Depois de dois anos de atividades restritas por conta da pandemia, a Feira Internacional do Cooperativismo e da Economia Solidária (Feicoop) retoma seu formato tradicional, 100% presencial, entre os dias 15 e 17 de julho, em Santa Maria, na região central do RS. Reafirmando o lema “Construindo a Sociedade do Bem Viver: Por Uma Ética Planetária”, o evento espera a participação de mais de 500 grupos de empreendedores sociais, experimentos de economia solidária, movimentos sociais e populares do Brasil e da América Latina. Protocolos de segurança sanitária seguirão sendo executados com total dedicação.
"Estamos em ritmo acelerado, com uma equipe muito boa trabalhando, colocando em prática uma nova forma de organizar a Feicoop, seguindo todas as orientações e protocolos, tudo da melhor forma para bem acolher a todos", explica José Carlos Peranconi, que está a frente da comissão organizadora. “É uma experiência desafiadora”, acrescenta o coordenador, relembrando que nos dois últimos anos o evento foi realizado de forma totalmente remota (2020) e híbrida com atividades presenciais reduzidas (2021). “Voltamos ao nível estadual, nacional e internacional, vamos realizar essa grande feira com todo ânimo e com perspectivas muito positivas.”
Legado do Fórum Social Mundial
Conforme destaca a carta convite, a Feicoop é um evento que congrega as forças vivas da Economia Solidária e Agricultura Familiar Camponesa, tecendo uma rede que se fortalece cada vez mais, com coragem, ousadia profética e o fortalecimento do trabalho das redes para o Bem Viver e a sustentabilidade do Planeta Terra. É uma Internacional de Economia Solidária: Uma Experiência Aprendente e Ensinante, que faz parte da metodologia do Fórum Social Mundial, e fortalece a construção de “Um Outro Mundo Possível” e de “Uma Outra Economia que Já Acontece”.
O grande grupo de voluntários e voluntárias que se congregam para colocar em prática a Feicoop são coordenados a partir da parceria entre o projeto Esperança/Cooesperança, Arquidiocese de Santa Maria, UFSM/PRE, IFFAR e Prefeitura Municipal de Santa Maria. Recebem ainda o apoio dos veículos de comunicação de Santa Maria e região, bem como dos consumidores e dos empreendimentos solidários.
Maurício Queiroz, da Ação Social Diocesana de Santa Cruz do Sul, conta com orgulho já ter participado de 21 edições da Feicoop, sempre procurando divulgar e articular grupos de projetos alternativos e comunitários. "A Feicoop significa aquela utopia necessária, que se coloca no horizonte e faz a gente caminhar, como muito bem nos ensinou o Eduardo Galeano”, exemplifica Queiroz. Para o militante, que entre outros trabalhos participa da feira defendendo a tradição das sementes crioulas, “ali acontece essa utopia que nos impulsiona, nos encoraja e alimenta o sonho de que é possível um mundo mais justo e solidário".
Ausência da Irmã Lourdes
Outro grande desafio para os organizadores da Feicoop é a ausência de Irmã lourdes Dill, recentemente transferida de Santa Maria para o Norte do país. A religiosa tornou-se, ao longo das últimas três décadas, a principal articuladora da economia solidária do RS e uma referência para o Brasil e América Latina. “Organizar a feira sem a presença da irmã Lourdes é um grande desafio, o que nos dá coragem são os ensinamentos que ela nos deixou e que agora temos de colocar em prática”, explica Peranconi. “Ela, mesmo estando tão longe na distância física, segue presente junto conosco”, arremata.
Essa presença simbólica assinalada pelo coordenador atual da Feicoop se traduz também em gestos práticos que vêm sendo desempenhados por Dill desde a diocese de Grajaú, no Maranhão, onde trabalha atualmente. “Estou acompanhando as atividades, espero ver daqui a presença de todos e todas fazendo acontecer a Feicoop e reafirmando a experiência profética que é realizada desde Santa Maria, renovando nossa voz quando citamos o provérbio africano que ensina que muita gente pequena em muitos lugares pequenos, fazendo coisas pequenas mudarão a face da Terra”, afirmou em recente contato telefônico com a redação do Brasil de Fato RS.
Dill está empenhada através de seus contatos pessoais e redes sociais em motivar a participação de todos na Feicoop, relembrando que assim como o evento, o projeto Esperança/Cooesperança é um legado que foi deixado pelo trabalho do saudoso bispo Dom Ivo Lorscheider e que precisa ser preservado e fortalecido.
Simbolismo de resistência
"A Feicoop é, por essência, um espaço da diversidade, seja de produtos, de projetos, de pessoas", aponta Sandra Squinzani Lopes, do Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ), organização não-governamental que tradicionalmente participa do evento. “Muitas ideias e práticas que fazem com que nos questionamos sempre o nosso jeito de consumir e despertam para a solidariedade, humanidade e respeito ao outro”, complementa. Para ela a Feicoop “é um lugar de muitas lutadoras e lutadores, pelo que adotamos chamar de um outro mundo é possível, e mais do que nunca necessário e urgente”.
A disputa das narrativas é outro aspecto presente a partir da Feicoop e neste ínterim a programação cultural sempre teve um forte viés inclusivo a partir do palco do evento. Antonio Gringo e Regina Wirtti Delagerisi, artistas que acompanham a história da feira, comentam sobre esse aspecto. “Nós temos uma memória desde a primeira edição, por tudo que representou, por todo entendimento que a Irmã Lourdes e demais organizadores sempre tiveram pela cultura”, aponta Gringo.
“Não conhecemos nenhum outro evento que tenha de forma tão intensa o mesmo viés, que é trazer a arte das comunidades, trazer as pessoas das periferias de todos os lugares, do Brasil e do Mundo, que passaram por esse palco, músicos, cantores, dançarinos, teatro... desde artistas de renome até os mais simples e singelos”, completa Regina.
Para ambos, que já chegaram a cantar até mesmo sob o abrigo de um guarda-chuvas segurado por Dom Ivo, o palco da Feicoop também é um espaço a ser defendido, um espaço de resistência sem par, justamente por ser tão democrático e tão aberto. “Se a arte não for um grande instrumento de transformação, então o que será?”, pergunta o casal de artistas.
Mobilização ativa
A última informação compartilhada pelo jornalista responsável pelas ações de divulgação da Feicoop, Maiquel Rosauro, davam conta de que os grupos de Economia Solidária e da Agricultura Familiar que atuam de forma voluntária já iniciaram a mobilização para o evento. No último sábado (2), no Centro de Referência de Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter, foi realizada reunião plenária para que todos ficassem a par dos preparativos.
Na edição deste ano está confirmado o Acampamento do Levante Popular da Juventude, na Escola José Otão. Nas salas de aula da instituição serão realizadas oficinas, enquanto no Parque da Medianeira serão instalados os lonões para os seminários. A programação será divulgada em breve.
Nos pavilhões do Centro de Referência de Economia Solidária estarão as bancas dos expositores, de diversos segmentos, como artesãos e agricultores. Além do Projeto Esperança/Cooesperança, a Feicoop tem como promotores a Prefeitura Municipal de Santa Maria, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e o Instituto Federal Farroupilha (IFFar).
Nos próximos dias será divulgada a programação de seminários, oficinas e atividades culturais, bem como os horários e orientações a respeito da comercialização da feira. As informações da Feicoop você acompanha pelo Brasil de Fato RS, pela Rede Soberania e também na própria fanpage da Feicoop.
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Edição: Marcelo Ferreira