Ninguém escapa da política, querendo ou não. “Quem não gosta de política, está condenado a ser dirigido por aqueles que gostam”, alguém já falou muito tempo atrás. A frase tem quase 2.500 anos e é atribuída a Platão, filósofo grego que viveu entre 428-348 antes de Cristo. Dá para dizer, então, que a gente não tem o direito de fechar os olhos para a política. Agindo assim, alguém vai mandar na nossa vida e nem poderemos reclamar. Ou pior ainda: vamos apostar na “antipolítica” e nos “antipolíticos” e vermos o desastre que vai ser.
Há dois grandes problemas com a compreensão sobre o peso da política na vida de todo mundo: 1) confunde-se a política com a política partidária; 2) confunde-se política com a obrigação de votar de dois em dois anos. Um terceiro erro seria achar que não precisamos da política. A verdade é que todos nós fazemos política a todo momento. No fundo, a sociedade humana não existiria sem a política.
Sem política, a vida seria uma guerra
Se não houvesse a política para intermediar os conflitos, a vida em comunidade seria impossível. Viveríamos em guerra. Ela começa a partir do momento em que surgem os aldeamentos humanos. Não é por acaso que a palavra política deriva de “polis”, que é cidade em grego. Aliás, os antigos gregos são uma espécie de fundadores da política mais ou menos como a conhecemos hoje.
Então, a política não é propriedade daqueles que elegemos para nos representar – vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores e presidentes. Eles são nossos representantes políticos. Apenas isso. E temos o dever de cobrá-los sempre. Políticos somos todos.
Por exemplo, quando deixamos de comprar em certa loja porque tem uma política racista de contratação de pessoal, o nosso gesto é político. Estamos dizendo que rejeitamos o preconceito. E comprar na mesma loja apesar de sabermos do racismo, também é uma decisão política. Estamos dizendo que “Não importa”, revelando que não temos empatia nem compromisso com a mudança.
É possível até dizer que cada escolha que fazemos pode ser política. Organizar um mutirão para recolher lixo da praia ou deixar lixo na areia são escolhas políticas. São contrapostas e explicitam visões distintas da vida comunitária.
Usar máscara e vacinar-se para não ser contaminado pela covid-19 e para não contaminar os outros também é uma atitude política. Fazemos política quando escolhemos um jornal, uma rádio, uma TV, um site, um livro, um filme e, muitas vezes, até o time para o qual torcemos. As formas de participação são inumeráveis.
E, claro, é decididamente política a nossa presença (ou a nossa ausência) nos debates do condomínio, da escola, do trabalho, do clube, da associação de bairro, do movimento, do sindicato. Quando nos unimos para pedir uma melhoria no bairro – um reajuste, um serviço, um semáforo, um asfaltamento, um posto de saúde, melhor policiamento, uma linha de ônibus.
Como deu para ver, a política está entranhada no nosso cotidiano. Mesmo quando a pessoa diz que odeia a política está fazendo uma declaração política. Está, portanto, agindo politicamente. Não há escapatória. Deixar como está para ver como é que fica é uma solução muito ruim, ainda mais em um ano tão decisivo para o Brasil. E esta também é uma declaração política...
Direita ou esquerda, qual é o seu lado?
Com o debate político cada vez mais quente, a gente ouve falar muito em “direita” e “esquerda”. As duas palavras entraram com tudo nas nossas conversas. Mas de onde vieram?
A divisão entre “esquerda” e “direita” remonta há mais de dois séculos. Foi batizada assim na Revolução Francesa (1789) quando uma rebelião peitou a nobreza, derrubou a monarquia e implantou a República.
Os revolucionários tinham origem na alta e na baixa burguesia e nos trabalhadores da cidade e do campo. Durante uma assembleia para discutir os rumos da revolução, a alta burguesia, conservadora e mais próxima da aristocracia destronada, postou-se à direita da sala. Exigindo mais mudanças, a baixa burguesia e os trabalhadores ficaram à esquerda.
Desde então, quem se alinha à defesa do capital, da tradição, da propriedade privada intocável e dos aspectos mais questionáveis da moral e da religião é descrito como “de direita”. No polo oposto, quem atua em favor de uma sociedade mais igualitária, com melhor divisão da renda nacional, fortalecimento do Estado como indutor do desenvolvimento e acesso a melhores serviços de saúde, educação e assistência social é “de esquerda”.
Ao longo do tempo, esta divisão se tornou mais complexa com movimentos alinhados a um ou outro polo.
Surgiram correntes de pensamento situadas à direita como o liberalismo e à extrema-direita, casos do nazismo e do fascismo. O Brasil teve um partido de perfil fascista nos anos 1930 que foi a Ação Integralista Brasileira (AIB). Hoje, com outras particularidades e sem a organização da AIB, o bolsonarismo ocupa este lugar.
Em contraposição, a esquerda dividiu-se em socialista, comunista, anarquista, social-democrata, trabalhista e outros agrupamentos. Hoje, a maior corrente de esquerda ou centro-esquerda no país está identificada no PT e nos seus aliados.
Três tragédias provocadas pela antipolítica no Brasil
O presidente João Goulart foi deposto por um golpe militar. Apoiados por partidos de direita, os militares eram críticos da política brasileira, que consideravam corrupta. Entendiam que seriam mais capazes para administrar o país. Resultou em uma tirania de 21 anos que se valeu de censura, perseguições, prisões, tortura e assassinatos. Quando assumiram, a inflação – que criticavam – era de 80% ao ano. Quando partiram, era de 230%. Quando assumiram, a dívida externa era de US$ 3,3 bilhões. Quando partiram, era de US$ 105,1 bilhões. Aumentara 32 vezes.
As mesmas forças que deram o golpe de 1964 elegeram Fernando Collor presidente. Ele representava o setor mais atrasado das elites, mas foi vendido como a personificação da “nova política”. Era o “Caçador de Marajás” que limparia o Brasil, jogando no lixo a “velha política”. Confiscou a poupança e seu mandado só durou dois anos. Caiu em 1992 no bojo do processo de impeachment movido por denúncias de caixa 2 e deflagrado pelas acusações contra seu tesoureiro de campanha, P.C. Farias.
Após 28 anos de mandato como parlamentar folclórico e irrelevante que passara por nove partidos, Jair Bolsonaro chegou à presidência. Apesar disso, a exemplo de Collor, apresentou-se como novidade. Era o inimigo da política e dos políticos. Com fama de machista, racista, xenófobo e misógino, tem gestão desastrosa em todos os campos: economia, saúde, meio ambiente, educação, ciência, cultura, política externa, proteção social. Com ele, o Brasil continua vivendo a tragédia da pandemia, com mais de 675 mil mortes. E, com 33 milhões de pessoas sem ter o que comer, voltou ao mapa da fome.
Doze pitacos sobre política
A política é a arte do possível. Toda a vida é política.
(Cesare Pavese, escritor antifascista italiano)
Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem.
(Bertolt Brecht, dramaturgo comunista alemão)
Vivemos tempos sombrios, onde as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança.
(Hannah Arendt, filósofa alemã naturalizada norte-americana)
A política é uma guerra sem derramamento de sangue e a guerra uma política com derramamento de sangue.
(Mao-Tse-Tung, chefe da revolução chinesa)
A revolução é a harmonia da forma e da cor e tudo está e se move sob uma única lei: a vida. Ninguém se aparta de ninguém. Ninguém luta por si mesmo. Tudo é tudo e um.
(Frida Kahlo, pintora e revolucionária mexicana)
Não aceito mais as coisas que não posso mudar, estou mudando as coisas que não posso aceitar.
(Angela Davis, filósofa e liderança do movimento negro)
Existem dois tipos de político: os que lutam pela consolidação da distância entre governantes e governados e os que lutam pela superação dessa distância.”
(Antonio Gramsci, filósofo marxista italiano)
As ideias dominantes numa época nunca passaram das ideias da classe dominante.
(Karl Marx, filósofo alemão)
Ele (Jesus Cristo) foi o primeiro comunista. Repartiu o pão, repartiu os peixes e transformou a água em vinho.
(Fidel Castro, revolucionário e líder cubano)
Se você fica neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor.
(Desmond Tutu, arcebispo sul-africano)
Quem é feminista e não é de esquerda, carece de estratégia.Quem é de esquerda e não é feminista, carece de profundidade.
(Rosa Luxemburgo, filósofa e economista polaco-alemã)
Envolver-se na política é uma obrigação para o cristão. Nós, cristãos, não podemos nos fazer de Pilatos e lavar as mãos. Não podemos!
(Papa Francisco)
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato RS no seu Whatsapp ::
Edição: Katia Marko