Dois acontecimentos inéditos sacudiram a pré-campanha eleitoral do Rio Grande do Sul nos dias anteriores a este 5 de agosto, prazo final para definição de candidatos: a presença de PT e PSOL na mesma aliança e a primeira eleição do MDB fora da cabeça da chapa em 40 anos.
Nunca PT e PSOL haviam sido parceiros no estado. Verdade que, em 2020, ambos apoiaram Manuela D`Ávila (PCdoB) na disputa pela prefeitura de Porto Alegre, mas apenas no 2º turno. Já o MDB, após uma escolha cheia de escaramuças e contrariedades no interior da legenda, desistiu da candidatura própria, cedendo o protagonismo ao ex-governador Eduardo Leite (PSDB).
Empreitada difícil
Leite e o deputado estadual Edegar Pretto (PT) são dois dos dez nomes inscritos para brigar pelo governo gaúcho em 2 de outubro. É uma eleição pulverizada tanto à esquerda quanto à direita. Também estão no páreo candidaturas do PL, PP, PDT, PSB, PSC, Patriota, PSTU e Novo.
Pela esquerda, Pretto e o vereador Pedro Ruas (PSOL) partem juntos para uma empreitada difícil: desalojar o conservadorismo do Palácio Piratini. Desde 2015, as rédeas do Rio Grande estão nas mãos do MDB e do PSDB que levaram a cabo de desmonte do estado através de programa de privatizações de corte neoliberal.
O lançamento na última hora do ex-governador Olívio Dutra (PT) como candidato ao Senado também agitou militantes e simpatizantes. Olívio terá pela frente os dois favoritos até o momento: o general Hamilton Mourão (Republicanos), vice de Jair Bolsonaro, e a ex-senadora Ana Amélia Lemos (PSD). Atual senador, Lasier Martins (Podemos) deve desistir de obter novo mandato para ser candidato à Câmara dos Deputados.
Competição dura pelo Senado
Para o cientista político Paulo Peres, da UFRGS, a unificação da esquerda não agrega muitos votos. Acha que tudo dependerá do desempenho do próprio PT.
“O PT estadual terá que se vincular ao máximo possível com Lula e nacionalizar ao máximo possível a campanha”, sugere. “Essa será a única chance de voltar a ocupar a posição de segunda força partidária mais competitiva do RS e, quem sabe, chegar ao segundo turno”, acredita.
Peres acentua que, na batalha pelo Senado, pode ser diferente. Mas faz um reparo: “no caso do Senado, desde 1998, o PT sempre conseguiu uma vaga quando havia duas em disputa, em todas com Paulo Paim. Nas disputas com apenas uma vaga, jamais conseguiu o primeiro lugar”. Ressalta então que “sua candidatura é competitiva, mas se dará no contexto desfavorável da disputa de apenas uma vaga”.
Dois eleitores de Bolsonaro
Pela direita, o MDB que, nos últimos 40 anos, sempre concorreu como cabeça de chapa, agora se conformou com a vaga de vice, entregue ao deputado estadual Gabriel Souza.
As pesquisas mais recentes retratam uma corrida centrada no ex-governador e no ex-ministro Ônix Lorenzoni (PL). Ou seja, dois eleitores de Jair Bolsonaro em 2018. Aliás, o presidente tem, ao menos, dois candidatos de sua maior predileção na contenda. Além de Lorenzoni, o senador Luis Carlos Heinze (PP), que participa coligado ao PTB. Para ele, trata-se de uma escolha, conforme já disse, “difícil”.
Pretto aparece ora em terceiro ora em quarto lugar, ainda distante dos ponteiros.
“Embora a esquerda deva crescer e possa disputar uma vaga no segundo turno, a posição de Leite é relativamente confortável”, avalia o cientista político André Marenco, igualmente da UFRGS. O tucano, aliás, além do MDB, ganhou o apoio do PSD e do União Brasil.
Crítico da reeleição, Leite pode se reeleger
Também cientista política, Silvana Krause, da mesma universidade, entende que, embora em eleição nada se possa assegurar com muita antecipação, a dobradinha Leite-Souza é favorita e pode romper o tabu dos gaúchos nunca reelegerem seu governador.
Ela enfatiza que, tanto MDB quanto PSDB, conseguiram superar problemas internos antes do casamento. Outro trunfo que percebe está na “renovação dos quadros partidários”, referência à juventude de Leite e Souza.
“Se (Leite) disputar contra Pretto, terá os votos mais à direita; se for contra Lorenzoni, parte dos eleitores de esquerda votará nele, como em 2018”, reforça Marenco.
“É uma chapa com muita chance de vitória”, concorda Peres. “Quem sabe, pela primeira vez, teremos a reeleição de um governador”, cogita. E acrescenta: “justamente de um governador que, durante anos, disse que não seria candidato à reeleição, pois era contra a reeleição para cargos executivos”.
Troca de nomes no PSB
Além de Gabriel Souza e Pedro Ruas, quem também desistiu da cabeça de chapa foi Beto Albuquerque (PSB). Na verdade, desistiu de qualquer candidatura, segundo afiançou. Mas o PSB permanece na corrida.
A candidatura foi assumida pelo ex-vice-governador Vicente Bogo. Que, ao contrário de Beto, mostra-se mais receptivo à chapa Lula-Alckmin, adiantando que seguirá o rumo ditado pelo PSB nacional.
A prova de resistência rumo ao Palácio Piratini ainda inclui os candidatos Vieira da Cunha (PDT), Roberto Argenta (PSC), Rejane de Oliveira (PSTU), Ricardo Jobim (Novo) e Marco Della Nina (Patriota).
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Edição: Marcelo Ferreira