Rio Grande do Sul

Violência Policial

Três semanas após agressão, Rai Duarte segue em estado grave e inquérito continua indefinido

Investigação da Corregedoria da BM para apontar responsabilidade pela saúde do torcedor ainda está em fase de instrução

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Torcedor do Brasil de Pelotas segue internado em estado grave; outros torcedores denunciam que ele teria sido vítima de tortura por policiais que realizaram a abordagem - Foto: Volmer Perez (GEB)

O torcedor do Brasil de Pelotas Rai Duarte segue internado em estado grave no Hospital Cristo Redentor em Porto Alegre. Rai veio à Capital no dia 1° de maio acompanhar seu clube, junto de excursão de torcedores, em jogo no Estádio Francisco Novelletto Neto (Passo d'Areia). Após a partida, conforme vem sendo investigado, o torcedor foi retirado de um dos ônibus da excursão, já depois do fim da partida, por policiais da Brigada MIlitar.

Testemunhas contam que, naquele momento, Rai deixou o ônibus caminhando, em bom estado. Conforme o relato de outros torcedores que também foram abordados pela polícia, teria sido praticada tortura física e psicológica, sendo Rai o principal alvo. Após a abordagem, ele precisou ser deixado pela polícia no referido Hospital, sendo constatado intestino rompido e hemorragia interna. Ele passou três cirurgias e, desde então, está sedado e inconsciente.

Conforme relata Saionara Borges à reportagem do Brasil de Fato RS, ainda no domingo (22), Rai teve uma hemorragia, quando foi encaminhado para uma nova cirurgia, com febre e pressão alta. Saionara é coordenadora do Grupo de Ação Social do conselho do Brasil de Pelotas e integra a comissão escolhida pela entidade para acompanhar o caso de Rai em Porto Alegre. Ela informa ainda que a família tem a informação de que os médicos acreditam na recuperação de Raí, apesar deste ainda estar em estado grave.

A família de Raí está arrecadando doações para arcar com os deslocamentos e hospedagens na Capital. O Pix pra doação é o CPF 550.289.420–72, no nome da mãe de Raí, Marta Moraes Cardoso.

Testemunhas ainda estão sendo ouvidas para instrução do inquérito

A reportagem do Brasil de Fato RS tentou novamente contatar o setor de assessoria de imprensa da BM, a fim de esclarecer em que ponto encontra-se o Inquérito Policial Militar (IPM) que apura as responsabilidades pelo estado de Rai. Assim como na primeira tentativa, não foi possível obter uma resposta.

O advogado Rafael Martinelli, acompanha o caso pela comissão que o Brasil de Pelotas designou, afirma que o inquérito está em fase de instrução, quando são colhidos testemunhos e provas que irão embasar a apuração dos fatos. Segundo ele, houve um avanço durante a semana passada, quando foram colhidos os depoimentos das 11 vítimas e de três testemunhas.

Ao todo, são 12 os torcedores identificados como tendo sofrido agressões. Contudo, devido a estar internado, o depomento de Rai ainda não pode ser colhido.

Segundo o advogado, todos os depoimentos prestados estão bem alinhados e indicam a prática de tortura por parte dos policiais. Inclusive, afirma que alguns dos policiais que teriam participado da ação já foram identificados.

"Acredito que a investigação agora já tem um corpo maior, para entender melhor a dinâmica dos fatos. Agora, os policiais todos deverão ser ouvidos", relata Rafael. Ele explica que o esforço, no momento, é colher o máximo possível de provas, como laudos dos torcedores indicando as lesões mais testemunhas oculares.

O inquérito tem o prazo de 40 dias para ser concluído, após a sua abertura, sendo possível a sua prorrogação por mais 20 dias.

Conselho Estadual de Direitos Humanos e MP tomam providências

A assessoria do Conselho Estadual de Direitos Humanos (CEDH) confirmou que está acompanhando o caso. No dia 6 de maio, o Conselho se reuniu com a Promotoria de Justiça e Controle Externo da Atividade Policial de Porto Alegre (GCEAP), órgão do Ministério Público do RS. Na ocasião, sentaram à mesa as referidas entidades, mais testemunhas do ocorrido e representantes do clube, além de outros. Após a reunião, as instituições presentes se comprometeram a atuar no sentido de esclarecer o caso e identificar os responsáveis.

A reportagem do Brasil de Fato RS entrou em contato com o GCEAP para saber em que ponto está o acompanhamento do inquérito. Foi informado que, por determinação do 1º Promotor de Justiça da Procuradoria de Justiça de Controle Externo da Atividade Policial, já foram ouvidas 15 testemunhas de torcedores e 12 policiais militares, ao todo, havendo ainda outras diligências pendentes.

Deputados estaduais acompanham a investigação

A reportagem também foi informada que alguns deputados estaduais estão acompanhando o caso e atuando no sentido de cobrar explicações. Conforme esclareceu a assessoria da deputada Luciana Genro (PSOL), o caso foi levado pelo seu mandato à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do RS, pedindo uma reunião em caráter de urgência com o comando da Brigada Militar (BM), que ficou marcada para o dia 11 de maio. Neste dia, o comandante da BM, coronel Cláudio dos Santos Feoli, não compareceu, tendo cancelado a ida na véspera. Nesse sentido, a assessoria da deputada relatou que, novamente, a Comissão solicitou a presença do coronel. Desta vez, a instituição respondeu formalmente que não iria comparecer.

Também acompanhando as investigações, a assessoria do deputado Luiz Henrique Viana (PSDB) informou que já foi feita uma reunião com o governador Ranolfo Vieira Júnior (PSDB), o comando e a Corregedoria-Geral da BM, cobrando para que o caso tenha andamento. Além disso, a assessoria relatou que acompanha a família, apesar de Rai ainda não poder receber visitas.


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Edição: Marcelo Ferreira