Diógenes Carvalho de Oliveira faleceu nesta sexta-feira (28/10/22) aos 79 anos, no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, com broncopneumonia consequência de neoplasia maligna do olho e anexos. Deixa dois filhos, Rodrigo e Guilherme, bem como uma longa história de participação em lutas pelo povo e com o povo, algumas de matriz revolucionária, outras no campo político, sempre sob o prisma popular.
Economista, sindicalista, participou da campanha da Legalidade ao lado de Leonel Brizola, foi membro da resistência ao Golpe de 64, guerrilheiro combatente contra a ditadura, membro de movimentos revolucionários, foi preso e barbaramente torturado, banido ao exílio como um apátrida. Fez treinamento militar em Cuba, onde conheceu e conviveu com Che Guevara. No Brasil combateu a ditadura sob o comando de Carlos Lamarca. Passou 20 anos no exílio, passando por Uruguai, Cuba, México, Bélgica, Chile, Guiné Bissau, Coreia do Norte, Líbia e China Continental. Teve presença ativa em revoluções no Brasil, Chile, Portugal e Guiné Bissau.
Anistiado, suas últimas lutas ocorreram longe das armas, como participante da construção do Partido dos Trabalhadores nos anos 1980 e Secretário de Transportes do Prefeito Olívio Dutra no início da década de 1990. Em 2001, foi vitima de um processo político, que visava destituir Olívio Dutra do governo do Estado, quando a direita, por vias institucionais, tentou derrubar um governo popular. Após ser acusado de diversos delitos, Diógenes foi absolvido em todas as instâncias jurídicas.
Em 2014, lançou sua biografia “Diógenes, o Guerrilheiro: Ousar lutar, ousar vencer!”, pela Livraria e Editora Palmarinca. Livro indispensável para quem tem interesse em conhecer a história de fato, não apenas contada a partir de um olhar interpretativo, mas testemunhada e protagonizada por um de seus atores mais ativos.
Em 2014 tive a honra de prefaciar o livro “Diógenes, o Guerrilheiro: Ousar lutar, ousar vencer!”, escrito por Hatsuo Fukuda. Procurei estender meu olhar não sobre ele, mas a partir dele, para honrar naquelas linhas a característica mais importante que julgo necessária para compor o caráter de um verdadeiro revolucionário: a generosidade. Escrevi:
“Admiro profundamente esta generosidade, esta capacidade de lutar por algo que vai além do seu umbigo próprio, de seus interesses pessoais, por mais legítimos que sejam. Que os leva a assumir e a viver riscos, dos quais nós, maioria, por comodidade ou por covardia, desviamos ou fugimos. É isso que os torna verdadeiramente revolucionários, no sentido mais completo e mais pleno desta palavra.”
Ainda naquele texto, procurei definir este amigo e companheiro como alguém que viveu sob a condição de ser “sempre guerrilheiro e lutador, com ou sem armas, de causas altruístas, dignas e nobres”. Hoje peço licença para acrescentar: “Um lutador de três continentes, um ser humano admirável, um gigante nas lutas do povo. Preservemos sua memória”.
Recentemente esteve conosco, ao lado do amigo Olívio Dutra, no lançamento do livro do companheiro David Stival. Apesar de já bastante debilitado, trazia consigo a ousadia e a generosidade de um verdadeiro revolucionário, nos animando ao engajamento na campanha do presidente Lula contra o fascismo. Ontem, ao me despedir de meu amigo, refleti que neste domingo, 30 de outubro, nosso voto não será apenas uma escolha olhando para o futuro, será uma escolha honrando os lutadores do passado, que dedicaram ou sacrificaram a vida pela democracia.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko