O coletivo de Gênero do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) realizou, no final do mês de julho, a Escola Regional de Formação de Mulheres no Centro Territorial de Cooperação e Educação Ambiental, em Seberi (RS). Cerca de 30 mulheres das bases do movimento nos estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul participaram das atividades.
A programação contemplou temas que partiram desde a análise de conjuntura, estratégia e poder popular, presença das mulheres na história social do campesinato, a questão étnico racial, produção de alimentos e agroecologia, plantas medicinais/medicina alternativa, saúde mental, auto cuidado e microrganismos eficientes, até atividades culturais e partilha de produção.
Alencássia Dal Bello, de Saltinho (SC), enalteceu a importância da atividade, especialmente para animar a retomada do coletivo no seu estado. “Para nós está sendo um recomeço depois de seis anos ausente do movimento. Foi de grande aprendizado, muitas contribuições importantes. Um despertar com muito aprendizado.”
Para a camponesa catarinense, um dos momentos mais marcantes da formação foi atividade voltada ao despertar do autocuidado. “Foi um momento de cada uma olhar para si, deu pra perceber o quanto a mulher precisa voltar esse olhar para si mesma, precisamos nos cuidar e refletir que precisamos nos movimentar, nos libertar.”
Ao final, o compromisso assumido: “Saio daqui animada para continuar, para compartilhar. Vai ter dificuldade, mas precisamos dar o primeiro passo. Buscar novas companheiras para estar contribuindo”.
Filomena Schelegel, de Bituruna (PR) afirmou que os dois dias de formação representaram “uma reenergização, uma reaproximação” para todas as participantes. A camponesa paranaense afirmou ainda que a vivência trouxe muito aprendizado, mas também reafirmou o “momento desafiador que nos horizonta para um novo caminhar nessa retomada, nesse recomeço dos trabalhos presenciais”.
Como momento marcante ela assinala o papel da análise de conjuntura, “que nos situou onde nós estamos e nos ajudou a aportar caminhos para onde queremos ir”. Citou ainda a importância da vivência da agroecologia, pelo que representa da “importância do nosso papel enquanto mulheres camponesas nesta tarefa e o quanto de amor empenhamos nela”.
Outro tema destacado por Filomena foi o papel das mulheres na histórica do campesinato e a abordagem étnica e racial: “É muito perturbador, desafiador, mas também libertador conhecer esses aspectos e desafiar a nossa mudança de atitude. O papel fundamental é a gente sair daqui levando mais perguntas do que respostas".
Vanderleia Nicolini Chittá, de Progresso (RS) reconheceu a importância dessa retomada das atividades presenciais. “A gente estava precisando desse momento, de reencontro, para reafirmar nosso papel enquanto camponesas que produzem e resistem no dia a dia. Resistimos ao desmonte das políticas públicas, aos direitos que nos foram tirados, a liberdade que nos foi reprimida. São direitos que conquistamos com muita luta, muita dificuldade, muita mobilização e que nos foram arrancados de forma violenta no último período, mas estamos aqui, firmes, para retomar o processo de organização, mobilização e luta para reconquistar o espaço e reconstruir as lutas”.
Léia assinalou ainda o simbolismo da produção agroecológica das mulheres, que não apenas colocam alimentos saudáveis na mesa de suas famílias, como estendem essa mesa até outras pessoas, compartilhando a sua produção para ajudar no enfrentamento da fome que voltou a assolar milhões de pessoas pelo Brasil afora. Para ela, uma palavra de ordem muito utilizada pelos movimentos sociais ligados ao campo resume o papel das mulheres neste momento: Sem feminismo não há agroecologia!
Viviane Chiarello, que atualmente exerce sua militância junto à Cooperativa que sediou a escola, considera que os objetivos foram alcançados: “Nosso principal objetivo foi a rearticulação das mulheres camponesas da base do MPA nos três estados do Sul, para virar a página desse período em que sofremos com o isolamento social e a fragilização do trabalho de base presencial”.
Afirmou ainda que o momento “serviu para renovar nossas energias, saímos daqui com mais força para seguir com as ações em nossos territórios, seguir mobilizando e trabalhando com as atividades do movimento, neste período que já está sendo de muitas lutas, enfrentando a fome, enfrentando todas as formas de violência praticadas contra as mulheres, buscando a retomada das soberania do nosso país e o protagonismo do povo”. O que vem a seguir? "De modo especial a jornada de soberania alimentar que se aproxima, devendo ser realizada no mês de outubro, bem como olhar com atenção para o período da eleição, buscando identificar as candidaturas do meio popular, que representem nossas causas e nossas pautas”.
Para saber mais
Durante a Escola Regional de Formação de Mulheres foi compartilhada a série de cartilhas desenvolvidas pelo Coletivo de Gênero do MPA, que estão disponíveis em formato impresso junto as secretarias nos estados ou em formato pdf no site do movimento. Acesse de forma direta nos seguintes links:
1) Território, corpo e violência
2) Questão agrária e a luta das mulheres
3) Diversidade camponesa e questão étnico-racial
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Edição: Marcelo Ferreira