Rio Grande do Sul

Coluna

Duas semanas eletrizantes

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"Esta coluna é uma homenagem dolorida à Débora Moraes, militante, da coordenação do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) Porto Alegre, moradora da Vila dos Herdeiros, Lomba do Pinheiro, assassinada esta semana, em mais um feminicídio" - Foto: Silvia Fernandes
Nestes tempos de muita luta e esperança, setembro de 2022, há também dias de muita tristeza e dor

Em homenagem à Débora Moraes, do MAB Porto Alegre            

Eleições não mudam o Brasil nem o mundo. Mas em determinados momentos da História podem ter papel histórico decisivo, em defesa da democracia e dos direitos de trabalhadoras e trabalhadores. É o caso da eleição de 2022, a eleição das nossas vidas.

Foi o caso também da eleição de 1986, a primeira realmente importante depois da ditadura, na esteira das Diretas-Já e elegendo os constituintes federais e estaduais, que construíram, com grande mobilização da sociedade civil, a Constituição Cidadã.

Foi o caso da eleição para prefeitos de 1988, a primeira realmente livre e acontecida no contexto da constituinte, com vitória do PT em São Paulo, Porto Alegre e Vitória, entre outros municípios. Foi a partir desta eleição, especialmente em Porto Alegre, que surgiu o Orçamento Participativo e a construção de políticas públicas com participação popular.

Outra eleição fundamental foi a de 1989 para presidente, juntando Lula e Brizola no segundo turno. Lula não foi vitorioso, mas tornou-se definitivamente uma liderança popular nacional, implantou o Governo Paralelo com a proposta de política de segurança alimentar e nutricional, de onde acontece a primeira Conferência Nacional de SAN e o CONSEA, Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.

A eleição presidencial de 2002 foi histórica, Lula presidente, varrendo o neoliberalismo e construindo um governo democrático-popular pela primeira vez na história brasileira, referência para a América Latina e o mundo.

Agora acontece a eleição de 2022, onde se enfrenta o neofascismo reinante, eleição para reconstruir políticas públicas com participação popular e garantir a democracia e a soberania brasileiras.

Hoje, quando escrevo, 16 de setembro, antes, portanto, do comício com presença de Lula em Porto Alegre, a possibilidade de a eleição presidencial decidir-se no primeiro turno é cada dia maior, segundo as pesquisas e o sentimento nas ruas. No caso do Rio Grande do Sul, o comício com Lula no Largo Glênio Peres, centro da capital gaúcha, pode ou deverá ser a faísca positiva a incendiar almas, corações e mentes, criando uma onda de emoção e militância na reta final da campanha no Rio Grande do Sul.

Um eventual segundo turno será muito difícil. Como disse Guilherme Boulos, “se existir segundo turno, não tenho dúvida de que teremos os 30 dias mais difíceis dos últimos anos no Brasil” (Blog da Cidadania, 13.09.2022). Ou, nas palavras de Fernando Horta, “o que significa vencer no 1º turno? Significa um final de ano em paz” (Brasil 247, 14.09.2022).

Nestes tempos de muita luta e esperança, setembro de 2022, há também dias de muita tristeza e dor. Com minha, certamente nossa, homenagem dolorida à Débora Moraes, militante, da coordenação do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) Porto Alegre, moradora da Vila dos Herdeiros, Lomba do Pinheiro, assassinada esta semana, em mais um feminicídio.

Meu poema, escrito em setembro de 1973, depois do golpe no Chile, é dedicado, em setembro de 2022, também à Débora: “ALLENDE VIVE! DÉBORA VIVE! Uma bala mata o homem, mata a mulher./ Uma bala não mata a ideia./ Os dias são muitos, incandescentes./ Ardem na poeira do tempo./ Nada como as horas que se sucedem,/ os minutos e segundos,/ as batidas do coração que abraçam milhões./ Sonhos são para serem sonhados./ Sonhos iluminam o horizonte./ Sonhos são eternos./ Há um tempo para cada coisa./ Há um tempo para a morte./ Há um tempo para a vida./ Latino-americanamente,/ caribenhamente,/ sobrevivemos./ Brasileiramente,/ vivemos e ressuscitamos Allende./ Na boa luta, vivemos e ressuscitamos Débora.”

Débora presente! Débora vive!

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko