Rio Grande do Sul

Eleições 2022

Professor de Jornalismo da UFPel defende a credibilidade das pesquisas eleitorais

Segundo Fábio Souza da Cruz, movimentações de última hora dentro do eleitorado podem apresentar mudanças em resultados

Brasil de Fato | Porto Alegre |
O professor Fábio Souza da Cruz, da Universidade Federal de Pelotas, ministra a disciplina de Pesquisa e Opinião Pública - Reprodução

Algumas diferenças entre pesquisas de intenção de voto com relação aos resultados de domingo (2) chamaram a atenção dos eleitores e dos analistas.

A diferença mais notável foi a do presidenciável Jair Bolsonaro (PL): os resultados das urnas mostraram uma diferença de quase 10% em relação ao que se indicava nas pesquisas de intenção de voto. Da mesma forma, na disputa para o Senado no RS, Hamilton Mourão (Republicanos) venceu a disputa, surpreendendo o público que esperava uma vitória de Olívio Dutra (PT).

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Esses fatos levaram a diversos questionamentos. Assim que confirmado o resultado, o recém-eleito senador Mourão deu uma entrevista em que criticou os institutos de pesquisa, afirmando que esses precisavam rever seus métodos, além de citar pesquisas com "apenas 2 mil" entrevistas.

A reportagem do Brasil de Fato RS procurou o professor Fábio Souza da Cruz, docente do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), para conversar sobre o tema. Entre diversas matérias, Fábio ministra a disciplina de Pesquisa e Opinião Pública, voltada para os estudos das metodologias utilizadas nas pesquisas de opinião feitas com o público geral, entre as quais está inclusa a pesquisa de intenção de voto.

Para o professor, as diferenças notadas nesse primeiro turno de eleições correspondem a um movimento natural do eleitorado, e não podem ser creditadas à supostas falhas de metodologia dos institutos de pesquisa.

Credibilidade das pesquisas

O professor afirma que os níveis de confiança e a quantidade de entrevistas utilizadas nas pesquisas dão condições para atingir resultados bastante confiáveis.

"Para fazer um exame de sangue não é necessário retirar todo o sangue do corpo. Se retira apenas uma amostra. Com a pesquisa, a grosso modo, é da mesma forma. Não é necessário entrevistar todas as pessoas, temos métodos muito confiáveis", relaciona Fábio.

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O professor explica que a metodologia utilizada pelos principais institutos trabalha com a necessidade de uma amostra de cerca de 600 pessoas entrevistadas, em um universo de até 100 mil pessoas. As principais pesquisas divulgadas na reta final do primeiro turno de 2022 trabalhou com cerca de 2 mil entrevistas, o que daria uma margem de confiança para estas aferições.

"Por exemplo, uma pesquisa de 95% de confiança, com uma variação de 2% nos resultados, significa que essa pesquisa tem 95% de chances de representar o todo do universo pesquisado, é muito preciso", relata.

O professor faz a ressalva que sim, existem cuidados que precisam ser tomados sempre para que os resultados não tenham distorções inaceitáveis. Um dos exemplos, é a escolha dos locais onde é feita a coleta dos dados.

"Toda e qualquer pesquisa sempre pode ser aperfeiçoada, mas não foi o número de entrevistados que afetou o resultado final. Eu acho que isso se deve muito a votos de última hora."

Mudança de votos no dia da eleição

Para o professor Fábio Cruz, o principal fator que possa ter levado à algumas alterações de cenário é a mudança de voto de última hora. Ele dá um exemplo: na disputa para o Senado em 2014, entre Lasier Martins e Olívio Dutra, muitos votos do candidato Pedro Simon migraram para Lasier Martins, para tentar impedir a eleição de Olívio.

"Agora em 2022, Olívio aparecia em primeiro nas pesquisas. A Comandante Nádia saiu da disputa, muitos votos dela migraram para Mourão. Além disso, com a vantagem de Olívio, pode ter havido uma mudança de votos de Ana Amélia para Mourão", aponta.

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O professor acredita que esses movimentos entre eleitores possa ser uma explicação mais plausível do que a crença de uma insuficiência dos institutos.

"A mesma coisa pode ter acontecido em São Paulo. Muitos eleitores do PSDB que não querem o PT no governo do estado, podem ter migrado para o Tarcísio de última hora", afirma.

Ainda dá outro exemplo: Edegar Pretto figurou a campanha toda como terceiro colocado nas pesquisas. É possível que votos de outros candidatos menores tenham migrado para Onyx (que aparecia sempre em 2°), com a intenção de fortalecer uma candidatura que, até então, brigava para ir para o segundo turno.

"Eu acredito muito nas mudanças de voto de última hora. As pesquisas retrataram um cenário até o dia 1° de outubro. Da véspera até a eleição, muita coisa pode mudar. Principalmente, pois tínhamos um alto índice de pessoas indecisas."

Mudança de percentuais é natural

"Eu creio que esses institutos, que estão sendo 'acusados' por alguns setores, fazem um trabalho excelente", defende Fábio Cruz.

Para o professor, as metodologias de pesquisa sempre podem ser aperfeiçoadas, mas não acredita que as diferenças de resultados possam ter vindo de erros, e sim de movimentações naturais dentro do eleitorado.

"Tanto é que o Lula ficou dentro da margem de erro que as pesquisas acusavam. Na verdade, a diferença ficou no lado do Bolsonaro. Me parece que foi um movimento das pessoas que não queriam a vitória de Lula no 1° turno", declara.

Por fim, acredita que será um ponto interessante para as próximas pesquisas aferir para onde se movimentarão os votos dos candidatos que ficaram para trás no 1° turno, mais notadamente, os votos de Simone Tebet e Ciro Gomes.

"Para onde irão esses eleitores? Em que medida irão para Bolsonaro ou para Lula? Os apoios dos partidos, em que medida irão ajudar a captar os votos? São questões interessantes", finaliza o professor.


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Edição: Katia Marko