A 12 dias do segundo turno das eleições, o candidato à Presidência Luiz Inácio Lula (PT) da Silva arrastou uma multidão pelas ruas centrais de Porto Alegre, durante caminhada com apoiadores realizada na tarde desta quarta-feira (19). Em rápida passagem pelo Rio Grande do Sul, sua terceira visita ao estado neste ano e a primeira após o primeiro turno, o candidato também concedeu coletiva de imprensa a jornalistas na Capital.
Lula veio ao estado acompanhado de seu candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), e sua companheira Janja. Também participaram da atividade personalidades como a ex-presidenta Dilma Rousseff, o deputado Edegar Pretto (PT), Manuela D'Ávila, Olívio Dutra e outros diversos parlamentares gaúchos do PT, PCdoB, PSOL, PDT e PSB.
Chamada de “caminhada da vitória”, a atividade iniciou junto ao Monumento dos Açorianos, por volta das 16h. Eram vistas bandeiras, faixas e cartazes de diversos movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos. A organização estima que 70 mil pessoas participaram do ato. Lula, que no percurso chegou a segurar uma bandeira do Brasil, interagiu com as gaúchas e os gaúchos da carroceria de um carro.
O ato encerrou na Praça da Matriz, em frente ao Palácio Piratini, onde lideranças políticas se manifestaram em um caminhão de som.
"Estado dos corações valentes"
Ovacionada pelos presentes, ex-presidenta Dilma Rousseff disse que o RS é um estado de mulheres e homens lutadores, corajosos e guerreiros. “Esse é o estado dos corações valentes. Eu tenho a honra de ser gaúcha de propósito. Sei que aqui é o estado que reconhece aqueles que lutam e o presidente lutou toda sua vida pelos direitos do povo brasileiro, pela democracia e soberania deste país", disse.
Fazendo referência à polêmica fala de Bolsonaro, que disse que "pintou um clima" ao se referir a adolescentes venezuelanas, Dilma ressaltou que Lula é o presidente que respeita a família. "Jamais passou perto da cabeça do presidente Lula não ter consideração pelas crianças e adolescentes, ao contrário deste senhor que disputa a eleição e que usou a imagem de crianças e adolescentes de forma indevida e insinuando que meninas de 15 anos se prostituem. Nós defendemos a família e não admitimos que crianças e adolescentes sejam tratados desta forma”, afirmou.
"Política como a arte de construir o bem comum"
Em sua manifestação, Olívio Dutra disse que o povo presente luta por um mundo com respeito e cuidado, em que se possa falar de política sem que isso cause desavenças. "Queremos a política como a arte de construir o bem comum, com o protagonismo das pessoas", ressaltou.
Disse que uma eleição é um processo civilizatório e não um espaço para disseminar o ódio, o preconceito e a exclusão. "Para nós, a democracia é sempre um aprendizado, pois aprendemos muito com os movimentos sociais e populares, do campo e da cidade."
Orçamento participativo em vez de secreto
O ex-governador afirmou que as pessoas tem que fazer parte dos governos e da construção de uma economia viável, justa e sustentável. "O orçamento não pode ser secreto, tem que ser participativo", disse, criticando o modelo de emendas parlamentares em vigência.
Por sua vez, Alckmin saudou os presentes e os partidos da frente política de apoio à candidatura. "É uma alegria estar aqui, com vocês, parabéns por essa festa cívica. Peço a Deus que cubra de bênçãos nossa população, o Brasil não quer ódio, quer paz. Não queremos a fome, queremos emprego. Não queremos o desmatamento, queremos preservar a 'casa comum'. Queremos vida e um SUS forte", disse.
Lula abre sua fala repudiando o racismo
Lula iniciou sua fala convidando o público a levantar a mão em sinal de protesto com o preconceito que o Seu Jorge sofreu em Porto Alegre. “Nós não podemos aceitar o racismo de jeito nenhum. Esse é um país de iguais, o preconceito é crime inafiançável e portanto a gente não pode aceitar o que fizeram com um artista, e mesmo que fosse um trabalhador mais humilde ele teria que ser respeitado. Eu sei que esse preconceito não é do povo de Porto Alegre, do povo gaúcho, esse preconceito é de uma minoria que não sabe respeitar a democracia”, disse.
O candidato disse que o país precisa de um processo de reeducação. Destacou que durante o seu governo foi colocado no Ensino Fundamental o ensino da história africana para que se pudesse combater o racismo no seu nascimento. “Somente preparando as nossas crianças, os nossos jovens, é que a gente vai ter um futuro bem próximo de um povo sem racismo.”
Resgatar a dignidade
Disse ainda que em seus 50 anos de vida política, nunca imaginou disputar uma eleição contra a mentira. “Não existe uma única coisa de verdade nas coisas que ele (Bolsonaro) fala”, criticou o ex-presidente.
Também criticou o retorno da fome no país durante o atual governo. “Esse país voltou a ter fome, 31 milhões de pessoas estão passando fome quando a gente tinha tirado o país do mapa da fome em 2014”, disse Lula.
“Parece que eles têm um desprezo pela educação. A elite brasileira nunca se preocupou pela educação do nosso povo. Nós vamos voltar a investir em universidades, voltar a investir em mais escolas técnicas, vamos fazer a escola integral neste país”, prometeu.
Também criticou a perda do poder de compra da população. “Faz cinco anos que o salário mínimo não tem aumento real. São 30 milhões de pessoas, dos quais 22 milhões são aposentados e pensionistas que não recebem aumento real.”
“Temos milhões de pessoas que trabalham fazendo bico porque não tem carteira assinada, não têm seguridade social. Vamos fazer uma discussão sobre a reforma trabalhista e garantir aos trabalhadores o direito mínimo dele trabalhar com tranquilidade, que sua família vai ter respaldo em um plano de seguridade social”, afirmou.
Disse que pretende fazer uma economia sólida, com financiamento de micro e pequeno empreendedor, ajudando o povo a se organizar em cooperativa. “Não queremos o trabalhador abandonado achando que é pequeno empreendedor, carregando comida em uma moto ou bicicleta, cheirando a comida sem ter dinheiro para comer, queremos que esse trabalhador tenha direitos e seja respeitado”, ressaltou.
Derrotar o fascismo
Lula convocou a população a derrotar a direita e fazer o Brasil voltar a ser protagonista internacional. Contudo, disse que essa não é uma eleição fácil. “Desde a Proclamação da República até o dia de hoje, se juntar todos os ex-presidentes, nós não utilizamos 10% do dinheiro que o Bolsonaro está utilizando para poder ganhar as eleições, é o Auxílio Brasil, o auxílio não sei das quantas. Eu quero dizer para vocês, qualquer dinheiro que cair na conta de vocês, peguem e gastem, e no dia 30 deem uma banana para eles e vote no 13.”
“Vamos derrotar Bbolsonaro, vamos derrotar o fascismo e trazer de volta a democracia, trazer de volta a comida para o prato do trabalhador. A gente vai voltar a sorrir porque a gente vai viver dignamente, de forma decente. Eu estou nesta campanha jogando a minha vida”, assegurou Lula.
Apoiadores presentes querem Lula para mudar o país
Durante a caminhada, a reportagem do Brasil de fato RS conversou com populares. Emocionada, a aposentada Miriam Burger enfatizou que Lula tem que ganhar a eleição.
“Isso é decisivo para a vida de cada um de nós e para o país, a gente precisa acabar com esse ditador camuflado. Além dele ser um ditador é bandido, tem laços com o banditismo e com a milícia, nada é investigado, fica tudo debaixo dos panos. É urgente que a democracia triunfe e o Lula é o caminho”, afirmou.
“Estamos em uma encruzilhada civilizacional no Brasil”, avaliou o sociólogo Cristovão Feil. “Ou nós decaímos na barbárie ou a gente avança nos padrões civilizatórios que nos últimos anos ficou muito comprometido no país. É um dever cívico e sobretudo civilizacional comparecer aqui, prestigiar os companheiros”, completou.
A aposentada Ingeborg Eichwald veio da cidade de São Leopoldo, região Metropolitana, para acompanhar a caminhada. Com uma bandeira do Brasil, ela disse que o que a motivou é colocar de novo Lula na presidência.
“Uma vez eu ajudei a botar Lula no Planalto, e espero que a gente consiga de novo. Eu fui muito feliz e sabia que era feliz”, disse. Ela espera que, com Lula eleito, o país possa voltar a ter serenidade e que acabe o ambiente de ódio que permeia a sociedade brasileira.
Natural de Rio Grande e atualmente morando em Porto Alegre, Tatiane Silva levou seu filho pequeno na caminhada. “Temos que fazer alguma coisa para mudar a realidade do nosso país que está um caos. Cada um conta, cada voto conta. Eu podia estar em casa com meu bebê de dois meses , mas estou aqui marcando presença porque é importante”, disse.
Coordenador regional do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe-IFSul), Francilon Simões veio de Pelotas, município localizado no sul do estado, com a sua família para a caminhada: “É importante estarmos na rua para que o Brasil possa voltar a crescer de novo. Em nome da minha filha, de 4 anos, nós estamos na rua para derrotar o Bolsonaro”, disse.
“A gente precisa de mudança, eu quero um futuro para meu filho, e eu tenho um mais velho que é autista. Aqui a gente é uma minoria e temos que lutar pelos nossos. Se a gente não luta, se a gente não grita, se a gente não protesta, nada vai mudar”, complementa.
Vivi Pereira, porta-voz do Partido Rede Sustentabilidade de Porto Alegre, demonstrou confiança e empolgação com a vitória de Lula no segundo turno. “Estou aqui prestigiando o evento do Lula, esse ato importantíssimo que antecede a sua vitória pra mostrar que Porto Alegre tem força e Porto Alegre está com Lula, é Lula presidente!”
Abaixo mais fotos da caminhada
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Edição: Marcelo Ferreira