Rio Grande do Sul

Coluna

A campanha de agosto do Apartheid Sionista contra a Palestina

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Fumaça e chamas se desprendem das áreas dos ataques aéreos israelenses sobre a Faixa de Gaza, em Khan Yunis, Gaza, em 05 de agosto de 2022 - Foto: Abed Zagout/Agência Anadolu
A rotina colonialista é o crime de quem ocupa e a resistência na defesa do território invadido

Aparentemente a campanha de agosto foi fruto da provocação das autoridades sionistas no emprego de maus tratos contra prisioneiros políticos pertencentes à força Jihad Islâmica Palestina (PIJ na sigla em inglês). A dimensão real é outra. A meta dos invasores europeus era a eliminação do maior número possível de lideranças experientes e legítimas deste setor da resistência. O alvo primário, o campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia Ocupada. O segundo alvo, os abrigos de segurança de líderes na Faixa de Gaza.

Em primeiro de agosto o inimigo invadiu o campo de refugiados de Jenin, assassinou um jovem de 17 anos e prendeu o sheikh Bassam AL-Saadi e seu genro Ashraf al-Jada, além de brutalizar sua esposa. Com esse mártir acima citado, até o momento de concluir esse artigo já eram 60 palestinos assassinadas, sendo que um terço destas mortes era de pessoas oriundas de Jenin.

A PIJ entrou em alerta através de sua força de defesa, as Brigadas Al Quds. Exigiu tratamento médico para um de seus líderes, Khalil Awawdeh (sob greve de fome a mais de 160 dias) e de imediato deu resposta aos ataques aéreos contra Gaza, iniciados ainda em 02 de agosto, de forma diversionista. A campanha de bombardeios intensos que veio na sequência durou três dias, matando 49 palestinos, incluindo 17 crianças.

Dentre os mortos estavam Taysir al-Jabari and Khaled Mansour, dois comandantes militares da Brigada Al Quds e lideranças incontestes. Além dos assassinatos, as forças coloniais também prenderam 19 militantes da PIJ na Cisjordânia Ocupada. Os atos infames foram além.

Destruir tudo é a meta do Apartheid 

A outra meta permanente do inimigo é destruir a infra-estrutura de Gaza. Segundo o vice-ministro do governo local para Obras Públicas e Habitação, Naji Sarhan

Dezoito unidades habitacionais foram totalmente destruídas, além de 71 unidades que ficaram severamente inabitáveis ​​e 1.675 unidades parcialmente danificadas. O esforço de reconstrução ainda está em andamento de casas danificadas durante ataques israelenses anteriores. Outros milhares ainda precisam ser reconstruídos.

Cerca de 2.200 unidades habitacionais que foram destruídas em ataques anteriores precisam ser substituídas, mas “não há financiamento disponível para sua reconstrução até o momento.

Danos a outras áreas da economia de Gaza por ataques israelenses, como os setores industrial, comercial e agrícola, também exigem reconstrução, no valor de aproximadamente US$ 875 milhões”

Embora não se trate de uma “novidade”, nunca deixamos de nos surpreender tanto com a crueldade do opressor como com a capacidade de reconstruir e seguir adiante por parte dos oprimidos. Parece clichê, mas é real.

Eleições sionistas e sangue palestino

Outra hipótese para os ataques de agosto é a velha tática sionista de trocar sangue palestino por votos. Em 1º de novembro os invasores vão às urnas, e provavelmente o ex-ator canastrão Yair Lapid será desafiado pelo ex-premiê e corrupto Benjamin Netanyahu. Lapid não tem experiência de combate e isso conta para carreiras políticas alimentadas por cadáveres de árabes, por mais que alguns traidores insistam “normalizar” com o Apartheid.

A máquina de propaganda da ocupação pode estar mirando em provocar instabilidade em nível regional, alegando o ataque contra a PIJ, mas podendo estar buscando uma situação  limite como em 2006, 2009, 2012 e 2014. O certo é que os crimes de guerra da ocupação são parte da rotina dos sionistas e não geram um abalo moral nem nada semelhante.

A entidade sionista sob risco real

A campanha de agosto de 2022 foi menos intensa do que a  de maio do ano anterior, mas veio a reforçar a incapacidade da entidade sionista de se proteger de ataques múltiplos vindos de todo o Bilad AL-Sham. Um dos argumentos que reforça essa percepção vem do major general (retirado) Yitzhak Brick fazendo uma análise bastante realista diante do desafio permanente da defesa sionista do espaço aéreo dos territórios ocupados em 1948.

“Uma nova guerra nos levará de volta a longos anos. As dificuldades pelas quais passamos nas guerras anteriores não serão nada em comparação com as consequências do confronto futuro.

Milhares de mísseis e foguetes seriam lançados diariamente nos territórios ocupados por Israel no caso de uma nova guerra e um grande número de veículos aéreos não tripulados sobrevoariam, destruindo tudo.”

“Dada a situação atual, não há como voltar atrás na próxima guerra e devemos fazer tudo o que pudermos para nos salvar. A próxima guerra causaria uma catástrofe condenatória e destruiria em grande parte a infraestrutura de Israel. Por que não deveríamos estabelecer um comitê de pesquisa antes de tal guerra para corrigir a situação e evitar uma catástrofe da qual é impossível escapar?”

O argumento do major general do Apartheid pode  parecer exagerado,  mas se retornamos alguns textos publicados por este analista no portal, veremos uma compreensão semelhante vinda do financiador estadunidense. A Operação Espada de Jerusalém teve uma média de 10% dos foguetes lançados pela resistência contra os invasores atingindo seus alvos. Logo, o “Domo de Ferro” tem partes frágeis e para reforçar o escudo anti-aéreo,  a administração Joe Biden se comprometeu com mais USD 1 bilhão e meio de dólares.

As forças militares dos invasores reconhecem que o volume da ofensiva aérea foi intenso. Porque segundo as “IDF” os palestinos dispararam mais de 1.100 foguetes contra Israel durante os combates, cerca de 380 dos quais foram interceptados pelo sistema de defesa anti-mísseis Iron Dome, com uma taxa de sucesso de 95-97%. Os militares estimaram que cerca de 200 projéteis não conseguiram passar pela fronteira e caíram dentro da Faixa.

A propaganda de guerra do inimigo parece que “desaprendeu” a fazer contas. Porque se 1100 foguetes foram lançados, 200  não teriam ultrapassado a Faixa de Gaza, 380 foram interceptados pelo escudo financiado pela dívida pública do Tesouro dos Estados Unidos, estamos falando de 520 foguetes chegando a algum alvo sensível.

Se considerarmos as capacidades de emprego de toda a resistência, incluindo o conjunto das forças palestinas, a resistência libanesa e as forças estacionadas na Síria, não é irrealista pensar nos termos do major general sionista citado acima. Evidente que o complexo industrial militar de Israel é de fato muito poderoso, além do apoio incondicional vindo dos EUA, Canadá e de países da União Europeia.

É possível que tamanha ameaça seja acompanhada da provocação do inimigo visando um conflito em larga escala.  Neste caso, a cobiça imperialista pode estar visando o espólio dos recursos marítimos do Líbano, afrontosamente ameaçados pela entidade sionista e seus patrocinadores. Ou então uma desestabilização ainda maior das regiões vizinhas aos Territórios Ocupados em 1948 e 1967.

É fato que a cada dia a solução “dois povos e dois Estados” fica cada vez mais distante e por mais que o inimigo importe população invasora e siga promovendo limpeza étnica, não há “equilíbrio” demográfico que dê conta de “povoar uma terra com população nativa lá residente”. Passado mais de um século de invasão européia na região e sem nenhuma perspectiva no curto prazo, a única certeza é de que a população originária e nativa vai resistir até a última pedra e sempre exigirá o direito de retorno dos refugiados. A rotina colonialista é o crime de quem ocupa e a resistência na defesa do território invadido.

* Este artigo foi originalmente publicado no portal Monitor do Oriente Médio

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** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira