Rio Grande do Sul

ELEIÇÕES 2022

Último debate com candidatos ao governo do RS tem confronto quente entre Edegar, Leite e Ônix

Sempre chamado de “o governador que renunciou”, Eduardo Leite foi acossado por Edegar Pretto e Ônix Lorenzoni

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Debate na RBS TV reuniu oito dos dez candidatos ao governo do RS - Reprodução

O último debate do primeiro turno para governador do Rio Grande do Sul começou quente com trocas de acusações e palavras ríspidas entre os três candidatos melhor colocados nas sondagens de opinião. A pesquisa Ipec mais recente coloca Eduardo Leite (38%), Ônix Lorenzoni (25%) e Edegar Pretto (15%) nas primeiras posições. Assim, os três se revezaram nos ataques no encontro que reuniu oito concorrentes, na RBS TV, que começou às 22h30 de terça-feira e terminou à 1h15 de quarta.

Edegar centrou fogo em Ônix e Leite, lembrando que os dois “votaram em Bolsonaro e não se arrependeram”. Acossado por Ônix, que o acusou de não pagar a dívida com a União e de desviar para outros fins R$ 1,2 bilhão do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), Leite contra-atacou observando que assumiu o governo cheio de problemas e com uma crise fiscal.

“51 imóveis da família Bolsonaro”

Edegar ironizou a fala de Ônix quando o ex-ministro afirmou que pretende fazer no Rio Grande do Sul o que Bolsonaro fez no país. “É uma ameaça?”, questionou. Ônix replicou atacando os governos do PT, acusando-os de deixar “uma herança maldita”. O petista pisou nos calos do adversário, indagando se os 51 imóveis da família Bolsonaro, “metade dos quais comprados com dinheiro vivo”, também foram adquiridos com valores provenientes de Caixa 2. O candidato do PL retrucou com as condenações por corrupção e “o dinheiro transferido para países comunistas da América Latina e da África”.

Vieira da Cunha (PDT) juntou-se às críticas ao governo Leite, citando o estudo da Rede Penssan que apontou que em 14,1% dos domicílios gaúchos há gente passando fome. Acrescentou que outra pesquisa, esta da PUC/RS, encontrou 208 mil crianças com fome no Rio Grande. Edegar reforçou as críticas a Ônix classificando-o como “completamente ausente do estado mesmo ocupando cinco ministérios” do governo federal, batendo na tecla que o projeto de Ônix e Leite é “exatamente o mesmo”. E ilustrou: “tanto é assim que o “seu filho (Rodrigo Lorenzoni) foi secretário (de Turismo) do Eduardo Leite...”

“Não me mistura com oportunista”

Se Ônix se apresentou como aliado de Bolsonaro, Edegar enfatizou sempre sua condição de representante de Lula. Chamando sempre Leite “de ex-governador”, Ônix virou as baterias para o ele, acusando-o “de trancar as pessoas em casa” e destruir vidas e empregos.

Juntando-se à crítica, Edegar disse que Leite “ficou pintando mapinhas no palácio” – referindo-se aos mapas com diversas cores usados no período da pandemia para identificar a situação das diferentes regiões e abrir ou fechar o comércio – mas insistiu que Ônix e o ex-governador são iguais. Ônix não gostou.

“Não sou oportunista, não me misturo com oportunista”, reagiu. Afirmou que Leite “pegou dinheiro do Bolsonaro”, a quem se vinculou para se eleger e depois virou-lhe as costas.

“O quarto pior estado em evasão escolar”

No segundo bloco, com temas determinados por sorteio, Vieira da Cunha atacou a situação do ensino no estado. “O Rio Grande do Sul é o quarto pior estado do país em evasão escolar. É uma vergonha”, reclamou. Ele acha que o tratamento que Leite deu à questão é “irresponsável”.

Luís Carlos Heinze (PP) trouxe outro tema: o acordo controverso negociado pelo governo Leite com a União que comprometeria as já combalidas finanças gaúcha – a adesão do estado ao Regime de Recuperação Fiscal. “É impagável”, protestou, referindo-se à dívida.

No terceiro segmento, retornaram as questões com tema livremente escolhidos. Tratando de ensino, Heinze denunciou que 600 escolas estão depredadas e sem condições de funcionamento. Disse que vai cobrar as dívidas de todos os devedores do estado e vender 30 mil imóveis que pertencem ao governo.

“O segundo porto de mar do Rio Grande”

Vieira da Cunha avisou que não aceita vender o Banrisul. Para Ônix, o banco estadual “que não será vendido”, teria R$ 46 bilhões parados na sua tesouraria, montante que poderia ser empregado para melhorar a situação do estado.

Roberto Argenta (PSC) criticou o poder das finanças internacionais que transformaram o Brasil apenas em exportador de commodities. E sugeriu seguir o caminho escolhido pela China. Heinze trouxe à conversa seu projeto mais acalentado, a implantação do segundo porto marítimo do estado, o de Arroio do Sal, no litoral Norte.

Ônix deplorou a situação da saúde e assistência onde o IPE (Instituto de Previdência do Estado) possui R$ 1,2 bilhão em dívidas junto aos hospitais filantrópicos. Edegar respondeu que Leite “abandonou a maior honra de um gaúcho que é governar o seu estado”, acentuando, porém, que Bolsonaro cortou 60% dos recursos da Farmácia Popular. O concorrente do PL queixou-se do governo Dilma e da situação que a atual gestão recebeu o país. Na tréplica, ouviu que “o SUS resistiu ao teu governo porque é muito forte”.

“Cinco milhões de inadimplentes”

Vieira da Cunha disse a Vicente Bogo (PSB) que o “piso regional do salário” está congelado, “mais de cinco milhões de gaúchos estão inadimplentes” e que “o Rio Grande está involuindo”. Concordando, Bogo reparou que “existe fome até no meio da agricultura familiar”.

No quarto bloco, Bogo apontou que o Rio Grande, submetido ao Regime de Recuperação Fiscal assinado por Leite com a União, está amarrado a compromissos a ponto de não poder contratar servidores e apenas substituí-los.

Abordando a questão das minorias, Edegar observou que Bolsonaro é notabilizado pela rejeição das mulheres, dos negros, dos LGBTs. Ônix disse que seu governo, ao contrário do que diz a mídia, produziu grandes avanços para as minorias, mais do que o PT. E aproveitou para elogiar a primeira-dama Michele Bolsonaro e sua militância junto ao público feminino.

Leite reclamou de Ônix que, no ritmo atual a duplicação da rodovia ligando Porto Alegre a Pelotas, encargo da administração federal, vai demorar dez anos para ser concluída. Na réplica, o representante do PL sustentou que o governo gaúcho “recebeu mais de R$ 7 bilhões do governo Bolsonaro e por isso conseguiu pôr as contas em dia”.  

Leite contestou. “Foram R$ 2 bilhões”, disse. Também objetou as afirmações de Ônix quanto aos empregos que teriam sido perdidos no Rio Grande durante a pandemia. “Falso, falso”, respondeu, citando a agência Lupa, de checagem de fatos, dizendo que o número de empregos aumentou. 

Ricardo Jobim (Novo) declarou que o estado não tem dinheiro para realizações, que está “quebrado” e defendeu “a liberdade econômica” como a única solução.

Vieira da Cunha, em diálogo com Edegar, apontou que Leite aplicou apenas 10,4% do orçamento em saúde, segundo levantamento da Contadoria e Auditoria-Geral do Estado (Cage), o que considerou um absurdo.

Nas considerações, Ônix argumentou que “Bolsonaro cuidando das pessoas ajudou a recolocar o Brasil no bom caminho”, enfatizando seu lema “pátria, família, deus, liberdade”. Edegar reafirmou estar com Lula e ser o candidato para derrotar Leite e Ônix, afinados com Bolsonaro. Leite disse não se pendurar em candidato nacional algum, ignorando a candidata da sua coligação Simone Tebet (MDB).

Análise da atuação nas redes sociais

Segundo a coleta de dados das redes sociais, realizada das 21h de ontem até 9h45 de hoje, pela equipe do candidato Edegar Pretto, o perfil @EdegarPretto foi citado 7.000 vezes no Twitter, a hashtag #HoraDaVirada13 citada 2.100 vezes, Leite 1.300, Onix 627 e Vieira 340 vezes.

Aconteceram 8.700 interações com o perfil de Edegar, 4.500 com a hashtag #HoraDaVirada, 1.000 com Leite, 495 com Onix e 424 com o Vieira.


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Edição: Marcelo Ferreira