Um dos fundadores do PDT no Rio Grande do Sul, João Batista de Melo Filho, 81 anos, analisa que, na campanha de Ciro Gomes, está havendo uma confusão sobre quem é inimigo e quem é adversário. “Nesta eleição temos adversários e inimigos. O Lula é um adversário fortíssimo. Já o Bolsonaro é um inimigo”, adverte. E prossegue: “As flechadas têm que ser dirigidas nesta proporção. O inimigo é para ser (politicamente) abatido”.
“Falta de senso de oportunidade”
Mais conhecido como Batista Filho, jornalista e radialista, ele foi presidente da Associação Riograndense de Imprensa (ARI). Atuou na Rede da Legalidade, montada por Leonel Brizola em 1961 e que irradiava sua programação dos porões do Palácio Piratini para resistir ao golpe militar e garantir a posse de João Goulart. Reconhece em Ciro “grandes virtudes” e muito preparo para ser presidente. “Mas tem também alguns momentos desfavoráveis de reação nos debates e também de senso de oportunidade”, desaprova.
Batista Filho não sabe se atribui o problema ao candidato ou a sua assessoria. “Ele, pela primeira vez, ouve mais a assessoria”, avalia.
Também militante da Rede da Legalidade, Carlos Bastos, 88 anos, detecta algum excesso do seu candidato. “Acho só que o Ciro exagerou nas críticas ao Lula”, pondera.
“Não quero nem ouvir falar em Ciro”
“Bagre” Fagundes é mais enfático ao tratar dos movimentos de Ciro Gomes. ”É de um ridículo atroz”, interpreta. “Ele foi tudo na vida: prefeito, governador, ministro e pode fazer o que quiser, mas eu não vou seguir esse tipo de orientação”, protesta.
Nascido Euclides Fagundes Filho, tornou-se getulista nos anos 1950, legado do pai admirador do caudilho gaúcho. Surgiu Brizola e “Bagre” virou, além de trabalhista, brizolista ferrenho. “Quando veio o golpe (de 1964) e puniram o Brizola, fiquei mais brizolista ainda porque sou, por formação familiar, contra atos de força que tiram o direito do povo de eleger seus governantes”, conta.
Cantor e compositor, amigo pessoal de Brizola, “Bagre”, apelido que o acompanha no cenário artístico regional, é um dos autores do Canto Alegretense, hino informal do Rio Grande do Sul. Até hoje não digeriu a reação de Ciro em 2018. “O que ele fez quando foi derrotado em 1º turno? Foi pra Europa! E naquela hora dramática da nacionalidade quando o Brasil precisava de todos os homens capazes – e ele é um homem capaz”, indigna-se. “Não quero nem ouvir falar em Ciro Gomes!”
“Vai haver um movimento centrífugo”
Carlos Alberto Kolecza, 80 anos, trabalhista desde a juventude, atuou nas campanhas de Brizola de 1989, 1994 e 1998. Jornalista, passou pela Última Hora, que defendia os governos populares de Brizola no Rio Grande do Sul e de João Goulart no Planalto. Observando que está distante da campanha de 2022, reconhece a qualificação do atual candidato do PDT, mas entende que Ciro sofrerá dificuldades com a polarização em curso. “Vai haver um movimento centrífugo em torno dele”, prevê. Em caso de 2º turno, acentua que só haverá uma opção para o PDT: votar em Lula.
“Não é uma opção (votar em Lula no 2º turno), mas uma obrigação”, ressalta Batista Filho. “Temos que estar no nosso campo, o da democracia e mais à esquerda, e no combate à desigualdade”, assinala.
“Se tiver segundo turno, o PDT estará com Lula”, resume Bastos.
“Barrar o projeto assassino e entreguista”
No Rio, um herdeiro do legado brizolista também se manifestou nas redes sociais. Dirigindo-se a todos os pedetistas, aos que “admiram e admiravam meu avô”, Leonel Brizola Neto acentuou a necessidade do voto útil. "Dada a situação gravíssima do momento, eu chamo para a unidade, para que tenham consciência e deem um voto útil ao Lula para que a gente possa barrar esse projeto assassino e entreguista do Bolsonaro, que está matando o povo de fome ou de tiro”, apelou o neto do ex-governador do Rio e do Rio Grande, hoje no PT.
“Vamos para a unidade e encerrarmos no primeiro turno para não dar chance alguma a esse vende-pátria, esse vendilhão da pátria, que é um perigo e que está destruindo o legado trabalhista de Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola”, opinou. “Vamos juntos derrotar o fascismo e a extrema-direita. É Lula no primeiro turno”, conclamou Brizola Neto.
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Edição: Marcelo Ferreira