Em exibição até o dia 12 de dezembro no Ministério Público Federal (MPF), em Porto Alegre, a exposição "Lanceiros Negros: Uma história de luta contada pela arte" propõe uma reflexão sobre o conflito que vitimou mais de cem soldados negros durante a Guerra dos Farrapos. Idealizada por Márcio Pimenta, fotógrafo baiano radicado na capital gaúcha, a mostra traz 19 imagens de personalidades negras que vivem no Rio Grande do Sul para lembrar a força e a coragem dos escravizados que lutaram durante a mais longa guerra civil da história do Brasil.
"Queria homem, mulher, transgênero, novo, velho, do esporte, da política, anônimos, para não virar uma coisa de celebridades representando os lanceiros negros. Não, não se trata disso, por isso fiz questão de incluir anônimos", disse Pimenta em entrevista ao Brasil de Fato RS. Entre os nomes gaúchos convidados pelo fotógrafo para posar nos retratos estão: o procurador regional da República, Ângelo Ilha da Silva; a ginasta Daiane dos Santos; a primeira mulher a presidir o Tribunal de Justiça do Estado, Iris Helena Medeiros; o historiador e vereador de Porto Alegre Matheus Gomes e o senador Paulo Paim.
A exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 12h às 18h. Não há cobrança de ingresso. O Ministério Público Federal (MPF) fica na Rua Otávio Francisco Caruso da Rocha, nº 800, no bairro Praia de Belas.
A história não lembrada
Conhecida como Revolução Farroupilha, a mais longa guerra civil da história do país - travada durante 10 anos (1835-1845) - tornou-se o símbolo do orgulho gaúcho, sendo comemorada anualmente no dia 20 de setembro com desfiles em homenagem aos líderes do movimento, como Bento Gonçalves, David Canabarro e Giuseppe Garibaldi. De um lado, estava o governo imperial brasileiro. Do outro, estancieiros e charqueadores gaúchos insatisfeitos com os altos impostos cobrados sobre seus produtos. No entanto, há uma história que não costuma ser lembrada nessa data: a da participação de um grande número de escravizados que lutaram sob a promessa de liberdade durante a revolta.
:: Porongos, a traição aos negros farroupilhas ::
Acontece que muitos dos personagens celebrados nos dias de hoje eram da elite latifundiária e, sobretudo, escravocratas. No contexto da revolução, a população negra do Rio Grande do Sul era constituída por pessoas submetidas a esses grandes proprietários de terras. Com a necessidade de aumentar a infantaria, os escravizados foram convencidos a lutar ao lado dos farrapos e contra as tropas imperiais, dando origem à unidade militar chamada "Lanceiros Negros". Os negros, no entanto, não lutaram pelos ideais farroupilhas, mas pela chance de liberdade prometida pelos farrapos, caso fossem vitoriosos.
Com a derrota dos rebelados, o Império não aceitou a prometida libertação. E, com receio de uma possível rebelião por parte dos escravizados, os farrapos armaram uma emboscada que assassinou centenas de soldados negros. Conhecido como "Massacre de Porongos" ou "Traição dos Porongos", o conflito ocorreu na madrugada de 14 de novembro de 1844, no acampamento localizado no Cerro dos Porongos, no município de Pinheiro Machado. A não menção sobre esse confronto nos relatos oficiais resultou no apagamento da cultura afro-brasileira no estado ao longo do século.
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Edição: Katia Marko