadas de fragmentação a Polícia Federal (PF), ferindo um delegado e uma agente a serviço. No dia 19 de outubro, em reunião no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente, forças pró-Bolsonaro planejavam uma operação rodoviária no dia do pleito, para estrangular o fluxo das capitais e regiões metropolitanas nordestinas rumo ao interior. Ao menos 560 postos de controle da Polícia Rodoviária Federal (PRF) desobedeceram à orientação do TSE e atrasaram – e muito – a chegada de um eleitorado de maioria pró-Lula. Mais da metade do controle em estradas estava na região Nordeste, onde reside menos de 30% da população brasileira.
Na semana anterior, uma acusação infundada, proferida através do Ministro das Comunicações Fábio Faria e do coordenador de campanha, o sionista Fábio Wajngarten, abriu caminho para que o líder da extrema-direita pedisse o adiamento das eleições. Ao chamar uma reunião de emergência, os comandos militares não aceitaram a jogada ousada de Bolsonaro, ao forçá-lo a abrandar seu discurso e concentrar-se em queixas ao STF. Quem roeu a corda e desistiu da manobra falsa foi justamente Faria: o dublê de deputado federal, muito ligado ao bilionário Elon Musk e genro de Senor Abravanel – sionista que atende pela alcunha de Silvio Santos e é dono do SBT, segunda maior rede de televisão do Brasil.
As operações de guerra de nervos continuaram com a perseguição perpetrada pela deputada federal Carla Zambelli a um jornalista e membro da Democracia Corintiana, na tarde de sábado, 29 de outubro, em plena Avenida Lorena, dentre os metros quadrados mais caros do país. A agitadora de extrema-direita, acompanhada por capangas, puxou uma arma; seu guarda-costas deu um tiro para o alto e rendeu o “homem negro que a ameaçou”, segundo a controversa parlamentar.
Tensões eleitorais não pararam por aí, incluindo um assassinato em Paraisópolis, supostamente executado por um espião a serviço de Tarcísio de Freitas, candidato bolsonarista ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo.
O início do ocaso
Se incluirmos todas as manobras e quebras de regras, o apoio direto de Bolsonaro e do bolsonarismo junto ao pior da extrema-direita ocidental, o que houve no país foi uma guerra eleitoral – ainda em andamento – como consequência direta de um processo de ruptura por parte da direita, passando pelo segundo turno de 2014, pela hegemonia da Lava Jato, pelas ameaças do Partido Militar e aportando agora ao início de seu fim por meio da derrota eleitoral.
Como se fosse pouco, a primeira-dama Michelle Bolsonaro votou na manhã deste domingo vestindo uma camiseta azul-clara conclamando “apoio ao Estado de Israel”. Também proferiu uma palavra de ordem fascista – aliás, o lema de seu marido. Na noite da derrota, a bandeira sionista – de um regime de ocupação sobre a Palestina histórica –, serviu de pano de chão a bolsonaristas histéricos, onde quer que a ladainha fascista fosse entoada.
O país permanece em transe e pode não se recuperar no curto prazo. Importante neste momento é reconhecer que o fascismo foi derrotado assim como o trumpismo e o sionismo, seu aliado estratégico. Uma análise de maior fôlego é necessária, mas como um retrato do momento, acompanhando o ocaso do protofascismo, a sensação societária é de alívio.
As manobras fascistas não vão parar assim como não pode cessar a resistência.
Vamos em frente.
* Este artigo foi originalmente publicado no portal Monitor do Oriente Médio
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** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira