O professor de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alcides Miranda está preocupado com o estágio atual da covid -19 no país e entende que os governos deixaram de tomar muitas atitudes para controlar a doença e seu desenvolvimento. Para ele, apesar de se ter alcançado um certo controle da pandemia, ainda é necessário manter a prevenção recomendada no seu aparecimento: evitar aglomerações, usar máscaras em locais públicos e higienizar constantemente as mãos através de lavagens ou utilização de álcool em gel.
Miranda é especializado em Medicina de Família e Comunidade, mestre em Saúde Pública e doutor em Saúde Coletiva. Atua primordialmente no campo da Saúde Coletiva, em atividades de ensino, extensão, pesquisa e desenvolvimento tecnológico, com ênfase nos temas de Políticas, Planejamento, Gestão e Avaliação em Saúde. Atualmente é professor associado da UFRGS nos cursos de graduação e pós-graduação em Saúde Coletiva.
Nesta entrevista ao Brasil de Fato RS, ele detalha as suas recomendações e tece suas críticas sobre o rumo do combate à pandemia.
Brasil de Fato RS - O que acha que pode acontecer se entre 20 e 25% da população não se vacinar contra a covid-19?
Alcides Miranda - A cobertura vacinal de três quartos da população, evidentemente, deixa exposto um quarto de suscetíveis, principalmente com maior risco de letalidade - complicações clínicas e óbitos por covid - para os próprios. Inclusive, as taxas de letalidade e de mortalidade nos últimos meses têm sido bem maiores para esses suscetíveis. Possivelmente essa população de suscetíveis não vacinados tende a potencializar o desenvolvimento e circulação de novas cepas virais mutagênicas mais letais e transmissíveis. daí, então, os riscos implicam toda a população.
BdF RS - Fica para nós a ideia de que esta população não vacinada permanece como um depositário de vírus que vão se reproduzindo, multiplicando e tendo mutações. É correto isto?
Miranda - É difícil atribuir aos não vacinados o recente aumento de incidência por covid. O mais provável é que tal incremento se deva ao abandono de medidas protetivas, principalmente das máscaras no início da quadra invernosa. Como ocorreu antes, lamentavelmente, os governos se precipitaram nos termos de modulação e graduação de retorno às atividades cotidianas ditas "normais".
BdF RS - Pode explicar porque todos deveriam se vacinar, inclusive as crianças?
Miranda - A vacinação não pode ser imposta, todavia, medidas restritivas podem e deveriam ser imposta aos não vacinados. Tal iniciativa tem amparo constitucional, pois se trata de medidas para a proteção da Saúde Pública.
BdF RS - Quando o senhor entende que controlaremos esta pandemia?
Miranda - Provavelmente já não lidamos com uma pandemia, no sentido epidemiológico do termo, mas com surtos localizados, que requerem aprimoramento nas estratégias de monitoramento e intervenções mais localizadas. Todavia, se surgir uma nova mutação viral que sobreponha a imunidade vacinal alcançada, pode ocorrer nova pandemia. Daí, porque, não se pode relaxar ou subestimar os riscos implicados.
BdF RS - O que é preciso fazer para chegar lá?
Miranda - O que deveria ser feito para evitar ou atenuar os referidos riscos? O que os governos no Brasil não fizeram até o momento: investir em inteligência epidemiológica prospectiva, respeitar e implementar as medidas preconizadas pela comunidade científica.
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato RS no seu Whatsapp ::
PRECISAMOS DO SEU APOIO
O Brasil de Fato RS não cobra nenhum tipo de assinatura dos leitores, todas nossas informações são gratuitas. Por isso, precisamos do seu apoio para seguir na batalha das ideias.
CONTRIBUA através do PIX 55996384941 (celular), em nome do Instituto Cultural Padre Josimo.
A democratização da comunicação é fundamental para uma sociedade mais justa.
Edição: Marcelo Ferreira