Hoje 19 de julho, a Revolução Popular Sandinista faz 43 anos. Uma revolução que derrubou uma ditadura familiar de 43 anos, desmantelou as estruturas políticas e militares da Nicarágua e tentou estabelecer novas instituições para promover a igualdade, justiça e democracia. Desde 2007, Daniel Ortega, um dos líderes da derrubada da ditadura somozista, voltou ao poder e aos poucos foi se transformando em um novo ditador. Junto com Rosario Murillo, sua esposa e vice-presidenta, e sua família, estabeleceu um governo muito parecido à ditadura familiar somozista.
Hoje nas prisões da Nicarágua, mais de 180 opositoras e opositores permanecem em condições desumanas e com condenas de até 15 anos. Uma delas, a comandante guerrilheira Dora María Téllez, icone da Revolução Popular Sandinista, permanece nas dependências de El Nuevo Chipote, um centro de torturas do governo Ortega-Murillo, apesar de ter sido condenada a oito anos de prisão num julgamento espúrio.
Dora María Téllez, 66 anos, é historiadora e analista política, Doutora Honoris Causa em Ciência Política pela Universidade de Helsinque e, em novembro próximo, a Universidade Sorbonne Nouvelle, na França, concederá outro Doutorado Honoris Causa por sua excepcional trajetória política e científica. Dora María é uma das principais figuras na luta pela democracia e justiça social na Nicarágua há mais de 40 anos.
Aos 20 anos, Dora María aderiu à luta guerrilheira da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) contra a ditadura somozista e participou da tomada do Palácio Nacional da Nicarágua, que levou à libertação dos presos políticos daquele período. Aos 23 anos, liderou a luta pela conquista de León, a primeira cidade livre do país. Durante o período revolucionário, foi vice-presidenta do Conselho de Estado, Deputada e ministra da Saúde, destacando-se pela transparência e eficiência da sua gestão. Na década de 1990, Dora María, como centenas de membros da militância sandinista da época, se viu forçada a sair da FSLN ao ver claramente o curso autoritário e caudilhista que Daniel Ortega tomou.
Em 1995, com Sergio Ramírez, escritor e ex-presidente, e outros companheiros que lutavam pela democracia, criou o Movimento de Renovação Sandinista (MRS), hoje transformado no Partido União Democrática Renovadora (UNAMOS). Em 2008, depois que Daniel Ortega voltou à presidência e invalidou o MRS como partido político, Dora María iniciou uma greve de fome para exigir o restabelecimento do partido e denunciar a corrupção e o início da ditadura de Daniel Ortega. Sua voz continuou a divulgar todas as violações das instituições do país até 13 de junho de 2021, dia de sua prisão violenta e arbitrária.
Desde então, Dora María é prisioneira política da ditadura de Ortega-Murillo e há mais de 400 dias sofre tortura ao permanecer isolada e incomunicável, sem alimentação suficiente, em uma cela permanentemente escura no pavilhão masculino, sem acesso ao sol e sem atendimento médico oportuno e especializado, o que tem causado, entre outros problemas, graves queimaduras nos braços devido ao uso de medicamentos inadequados.
Dora María sempre foi uma lutadora honesta e incansável pela Nicarágua, pelos direitos das mulheres, pela liberdade, pela justiça social e pela democracia. Além disso, ama a natureza, a leitura, seus amigos e amigas, as piadas e brincadeiras, e nunca, nem mesmo na prisão, perdeu o senso de humor, assim como sua fé, esperança e força.
* Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira