Centenas de pessoas realizaram uma manifestação antirracista em Porto Alegre, na tarde deste sábado (22), no bairro Bela Vista. Além de protestar contra o racismo, o ato visou manifestar solidariedade ao cantor Seu Jorge, vítima de insultos racistas durante apresentação no Grêmio Náutico União (GNU).
A manifestação teve início na Praça da Encol e seguiu com a caminhada pelas avenidas Nilópolis e Nilo Peçanha, terminando em frente ao clube onde o cantor foi vítima de racismo. O ato foi convocado por coletivos negros e movimentos sociais, sendo apoiados por diversas entidades, sindicatos e parlamentares.
Conforme relata a reportagem da CUT/RS, diversas falas dos manifestantes denunciaram o racismo estrutural e a desigualdade que se desdobra na violência contra jovens e mulheres, mas também se direcionaram contra o encarceramento em massa, o genocídio do povo negro, a pobreza e a exclusão social.
A manifestação contou com a participação de associados do clube, como o psicanalista Roberto Amorim, sócio e atleta do União. Ele afirmou que já colheu mais de 150 assinaturas numa carta com pedido de desculpas, que será enviada ao Seu Jorge.
“Se o Seu Jorge é recebido com imitações de macaco, imaginem o que acontece com um cidadão comum, alguém que tem sua pele como marcador. Queremos que isso jamais se repita no clube”, frisou Amorim.
Diversas entidades e parlamentares se manifestaram
“Repudiamos qualquer instituição que tenha o princípio de segregar, humilhar e desrespeitar pessoas de pele preta”, afirmou a secretária de Combate ao Racismo da CUT-RS, Isis Garcia.
Representante do movimento Vidas Negras Importam, Gilvandro Silva Antunes ressaltou que “estamos aqui, negros e não-negros, para fazer um alerta sobre a questão do racismo. Todos os dias, milhares e milhares de pessoas são discriminadas em função da sua cor. Esse tipo de preconceito tem de ser varrido”.
A vereadora e deputada estadual eleita Laura Sito (PT) afirmou que a agressão ao Seu Jorge “partiu de uma elite racista que, incentivada por uma conjuntura acirrada pelo ódio, não aceita a população negra e pobre em espaços de destaque e de poder”.
O vereador e deputado estadual eleito Matheus Gomes (PSOL), falando sobre a localidade onde ocorreu o ato, disse “que este é um local onde não estamos acostumados a protestar” e lembrou que o território era “uma colônia africana até metade do século passado, mas aos poucos fomos sendo expulsos deste entorno”.
“Racismo é crime e não se negocia”, acentuou a vereadora e deputada federal eleita Daiana Santos (PCdoB). “É a vida do nosso povo negro que está ameaçada e exigimos os nossos direitos”, destacou.
O ato contou também com pronunciamentos da vereadora Karen Santos (PSOL), da vereadora suplente Reginete Bispo (PT) e de representantes de movimentos, além da participação da deputada estadual reeleita Sofia Cavedon (PT) e do vereador Jonas Reis (PT) e de dirigentes de entidades sindicais e associações.
União divulga nota sobre manifestação
A Polícia Civil começou a ouvir, na quarta-feira (19), depoimentos de testemunhas da investigação de racismo. O presidente do GNU, Paulo José Kolberg Bing, foi ouvido na sexta-feira (21), na Delegacia de Combate à Intolerância de Porto Alegre, e afirmou que não presenciou manifestações racistas em show do Seu Jorge, apesar de haver vídeos que comprovam os insultos.
Em nota à imprensa, o Grêmio Náutico União se posicionou sobre a manifestação antirracista e os ataques sofridos por Seu Jorge. Confira:
"Em relação às manifestações contra o racismo promovidas neste sábado (22) em frente ao Grêmio Náutico União, elas são legítimas e têm total apoio do Clube, desde que realizadas de maneira pacífica. O Grêmio Náutico União lamenta os fatos ocorridos durante apresentação do cantor Seu Jorge, no dia 14 de outubro, em suas dependências, com a presença de associados e não-associados.
O Clube se solidariza com o artista, que foi escolhido para realizar o show por sua representatividade na cultura nacional e pelo reconhecimento internacional, e destaca o respeito ao profissional e ao seu trabalho. O Grêmio Náutico União repudia qualquer tipo de discriminação e está colaborando com a Polícia Civil para a apuração dos fatos".
*Com informações da CUT/RS.
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Edição: Katia Marko