Rio Grande do Sul

Pandemia no RS

Aumento de casos de covid-19 entre o funcionalismo estadual gera preocupação na categoria

Trabalhadores e sindicatos afirmam haver uma crescente de casos confirmados e suspeitos; especialistas comentam

Brasil de Fato | Porto Alegre |
O Centro Administrativo Fernando Ferrari é um dos locais que mais tem gerado preocupação entre os servidores quanto ao risco de contrair covid-19 - Reprodução

O aumento do números de casos confirmados e suspeitos de covid-19 entre o funcionalismo público estadual do RS está gerando preocupação entre os trabalhadores e entidades de classe. Conforme denúncia que chegou até o Brasil de Fato RS, encaminhada por um servidor que pediu para não ser identificado, está aumentando, nas últimas semanas, a quantidade de trabalhadores com sintomas gripais e com confirmação de infecção.

Segundo o servidor, as medidas de segurança contra a contaminação da covid-19 vêm sendo afrouxadas desde o ano passado. Ainda conforme o relato, após o retorno presencial das atividades havia o fornecimento de máscaras e álcool em gel nos locais de trabalho, fato que mudou após o governo federal desobrigar o uso e fornecimento de máscaras em ambientes de trabalho fechado.

Recordou também que, em maio, foi enviado um memorando pela Secretaria de Saúde do RS (SES/RS) para as chefias de unidades e departamentos relatando que, a partir daquele momento, embasado na decisão do governo federal, não seriam mais fornecidos os equipamentos de proteção individual.

Em especial, o servidor demonstrou grande preocupação com o ambiente do Centro Administrativo do Estado do RS (Centro Administrativo Fernando Ferrari - CAFF), relatado como sendo um local com possíveis focos de contaminação, tanto nos elevadores, nos registros de ponto e outros locais de grande circulação e aglomeração.

A presidenta do Sindicato dos Servidores Públicos do RS (SindsepeRS), Diva Luciana da Costa, confirmou a preocupação com a situação das contaminações no CAFF e disse que o Sindicato vem recebendo relatos semelhantes, com grande quantidade de confirmações com testes positivos para a covid-19.

"Isto é reflexo da desobrigação do uso de máscara principalmente em ambientes fechados. Mesmo com esta realidade apresentada, nenhuma providência foi tomada pelos gestores, nem mesmo a volta da distribuição de equipamentos de proteção", afirmou Diva, recordando que o SindsepeRS já havia denunciado a decisão de desobrigar o uso do equipamento.

A dirigente sindical informa também que a entidade planeja oficiar o governo sobre as denúncias recebidas, solicitando a revisão do decreto e a retomada da obrigatoriedade da máscara, pelo menos, em locais fechados.

O que diz a Secretaria de Saúde (SES/RS)

Em contato com a Secretaria de Saúde, foi questionado sobre a existência de acompanhamento do aumento do número de casos entre o funcionalismo estadual e se a gestão estadual cogitaria a possibilidade de retomar a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados.

Em resposta, a SES/RS informou que o governo do estado "tem identificado aumento de casos em diversos estratos populacionais e, de igual forma, isso se reflete também entre servidores públicos". Sobre o acompanhamento do número de casos, disse apenas que "o estado tem acompanhado a situação por seus diversos comitês". Ainda, sobre o questionamento do uso de máscaras, respondeu que o estado "segue integralmente as orientações contidas nas normativas federais e estaduais sobre o tema, inclusive sobre o uso de máscaras".

Escolas da Capital e Interior registram aumento de casos

Na capital gaúcha pelo menos duas escolas da rede municipal de ensino suspenderam ou restringiram atividades devido à casos de covid-19. Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Monte Cristo as aulas foram suspensas por dois dias, a partir desta segunda-feira (16). Segundo informou a direção da escola, a suspensão foi motivada por um "grande número de professores afastados por problemas de saúde e inclusive por um número significativo de casos pela covid-19". Enquanto isso, na Escola José Loureiro da Silva foram suspensas algumas turmas, também devido ao aumento do número de casos confirmados entre a sexta-feira (13) e o domingo (15), além de funcionários e professores com sintomas gripais sérios.

A reportagem do BdFRS entrou em contato com a Secretaria Municipal de Educação (SMED), questionando se há o levantamento de casos ou mesmo uma estimativa da quantidade de casos confirmados/suspeitos na rede municipal. Até o fechamento da matéria, ainda não havia resposta.

Em Pelotas, na zona Sul do estado, o Instituto Estadual de Educação (IEE) Assis Brasil está com as atividades escolares suspensas desde a última quarta-feira (11), por razão de um surto de covid-19 entre os educadores. De acordo com o Cpers, até agora são 13 professores, duas merendeiras e uma monitora infectados. A escola ainda confirma a informação de alguns estudantes teriam, também, testado positivo.

“Os casos estão aumentando em função da flexibilização do uso da máscara, mas a escola sempre recomendou fortemente o uso da mesma, assim como a higienização e todos os demais cuidados”, explicou Margarete Hirdes Antunes, vice-diretora do turno da tarde do IEE Assis Brasil.

Especialista acredita que número real de casos pode ser ainda maior

Segundo a reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Lucia Pellanda, o aumento de casos provavelmente é bem maior do que se pensa, devido à subnotificação.

“Tem muita gente que não está testando mais e também tem os autotestes. Então nem chega a ser notificado. O que sabemos é que tem havido um aumento de casos que começou na semana passada e se refletiu nas internações”, explica.

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde a taxa de ocupação de leitos de UTI no estado está em 69,6%, sendo que o SUS está com 64,9% e o sistema privado 81,4%, totalizando 82 pacientes em todo o sistema. Lúcia, que também é professora de Epidemiologia, destaca que é o começo de uma nova onda e não se sabe o impacto que terá.

“Em outras vezes o impacto foi maior. Agora se imagina que o impacto vai ser menor em termos de internações e óbitos. Se a gente deixa a transmissão correndo solta, daqui a pouco pode se perder o controle de novo em termos de sobrecarga do sistema de saúde. Mas imagino que agora o risco de acontecer seja menor”, pondera.

Médico pediatra enfatiza que pandemia não acabou

O médico pediatra Alexandre Bublitz destaca que o aumento observado no RS, assim como em outros estados e outros países, é uma nova onda da variante Ômicron.

“Se percebeu esse aumento em quase todos os países que fizeram afrouxamento do uso de máscaras e de outras medidas. O que é algo esperado que fosse acontecer, quando a gente retira as medidas de segurança a tendência do número de casos é aumentar”, relata.  

Para Alexandre, entre os fatores que favorecem as subnotificações está o caso das pessoas que acreditam estarem com gripe, por exemplo, e que acabam não fazendo o teste. Dessa forma, muitos não se isolam da forma correta, continuando suas atividades normais de trabalho. O médico também ressalta que, no momento, apesar do aumento de casos, ainda não se observa movimentação igual nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTI). 

“Apesar de estarmos tendo um aumento geral do número total dos casos de covid, ainda não influenciou para termos um número expressivo de internados no nosso estado. Isso pode vir acontecer nas próximas semanas”, alerta o médico.

Segundo explica o pediatra, normalmente quando se tem um aumento do número total de casos, costuma demorar cerca de três a quatro semanas para se ter um aumento dos casos graves. Por fim, Alexandre acredita que estamos vivendo um momento de maior controle da doença, porém, enfatiza, que a pandemia ainda não acabou. “Continuamos tendo alto número de casos no mundo todo e continuamos tendo óbitos todos os dias”, reforça.


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Edição: Katia Marko