O povo consciente e organizado, com mística e coragem profética, consegue garantir a democracia

Voltar a Brasília depois de anos é um desafio. Mas uma boa causa e a possibilidade de reencontrar antigas/os amigas/os, companheiras/os, ex-colegas de trabalho leva a colocar no estribo e viajar.

Acontece, de 23 a 27 de maio, o 6º ENAFOR, Encontro Nacional de Formação, da ENFOC, Escola Nacional de Formação, da CONTAG, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, na Praça Darcy Ribeiro da UNB, Universidade de Brasília, com cerca de 1.000 participantes de todo o Brasil, sendo 50% mulheres e 30% jovens entre os delegados.

O ENAFOR profetiza no seu tema-lema: Liberdade para Lutar, EducAção para Transformar. São tempos em que é preciso ter liberdade para lutar: sem ódio, sem intolerância, sem perseguições, sem preconceitos, sem assassinatos, sem retirada de direitos.

Na ditadura disfarçada, ou muitas vezes real, que o Brasil vive, às vezes parece não ter havido uma Constituinte com o resultado de uma Constituição Cidadã. Parece às vezes não ter havido, nas últimas décadas, com participação social e popular, a construção de muitas políticas públicas, que garantiram direitos, vida digna, democracia e soberania.

É tempo, pois, de proclamar em alto e bom som que é tempo de liberdade para lutar. E junto com Paulo Freire, é tempo de educAção para transformar.

O objetivo geral do ENAFOR é: “Construir estratégias de fortalecimento do trabalho de base, de defesa da educação libertadora e transformadora, de incidência no processo político eleitoral, visando a defesa do projeto popular de sociedade, sustentável, democrático, antirracista, igualitário, soberano, agroecológico, livre de violência, com fortalecimento da agricultura familiar e da garantia do direito à terra como território do Bem Viver.”

E tem como objetivos específicos: Fortalecer as lutas dos sujeitos do campo, da floresta e das águas; debater o atual contexto, destacando o avanço do fascismo e a importância do trabalho de base, fortalecendo a organização da classe trabalhadora; fortalecer as lutas contra o fascismo, o capacitismo, o racismo, a xenofobia, o machismo e LGBTQfobia e todas as formas de preconceitos; fortalecer as lutas dos sujeitos do campo, da floresta e das águas; propor a construção de políticas públicas de promoção do desenvolvimento rural e sustentável, agroecológico e solidário; compartilhar experiências formativas, organizativas e culturais de base, visando a multiplicação criativa de fazeres e saberes.

O 6º ENAFOR tem os seguintes Eixos Temáticos Articuladores: Fascismo, democracia participativa, eleições e Comitês Populares de Luta;  Violência estrutural e disputas de territórios; Educação popular, feminismos e novas masculinidades; Sustentabilidade política e trabalho de base; Reforma Agrária, Agricultura familiar e Agroecologia; Comunicação popular na era digital.

Na minha saudação inicial de abertura do ENAFOR em nome do CEAAL, Conselho Latino-americano e Caribenho de Educação Popular, cujo primeiro presidente foi Paulo Freire, e dos seus membros, entre os quais a RECID, Rede de Educação Cidadã, e o CAMP, Centro de Assessoria Multiprofissional, ressaltei dois elementos fundamentais na conjuntura, para concretizar o ´Liberdade para Lutar e o EducAção para Transformar´. 1. São tempos de juntar, freireanamente, a Pedagogia da Oprimida e do Oprimido, libertadora, com a Pedagogia da Indignação, a justa raiva, com a Pedagogia da Esperança, Esperançar. 2. Cinco palavras de histórico: DENÚNCIA, ANÚNCIO, PROFECIA, UTOPIA, SONHO.

Falou Eliane Martins, do MTD, Movimento de Trabalhadores por Direitos, e da Escola Nacional de Formação do PT, na Mesa Reforma Agrária, Agricultura familiar e Agroecologia, cinco palavras, atitudes e ações são essenciais hoje: fazer ouvir nossa voz e mensagem; aprender e descobrir; organização e unidade; trabalho de base; valores de igualdade, justiça e solidariedade.

Os poderes opressores, o grande capital, as mentiras das fake news não serão vitoriosos. O povo consciente e organizado sempre, com mística e coragem profética, consegue garantir a democracia, a soberania e a justiça social. O 6º ENAFOR mostrou isso à farta. Muitas mobilizações na rua acontecerão em 2022 e a Marcha das Margaridas em 2024. Na boa luta, ESPERANÇAR.     

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko