A coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em Porto Alegre, Débora Moraes, foi vítima de feminicídio, nesta segunda-feira (12), em sua residência, na Vila dos Herdeiros, zona Leste da capital gaúcha. O assassinato foi cometido por seu marido, que foi preso em flagrante, segundo informa a 1ª Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Porto Alegre. Débora deixa uma filha de 6 anos. Há uns 8 anos, perdeu uma filha com 9 anos em um acidente de trânsito.
Conforme a delegada Fernanda Campos Hablich, o homem preso em flagrante será indiciado por feminicídio. "O inquérito policial foi instaurado hoje e as investigações estão sendo feitas. O atual marido da Débora foi preso em flagrante no local do crime, ontem. Após averiguações da Polícia Civil no local, trouxemos o suspeito para a Delegacia da Mulher, averiguamos depoimentos de testemunhas e do local e o autuamos em flagrante”, explica.
Em nota publicada nas redes sociais, o MAB Rio Grande do Sul denunciou o crime, manifestou repúdio ao assassinato da companheira de movimento e prestou solidariedade aos seus familiares e amigos. Disse repudiar “todo tipo de violência contra as mulheres que segue sendo naturalizada e apresentando índices assustadores no Brasil".
Destacou ainda sua trajetória de resistência junto à população de Porto Alegre, “incansável na luta pelos direitos dos atingidos pela barragem da Lomba do Sabão”, sempre à frente do diálogo com os vizinhos e moradores da comunidade. De acordo com o MAB, ela foi muito presente na primeira fase de reassentamento dos atingidos e na intermediação com os órgãos públicos responsáveis.
O Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Comdim) de Porto Alegre também emitiu nota manifestando “muita tristeza e indignação a notícia do assassinato”. “Débora é mais uma mulher que tem sua vida ceifada brutalmente pelo seu marido. BASTA! Não queremos perder mais nenhuma companheira para esse ódio sem limites."
O Levante Feminista Contra o Feminicídio RS manifestou “profunda indignação” e denunciou o assassinato cometido pelo marido de Débora Moraes. Ao solidarizar-se, disse que estará vigilante “para que a impunidade não marque mais este crime”. Também criticou o abandono das políticas públicas voltadas às mulheres vítimas de violência.
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“Exigimos políticas públicas de prevenção e atendimento a todas as mulheres em situação de violência e denunciamos os governos federal, estadual e municipal que viraram as costas para as mulheres, destruíram a rede de atendimento, e, desta forma, permitem que se alimente o ódio promovido pelo governo fascista de Bolsonaro, que deve ser derrotado”, afirma.
A deputada federal Maria do Rosário (PT/RS) também se manifestou em suas redes sociais, enviando solidariedade aos amigos e familiares de Débora e seus companheiros e companheiras do MAB. Exigiu “imediata responsabilização do assassino” que interrompeu sua vida “por uma crueldade que não pode ficar impune”.
A coordenação do MAB, amigos e familiares vão realizar um ato nesta quarta-feira (14), em memória de Débora Moraes, para cobrar justiça a ela e a tantas mulheres que são vítimas da violência e denunciará as condutas do atual presidente, que estimulam a violência. A concentração será às 15h, na Esquina Democrática, com caminhada até a Assembleia Legislativa, em Porto Alegre.
Feminicídios em alta no RS
O assassinato de Débora por seu marido soma-se a uma realidade de violências praticadas contra mulheres no estado. De acordo com o Observatório Estadual de Segurança Pública, da Secretaria de Segurança Pública (SSP), até agosto 75 mulheres foram vítimas de feminicídios no estado. Este é o maior número de casos de feminicídio de janeiro a agosto desde que a série passou a ser registrada, em 2012. A Lupa Feminista Contra o Feminicídio conta 76 feminicídios desde o início de 2022.
Em entrevista recente ao Brasil de Fato RS, a juíza corregedora da Coordenadoria Estadual das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça do RS, Taís Culau de Barrosa, chamou a atenção para o preocupante aumento dos feminicídios. Na sua avaliação, o estado necessita de investimentos nos mais diversos setores envolvidos com a questão.
“Por exemplo, falta de casas de acolhimento que poderiam receber essas mulheres e seus filhos, há falta de policiais nas delegacias especializadas e precisamos aumentar as equipes multidisciplinares envolvidas nos processos. Em algum momento há falhas na inserção da mulher na rede de proteção e sua não inclusão dificulta o combate à violência”, destacou a magistrada.
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Edição: Katia Marko