A razão convergente que me faz votar em Lula e Leite é barrar o fascismo e reacionarismo
Neste segundo turno das eleições no Brasil votarei em Lula para presidente e Eduardo Leite para governador do Rio Grande do Sul. De um ponto de vista formal e objetivo são dois votos iguais, com o mesmo valor e o mesmo resultado possível. Mas, tais votos, repletos de diferenças, convergem em um único sentido, o da manifestação simbólica de lutar para derrotar o fascismo.
Em relação ao pleito estadual, ambos os candidatos a governador defendem e aplicaram uma política que vem empobrecendo o estado, transferindo renda pública para os mais ricos, inviabilizando a dimensão social do governo. São defensores da radicalização das políticas de mercado, como as privatizações de empresas públicas, e de privilegiamento das grandes empresas. Ambos se aproximam também da leitura sobre a crise que vivemos: um acredita que essa crise regressiva é o caminho, outro acha que essa regressão nem é tão relevante assim. Ambos são expressões de um semelhante bloco de forças sociais que é a base do reacionarismo fascista. São os setores mais reacionários que articularam e sustentam ambas as candidaturas.
Assim, meu voto em Eduardo Leite não resulta de uma apreciação positiva de suas opiniões, de suas condutas políticas ou de suas políticas aplicadas no governo estadual. Se considerasse essas variáveis eu entraria em um beco sem saída, um jogo de soma constante, que me levaria a anular o voto para governador. Porque é insofismável que grande parte de sua personalidade política, aquela que é formada pelo conjunto de seus atos públicos na esfera do confronto ideológico e das relações de poder, se assemelha à de seu adversário.
O que me leva a decidir por votar em Leite, portanto, não são suas virtudes políticas, mas o signo que Onyx comunica à cultura política. O grave e insuperável problema de Onyx é o lugar simbólico, baseado em materialidades, que ocupa na luta política. Representa um campo político desprovido totalmente de virtudes. Sua vitória seria a vitória simbólica da destruição, da regressão total, da guerra de todos contra todos, do ressurgimento do autoritarismo, da segregação social e do supremacismo como valor e visão de mundo. Onyx é o bolsonarismo em carne, osso e espírito. Eduardo Leite é simbolicamente, neste contexto, seu antônimo. Por isso levará meu voto.
Meu voto em Lula é qualitativamente diferente. Voto nele em razão de suas virtudes. Lula é a expressão social da luta simultânea por democracia, igualdade e defesa dos bens comuns da humanidade. A sua vitória nas eleições presidenciais tem duplo significado: barrar e obstruir a ascensão do reacionarismo e criar as condições para a reconstrução de bases que reestabeleçam o caminho ascendente dos direitos sociais conquistados desde o fim da ditadura, interrompido com Temer e com o próprio Bolsonaro.
Voto em Lula pelo significado que expressa - a retomada dos valores igualitários e democráticos - e pelo significante histórico que move o bloco social que sustenta sua candidatura, os trabalhadores, os pobres e movimentos sociais em marcha. De baixo para cima, a despeito da vontade de Leite, há um forte movimento do campo democrático para derrotar a ameaça fascista.
A razão convergente que me faz votar em Lula e Leite é barrar o fascismo e reacionarismo. A razão dissonante é que de Lula espero a abertura de um novo período e um novo bloco social no poder. De Leite nada espero. Leite é a negação ao bolsonarismo, Lula é a antítese.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko