Escritor, publicitário, jornalista, poeta, frasista e letrista, Carlos Castelo virou também dicionarista. Mas, ao contrário de seus iguais, seu dicionário não tem nada de convencional. É o Dicionaro, o dicionário de Bolso (Editora Urutau, agosto de 2022). Trata-se de uma galhofa. Castelo pesquisa a notável contribuição ao idioma pátrio e aos costumes políticos derivada da Era Bolsonaro.
Atento à nossa tragicomédia do dia a dia, o autor foi recolhendo as pérolas e escrevendo seu Dicionaro, que define a ditadura de 1964 desta maneira: “Teoria da conspiração, criada pelo marxismo cultural, para fazer com que algumas pequenas blitze promovidas pelas Forças Armadas sejam vistas como um período de exceção em nossa pátria”.
No verbete destinado a Adolf Hitler consta “Conhecido comunista alemão que disseminou as ideias de Marx e Engels”, enquanto Miliciano significa “a terceira pessoa da Santíssima Trindade sendo as outras duas o presidente e seu primogênito”.
Castelo ainda levantou os Dez Mandamentos Bolsominions. O quarto mandamento, por exemplo, ordena “Honrar Flávio, Eduardo, Carlos e Queiroz”. Já o seguinte é “Não matar à toa”, enquanto o sexto adverte para “Não pecar contra a irmandade do ‘Clube de Tiro’ de Floripa”, ao passo que o oitavo é “Só levantar falso testemunho ou fake news contra fariseus petralhas”.
É sua 16ª obra desde Aqui Jaz-O Livro dos Epitáfios, de 1996. De lá para cá, entre outros títulos, lançou Guia de Sobrevivência no Brasil (2003), Orações Insubordinadas (2007), Damas Turcas (2013) e Crônica por Quilo (2019).
Canções hilárias do Língua de Trapo
Nascido no Piauí como Carlos Antônio de Melo e Castelo Branco, abdica de usar toda a extensão de sua graça para não humilhar os simples mortais. Para os próximos é apenas “o Castelo”, colaborador do Brasil de Fato RS, do extinto Micuim e do muito vivo Grifo, mais o jornal Plural, de Curitiba, sem falar no Estadão e outros títulos menores.
Igualmente escreveu hilárias canções do grupo paulistano Língua de Trapo, entre as quais Os metaleiros também amam, que traz versos assim: “Ela deu pra andar com o seu dedo em riste/E me rasgou quatro poster do Judas Priest”. Ou Como é bom ser punk, onde lamenta “Como é bom ser punk/ Só uma coisa me dói/É esperar o apocalipse/ Tendo que ser office-boy”. Sem esquecer do samba-enredo de certa organização católica ultradireitista: “E hoje sou fascista na avenida, minha escola é a mais querida/Dos reaça nacional (repete)”.
O Dicionaro tem 96 páginas, formato 13x19 e está à venda nas boas casas do ramo.
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Edição: Marcelo Ferreira