Rio Grande do Sul

Luta Social

Lançamento do Comitê Popular da Lomba do Pinheiro reúne mais de 300 pessoas

Evento na comunidade da Zona Leste de Porto Alegre teve momento de formação com João Pedro Stédile

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Bairro da Lomba do Pinheiro é foco de várias experiências de organização popular; Comitê Popular de Mobilização será um aglutinador das lutas - Reprodução

Os Comitês Populares são uma iniciativa das comunidades que está se espalhando pelo país, oferecendo acesso ao direto à mobilização a pessoas que nem sempre puderam fazer parte dela. Na última quarta-feira (6), foi inaugurado Comitê Popular da Lomba do Pinheiro, região periférica de Porto Alegre, em evento que reuniu mais de 300 pessoas no Ginásio da Paróquia Santa Clara, localizado na Parada 10 do bairro da Zona Leste da cidade.


A atividade de lançamento do Comitê Popular da Lomba do Pinheiro reuniu pessoas de diversas partes da cidade / Foto: Carolina Lima

Conforme o Brasil de Fato RS noticiou, o Comitê na Lomba do Pinheiro será uma estrutura para aglutinar diversas experiências de organização popular da região. A atividade teve uma mística de abertura, com a presença de referências religiosas de matriz africana, representantes de movimentos sociais e populares. Além disso, foram mostrados símbolos que identificam a luta das organizações que participam do Comitê: alimentos que representam as ações de solidariedade e faixas dos cursinhos e cozinhas solidárias que funcionam no bairro.


Representantes de diversas entidades sociais, políticas e religiosas estiveram presentes no lançamento do Comitê Popular de Mobilização da Lomba do Pinheiro / Foto: Carolina Lima

Segundo a organização do evento, estiveram presentes mais de 300 pessoas, além de diversos parlamentares e figuras políticas. Também marcaram presença representantes de outros comitês de mobilização semelhantes, que existem tanto na região da Lomba do Pinheiro, quanto de outras cidades da região.


Movimentos sociais estiveram representados na mística de abertura / Foto: Maiara Rauber (MST/RS)

Povo tem fome de cidadania também

A professora Tavama Nunes Santos é professora da rede municipal de ensino e uma das articuladoras do cursinho popular Kilomba, que ministra aulas gratuitas para estudantes que desejam ingressar nas universidades. Ela é moradora da Lomba do Pinheiro e esteve envolvida na coordenação da atividade de inauguração do Comitê Popular.

Na sua avaliação, a inauguração foi uma noite importante e também emocionante para os que participaram. "As forças vivas, progressistas e humanistas da nossa região se encontraram, agregaram vários serviços que o movimento popular comunitário presta pra comunidade, de uma forma consciente e crítica", afirmou.

Tavama ressaltou também o ecumenismo do encontro: escolas de samba, religiões africanas representações indígenas e associações de moradores estiveram presentes na noite.


Movimentos sociais e organizações de base da região da Lomba do Pinheiro marcaram presença / Foto: Maiara Rauber (MST/RS)

"Juntos, fazemos uma sinergia para minimizar o sofrimento do povo. A nossa fome não é só do alimento, que é a principal pois nos mantêm de pé. Mas o povo da periferia está faminto de educação, de oportunidades, de cultura, esporte, lazer e cidadania em geral", reafirmou.

Tavama disse considerar importante a união de diversos movimentos sociais para mudar a realidade social não das suas localidades, mas de todo o país. Segundo ela, a força social é fundamental na atual sociedade "cada vez mais homofóbica e racista, em que o próprio governo semeia a discórdia e o ódio".

"Esse grande evento foi um ato plural e humanista de promoção da vida e da cidadania, foi emocionante ver companheiros não só da Lomba, mas de toda a cidade", completou a professora

Tempos de crise exigem que o povo pegue a política nas mãos

Após a atividade simbólica inicial no lançamento do Comitê Popular, houve um momento cultural com apresentação musical. Depois ocorreu um momento de formação, com João Pedro Stédile, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que participou de forma virtual, ao vivo, tendo sua imagem e voz projetados na parede do ginásio.

Confira a transmissão do evento, realizado pela Rede Soberania. Logo abaixo, um resumo da fala de João Pedro Stédile. A fala de João Pedro começa nos 28 minutos do vídeo.

João Pedro Stédile começou sua fala ressaltando a importância da região da Lomba do Pinheiro para a historia do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra. Segundo afirmou, nas primeiras ocupações em busca de terra no RS, nos anos 80, na região de Sarandi, as comunidades franciscanas da Lomba foram solidárias, arrecadando roupas e alimentos para os acampamentos. "Essa solidariedade fortaleceu as ocupações que depois viriam a se tornar o nosso movimento, o MST", relatou

Falou que o Brasil vive a pior crise dos seus mais de 500 anos. "É uma crise estrutural, do modo de produção capitalista, que afeta toda a economia e traz consequências sociais, como o aumento do desemprego e da fome." Dessa forma, continuou, a consequência é que o povo brasileiro paga o preço dessa crise.


Para João Pedro Stédile (MST), o Brasil vive a pior crise de sua história, por isso, é hora do povo fazer política / Reprodução

Conforme Stédile, atualmente também vigora, em escala global, uma crise ambiental, devido às agressões que os capitalistas fazem à natureza, como o desmatamento e as queimadas. Isso é uma consequência de movimentos dos capitalistas, que, tentando se proteger, tentam se apossar de bens da natureza, que são de toda a população e não devem ter dono. "Esse movimento irresponsável acaba por gerar graves consequências, que são as mudanças climáticas."

Na sua avaliação, esse somatório de situações também traz como consequência uma crise política, apresentada na incapacidade dos governos enfrentarem a crise sistêmica para atender as necessidades da população. Nesse sentido afirma ser a política uma saída para essa situação complicada.

"Tempos do povo pegar em suas mãos a luta política"

A política, para Stédile, pode ajudar na construção de um novo projeto de país, que consiga resolver os problemas fundamentais da população, como emprego, moradia, educação, saúde, alimentação e o cuidado com a natureza. Dessa forma, saudou a construção do Comitê Popular, pois "não podemos ficar de braços cruzados, esperando as eleições de outubro".

"Isso é fundamental, os militantes, as pessoas engajadas na defesa do povo, temos a missão, nesse período histórico, de fazer uma campanha de massas. São tempos do povo pegar em suas mãos a luta política", afirmou.

Ressaltou também que a missão do Comitê deve ser voltar a fazer o trabalho de base nos territórios e criar força popular, apresentando alternativas para o momento difícil pelo qual passa o país.

"Não quero aqui pregar, mas compartilhar a experiência que tem sido feita em nível nacional, são milhares de comitês populares no Brasil, de diferentes características, mas todos com um mesmo programa: conversar com as pessoas, ir de casa em casa, explicar quem são os culpados da crise que vivemos", disse.

Também saudou as ações de solidariedade desenvolvidas pelas organizações da Lomba, que devem ser seguidas e ampliadas agora com a constituição do Comitê Popular.

"A solidariedade é um princípio de vida. É a base da política. A política tem que ser a busca pelo bem comum, para que todos tenham uma vida boa", finalizou.

Comitê Popular é fruto de uma longa caminhada

Selvino Heck, deputado estadual constituinte do RS, esteve presente no evento e reforçou que a Lomba do Pinheiro tem um histórico grande de organização popular. Ele ressaltou comunidades eclesiais de base, grupos de famílias, grupos de reflexão e núcleos de reflexão política, que sempre se envolveram em lutas em torno das questões da saúde, transporte público, regularização fundiária nas vilas e melhoria das condições de vida da população.


Região da Lomba do Pinheiro é berço de um longo processo de organização popular e lutas por melhorias de vida / Reprodução

Através da educação popular, baseado na pedagogia da "formação-ação" de Paulo Freire, Selvino recordou que toda essa trajetória de lutas desencadeia nas articulações atuais.

"Todas essas lutas por direitos aconteciam junto de processos de formação. Não havia formação sem ação e não havia ação sem formação. É um trabalho de longo prazo que, nos anos recentes, se consolidou no Conselho Popular da Lomba do Pinheiro. É um processo de luta que vai continuar, é um trabalho de base", afirmou em depoimento ao Brasil de Fato RS.

Por sua vez, Francisco Geovani de Sousa, um dos coordenadores do Conselho Popular, pontuou que essa articulação é essencial para enfrentar os desafios que hoje assolam a vida de centenas de famílias, que sofrem os descasos e precarização das políticas públicas. "Aglutinar forças de forma coletiva é criar possibilidades de reconstruir alternativas de um mundo melhor", afirmou.


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Edição: Marcelo Ferreira