Em 2 de outubro, Bolsonaro obteve 43,2% dos votos para a Presidência da República e a sua coligação – PL, PP e Republicanos – elegeu 187 deputados federais. Se a eles somarmos os 59 deputados da União Brasil (fusão do DEM com o PSL), chegaremos a 246 deputados, o que significa 11 a menos da maioria absoluta da Câmara dos Deputados, o que será facilmente alcançado caso Bolsonaro vença o pleito.
Nas eleições para a renovação de um terço do Senado, a mesma coligação conquistou 13 senadores, que somados aos obtidos pela União Brasil, totalizam 18 senadores(as), isto é, 67% das vagas em disputa. Na composição global do Senado, esses quatro partidos vão ficar com 43% do total. Considerando outros partidos de direita, não será difícil, em caso de vitória de Bolsonaro, obter maioria para a ultradireita também no Senado.
Com maioria nas duas Casas, Bolsonaro poderá alterar a composição do STF, STJ, TCU, etc. Seja alterando o número de ministros de cada Corte (como fez a ditadura militar), seja pelas nomeações que terá direito a fazer, seja aprovando o “impedimento” dos que resistirem a ele.
Como se isso não bastasse, os apoiadores de Bolsonaro conquistaram oito governos no primeiro turno – Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Goiás, Mato Grosso, Tocantins, Acre e Roraima – e disputa com grandes chances outros cinco – São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Rondônia.
À necessidade de derrotar Bolsonaro se soma a de impedir a vitória de seus aliados neste segundo turno, no maior número possível de estados.
É nesse contexto que temos que analisar o nosso posicionamento nas eleições para o governo do estado, no Rio Grande do Sul.
Aqui, no primeiro turno, Onyx, o candidato de Bolsonaro, fez 37,50% dos votos, contra 26,81% de Eduardo Leite e 26,77% de Edegar Pretto, faltando a este somente 2.442 votos para ir ao segundo turno. É preciso lembrar que para o governo o PCB fez 4.003 votos, o PSTU 6.252 votos, o PSB 17.222 votos e o PDT 101.611 votos. É óbvio que se as forças da esquerda tivessem marchado juntas no primeiro turno – como pregou insistentemente o PCdoB – estaríamos no segundo turno.
Quando somamos os votos de Eduardo Leite e Edegar Pretto, chegamos a 53,58%, ou seja, 16,08% à frente do candidato de Bolsonaro, indicando a possibilidade real de derrotar o candidato do neofascismo. Mas, para isso, não basta propor “nenhum voto para Onyx”, pois isso se aplica tanto ao voto para Leite, como ao voto nulo ou em branco.
É preciso assumir, sem meias palavras, o voto em Eduardo Leite – independente das divergências que temos com ele, que é um neoliberal assumido – para derrotar o candidato da ultradireita neofascista, em defesa das liberdades democráticas ameaçadas.
Da mesma forma que FHC, Serra, José Aníbal, Tasso Jereissati, Pimenta da Veiga, Teotônio Vilela Filho, entre outros – todos do PSDB – decidiram apoiar Lula de forma incondicional, no segundo turno, em defesa da democracia.
Mas, alegam alguns, “Leite não quer apoiar o Lula”. Segundo outros, ele teme que o apoio da esquerda lhe tire os votos conservadores.
Cabe aqui recordar que, em 1958, na eleição de Leonel Brizola para o governo do estado – quando ele estava coligado com o PRP integralista, de Plínio Salgado, e com o PSP, de Ademar de Barros –, os comunistas declararam apoio a ele. Brizola repudiou esse apoio, mas nem por isso o PC do Brasil deixou de fazer campanha para ele.
Após o pleito, o PC do Brasil enviou um telegrama parabenizando-o pela vitória e este o devolveu. O PC divulgou uma nota, então, dizendo que o seu voto independia da vontade de Brizola e que, na avaliação dos comunistas, ele era a melhor alternativa para o Rio Grande do Sul.
Certamente, Eduardo Leite não deseja um acordo formal com o PT, PCdoB, PSOL, PSB e outros partidos de esquerda, para não perder os seus votos de direita e centro-direita. Mas é evidente que deseja os nossos votos.
Nós, que queremos que ele derrote Onyx, devemos força-lo a fazer isso? Claro que não! Devemos condicionar o nosso apoio a ele ao seu apoio a Lula? Também não! Ele é o nosso instrumento para derrotar o Onyx e não para eleger o Lula. A tarefa de eleger o Lula é nossa, mas agora podemos combiná-la com o voto “duplo L” ou “L-L” e tentar puxar para Lula o máximo de votos que Eduardo Leite teve no primeiro turno.
Ao definir o seu voto em Eduardo Leite, o PCdoB deve dizer que isso acontece porque, além de eleger Lula, é preciso derrotar o bolsonarismo no Rio Grande do Sul, e isso passa pelo voto em Eduardo Leite. Igualmente, precisamos deixar claras as nossas diferenças com ele e os seus limites, explicando que apesar disso votamos nele, em defesa da democracia ameaçada.
Daí a importância de publicizarmos a nossa opinião, para poder esclarecê-la bem e convencer os eleitores! Nada nos impede de sugerir alguns compromissos que entendemos que ele deveria assumir no segundo turno, para ampliar a sua votação e vencer as eleições.
À luta! A vitória será nossa!
* Raul Carrion é graduado em História pela UFRGS e pós-graduado pela FAPA, servidor concursado do Ministério Público Estadual-RS. Foi vereador em Porto Alegre e deputado estadual por dois mandatos, sempre pelo PCdoB. Durante os 21 anos da ditadura, participou intensamente da luta contra o regime, tendo sido perseguido, preso e torturado. Esteve exilado no Chile e na Argentina. Atualmente, Carrion é o Presidente da Fundação Maurício Grabois no Rio Grande do Sul.
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira