É decisivo ir para a rua, conversar com as pessoas, com toda solidariedade e o máximo de unidade
“Estão apelando para as mentiras. Ele não roubou. Foram obrigados a libertar Lula. Ele respeita todas as religiões. Ele é a favor de todos nós, de todas as famílias. Procure se informar. Não se deixe enganar, para não colocar seu voto numa aposta errada, que vai continuar destruindo o Brasil.”
São palavras em áudio e vídeo de Maria Valéria Rezende, religiosa das Cônegas de Santo Agostinho. Ela é escritora conhecida, ganhadora de prêmios importantes, especialmente com o seu Quarenta Dias, que se passa em Porto Alegre e suas periferias. Eu a conheci em tempos de Lomba do Pinheiro, anos 1970, no trabalho nos bairros populares, nas Comunidades Eclesiais de Base, Associações de Bairro, educação popular, nas lutas e mobilizações para melhorar a vida do pobre e trabalhador.
Está em jogo, e em risco, a democracia nas eleições de 30 de outubro. Imagina mais quatro anos de Bolsonaro presidente, legitimado pelo povo no voto! A urgência é do diálogo fraterno com todo mundo nas próximas duas semanas. Todo mundo mesmo, sem exceção, e sem medo de ser feliz!
Este é um daqueles momentos da História em que ninguém pode se omitir ou deixar de ter opinião pública sobre o que está em jogo em 30 de outubro, sobre qual a melhor proposta para o futuro do Brasil e de seu povo. Esse é um dos momentos da História em que ninguém, ninguém mesmo, pode ficar sentado em cima do muro, como se as eleições para presidente e as propostas dos dois candidatos não tivessem a ver, diretamente, com sua vida, sua família, sua comunidade. Sob pena de ser cobrado para sempre.
Neste contexto e nesta conjuntura, fica difícil, senão impossível, entender como os do antigo MDB e os do PSDB, que participaram das Diretas-Já e da Constituinte nos anos 1980, não estejam hoje ao lado da soberania e da democracia, junto com Lula. Simone Tebet, candidata a presidente do MDB, felizmente, honra esta história e aponta para o futuro com esperança no segundo turno das eleições presidenciais, assim como o fizeram as e os democratas, todas e todos, nos anos 1980.
Os tempos são de neofascismo, de ataques aos direitos de trabalhadoras e trabalhadores, das mulheres, da população negra, das juventudes, dos indígenas e quilombolas, do povo LGBTQIA+, dos sem terra e sem teto. É isso e muito mais o que está em jogo. Para quem é das antigas, como eu, e viveu o golpe de 1964 e a ditadura militar, sabe que este é momento mais grave e difícil que o Brasil vive e atravessa desde então. No início dos anos 1980, as Diretas-Já e o processo da Constituinte devolveram esperança ao povo brasileiro e mesmo com todas as contradições de muitos momentos, especialmente o período neoliberal dos anos 1990, o Brasil e seu povo viveram períodos de boa luta, de muita organização popular, até chegarem os anos 2000 e os governos Lula e Dilma.
Agora, em 2022, toda esta história das últimas décadas está em sério risco. Os processos e espaços de participação popular e de políticas públicas construídas com participação social ao longo do tempo já foram desmontados ou extintos em boa parte nos últimos anos. O Brasil voltou ao Mapa da Fome. Foi necessário articular uma Frente nacional contra a Fome e a Sede, organizar Comitês Populares contra a Fome, com Cozinhas Solidárias e Comunitárias. Caso vença o inominável, aquele de quem é melhor não dizer o nome, tudo ficará muito, muito pior do que já está. A violência já presente no cotidiano, especialmente nas periferias pobres, poderá tomar conta definitivamente da sociedade, com crescimento do ódio e da intolerância, hoje já reinantes.
Importante deixar claro, por outro lado e ao mesmo tempo, a poucos dias do 30 de outubro: nada está perdido, assim como nada está ganho em termos eleitorais. Eleições e jogos de futebol decidem-se em campo, durante o jogo, nunca antecipadamente. A última semana de outubro, como se viu esta semana no dia de Nossa Senhora Aparecida e Dia da Criança, deverá ser de muita turbulência, de muitas fake news, num quadro de vale-tudo, onde a extrema direita neofascista vai usar todas as armas que têm à mão, inclusive aquelas que matam. Todo cuidado é pouco. É decisivo ir para a rua, conversar com as pessoas, com toda solidariedade e o máximo de unidade.
Como disse o Arcebispo do Santuário de Aparecida, Dom Orlando Brandes, no dia 12 de outubro, “o Brasil precisa vencer muitos dragões, como os da fome, do desemprego, do ódio e da mentira”. Por tudo isso e muito mais, o alerta e o pedido de voto da Irmã Maria Valéria Rezende são importantes, fundamentais nos tempos em que vivemos. Que sejam repetidos e assumidos por todas as mulheres e homens de boa vontade, todas e todos aqueles que continuam acreditando na democracia, no Brasil e no seu povo. ESPERANÇAR.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko