Rio Grande do Sul

Violência de Gênero

Ato contra a transfobia no Shopping João Pessoa em Porto Alegre declara apoio à professora

Helena Meireles foi impedida de usar banheiro feminino; carta será entregue à administração do shopping nesta terça (10)

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Ato realizado na frente do Shopping João Pessoa repudiou a transfobia sofrida pela professora Helena Meirelles e prestou solidariedade à ofendida - Reprodução

O caso de transfobia sofrido pela professora Helena Meireles no Shopping João Pessoa, em Porto Alegre, foi repudiado em ato público realizado em frente ao estabelecimento, na tarde desta segunda-feira (9). Conforme noticiou o Brasil de Fato RS, a professora, que é uma mulher trans e negra, foi abordada por um segurança já dentro do banheiro feminino do local.

Na ocasião, a professora relata que, já dentro da intimidade da cabine, ouviu um homem bater na porta e chamá-la por "mestre", requisitando sua saída do banheiro. Além de repudiar o ocorrido, o ato em frente ao shopping buscou também prestar solidariedade à professora.

"Meu sentimento em relação ao ato é de um conforto, me senti acolhida pelas pessoas que lá estavam", relatou Helena.

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A professora disse ainda que este sentimento de acolhida é carregado com um pouco de tristeza, pois sempre vem após atos de violência que a população trans é vítima cotidianamente, principalmente em relação à utilização de banheiros. Ainda em depoimento à reportagem, ela explicou que a mobilização busca cumprir uma função educativa e pedagógica.

"Eu primo por isso, por todo o meu compromisso com a minha profissão, eu sou uma arte-educadora. Então, eu tinha a preocupação que esse ato tivesse um propósito educativo, que gerasse reflexão e que eu pudesse ter o lugar de fala", explicou.

Entre as pessoas, entidades, movimentos, coletivos, Helena citou a presença da vereadora Daiana Santos e Bruna Rodrigues (ambas do PCdoB), a direção do Sindicato dos Municipários (Simpa) representada pela professora Luciane Congo, o Coletivo Nuances, o grupo G8 da UFRGS, o Coletivo Quilombelas, a União Brasileira de Mulheres (UBM), o Coletivo Mães Pretas, além de outros colegas da rede municipal de ensino da Capital.

Retorno ao shopping deve marcar entrega de carta

A professora Helena informou que vai retornar ao Shopping, ainda na tarde desta terça-feira (10), para entregar uma carta à administração do estabelecimento. No documento vão constar reflexões sobre a violência sofrida.

Além disso, serão propostas formas da instituição se repensar e se tornar sensível às causas da raça, gênero e das diferentes humanidades.

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Conforme nos informou a advogada Tábata Silveira, que está acompanhando Helena, foi feito contato com a administração do Shopping João Pessoa, antes do ato, para combinar a entrega da carta ainda na segunda-feira (9). Foi respondido que a carta deveria ser enviada por e-mail, no que a advogada insistiu para que a entrega fosse feita pessoalmente, o que não foi possível, visto que já passava das 18h.

Tábata lamentou o ocorrido, pois relatou ter avisado que havia a vontade de entregar a carta pessoalmente, após a realização do ato. Dessa forma, ficou agendada a entrega da carta para a administração na tarde desta terça.

Professora não se sente mais tranquila para ir sozinha ao local

De acordo com a professora Helena, durante a realização do ato ela se sentiu acolhida, por estar acompanhada do coletivo de pessoas que a apoiavam. Porém, antes do ato, teve outras oportunidades para ir até o local, o que não fez por não se sentir segura.

"Aquele shopping tem uma história na minha vida, dentro do meu processo de transição, até me tornar Helena. Não sei se vou conseguir retornar sozinha, como tantas outras vezes, para ir em lugares que eu gostava, como o cinema, por exemplo. Essa é uma realidade das violências que as pessoas trans passam em lugares que não foram pensados para elas", contou.

Nesse sentido, relata que a população trans acaba por sofrer uma dupla violência: além dos atos em si, a violação de direitos acaba por decorrer em outras restrições e traumas nos períodos seguintes.

"Pessoas trans sofrem pela falta de apoio. Ontem eu me senti acolhida, me senti forte, por ter pessoas, entidades, coletivos, representações políticas muito importantes para a minha comunidade, para a comunidade negra e LGBTQIA+. Todos eles e elas estavam ao meu lado ali", disse.


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Edição: Marcelo Ferreira