É cada vez mais urgente o compromisso com a transformação radical das estruturas sociais
Os tempos são e andam perigosos em todos os sentidos.
Entrevista recente do climatologista Carlos Nobre, da Royal Society, tem como título: ´A AMAZÔNIA ESTÁ À BEIRA DO PRECIPÍCIO´ (Zero Hora, doc., 23-24/07/2022): “Alguns cientistas acham que o Sul e Sudeste da Amazônia já viraram (o ´ponto de não retorno´). Eu acho que a gente ainda pode salvar a Amazônia, mas temos que fazer muito para isso. Temos no máximo 20 anos para salvar a Amazônia.”
Um documento Especial de 84 páginas da Igreja Católica, de fevereiro de 1977, livro 3, tem como título ´Os Documentos da CNBB - IGREJA E GOVERNO`. Estão na sua capa os títulos dos capítulos e documentos dos anos 1970: “1. A tragédia dos índios. 2. A violência na Amazônia. 3. O drama dos posseiros. 4. A invasão das multinacionais. 5. Quem defende o homem” (Os Documentos da CNBB, Extra – Realidade Brasileira, livro 3, Ano I/fevereiro de 1977).
Os tempos melhoraram na Pan-Amazônia, com muita luta e organização popular. No final de novembro de 2010 aconteceu o V FOSPA, Fórum Social Pan-Amazônico, em Santarém, Pará. Escrevi então artigo com o título ´A Mítica Santarém´, “quando pisei pela primeira vez em Santarém, onde milhares de lideranças sociais, educadores populares da Amazônia latino-americana discutiram o futuro da Amazônia, do Brasil e da América Latina.
No final dos anos 1970, a oposição sindical de Santarém organizou-se em torno da Corrente Sindical dos Lavradores Unidos, que à luz do boletim informativo Lamparina dizia ´nossa Força é nossa União´, e com um hino que falava da importância da terra, da união, da esperança, do bem vencendo o mal e do movimento como fruto do trabalho de todos e todas unidas e unidos.” Isso tudo representava, então e ainda hoje, ´A Mítica Santarém´.
O X FOSPA, Fórum Social Pan-Amazônico, em Belém, no final de julho de 2022, proclama e anuncia: “AMAZÔNIA VIVE E RESISTE. Em sua 10ª edição, o Fórum Social Pan-Amazônico se realiza no mais emblemático momento da nossa história recente. Povos originários, comunidades tradicionais e habitantes do campo, das cidades e da floresta da Pan-Amazônia ecoam globalmente mais um grito de resistência. Denunciamos os avanços de grandes corporações e governos sobre povos e territórios, diante do mais temerário cenário apresentado pelos estudos a respeito dos impactos da crise climática nos próximos anos.
Neste contexto, o FOSPA chega ao clímax previsto desde sua criação, constituindo um espaço geopolítico onde a humanidade é chamada a decidir seu futuro, pelo fortalecimento do protagonismo das resistências históricas dos povos e comunidades tradicionais.
É cada vez mais urgente o compromisso com a transformação radical das estruturas sociais, sob pena de não conseguirmos rever ou evitar o ponto de não retorno que nos espera frente ao colapso. Para além de identificar os problemas e causas, é necessário pensar e produzir alternativas. Diante dessa urgência, o FOSPA nos aproxima e constitui o espaço ideal para articulação e discussão, promovendo o intercâmbio entre povos do campo, das cidades e das florestas dos diferentes países da Pan-Amazônia e da América Latina.
Hoje, julho de 2022, junto com ´A Mítica Santarém´ do final dos anos 1970 e início dos 1980, pode-se falar na ´Mítica Belém´, com um governo democrático-popular, com Orçamento Participativo, plantando e construindo políticas públicas com participação social e à base da educação popular de Paulo Freire.
Há urgência urgentíssima na defesa da Amazônia. Nas palavras de esperança de Carlos Nobre, “as gerações mais jovens, de 15 a 24 anos, têm uma visão menos materialista, de que salvar o planeta da emergência climática é essencial para o futuro deles. Vejo com otimismo a hora em que essa geração entrar no mercado de trabalho e na política. Eles terão muito mais poder daqui a 10 ou 20 anos e começarão a transformar o cenário rapidamente. Assim, poderemos atingir o Acordo de Paris e zerar as emissões até 2050, zerar o desmatamento. Sou otimista graças à geração mais jovem.”
A Mítica Santarém e a Mítica Belém trazem o esperançar aos corações e mentes. Na boa luta, A AMAZÔNIA VIVE E RESISTE! ´POR LA VIDA, DEFENDER LA AMAZONÍA!´
Acompanhe a cobertura do X FOSPA pela Asociación MINGA.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko