Mais Exu e Menos Capelania na Escola. Exu vai vencer. Ela tem liberdade! Ela sabe brincar!
Exu abre caminhos. É homem, é mulher. É não-binária? Acho que não. Travesti só incorpora Pombagira. É Pombagira. Faz a gira e traz o movimento.
Exu abre caminhos. Não promete, não pergunta. É enigmática. Vive a pluralidade.
Subversiva. Adora álcool e fuma. Fuma muito. Bebe, gira e não cai. Poderosa com a sua risada.
Exu tiriri, exu veludo, pomba gira cigana, exu caveira, exu tranca rua, maria navalha, maria padilha, exu marabo.
Apoiei a criação de leis que fazem homenagem a elas.
Não pergunta, eu te falo! Orixá mensageiro do seu orixá. Orixá das encruzilhadas. Treme as pernas. Mexe com as vontades. Se retorce. Quer incorporar? Grande Rio a fez campeã: é ano de Oxum, do amor, da virada, das mulheres. É povo da rua! Precisamos da rua! Precisamos estar nas ruas!
Capa, cartola, bengala, chapéu, vestidos que brilham e com armação, exuberância – Exu!
Demônio! Quem? Você, fanático! Você quer “Escola do Pensamento Único”, agora sabemos o que significa “Escola Sem Partido”. Hoje tirou o grêmio estudantil da escola. Ontem colocou a foto de uma criança de 2 anos nas redes de ódio para me atacar como ativista - porque não defende todas as vidas, despreza as mulheres e as crianças, especialmente, as negras e as que se colocam na vida pública, fora da sua roda. Não gira, não roda, não entende que é dentro e fora. Escola que forma fascistas, vereador fascista faz palestra, e que filma professoras com captação de áudio na sala de professoras. Mãe que não pode falar? É expulsa de CPM da escola por não concordar? Minha escola, resiste! Que coincidência. Eles querem silenciar. Exu neles! Eles têm medo do que somos capazes de fazer. Não tinham o que falar e disseram que a Pombagira Paolla não tinha samba no pé na campeã do carnaval da Sapucaí. Hahahahahahaha.
Veja que lindo o Ponto de Malandra Maria Navalha de terreiro – “Não Mexa com Ela que ela nunca anda só. Carrega sete navalhas. Em malandro ela dá nó. Seu nome é Maria Navalha”
Exu grita. Exu fala. Exu berra. Exu sabe dançar e gira sem parar. E sabe falar baixinho, quando não se pode gritar, e fala, encontra o momento, o espaço de fala. Poder!
Alguns de sapato e outros de pé no chão. Tiram a meia mesmo no frio do inverno da Tristeza. Exu é fogo. Exu é travesti.
Mais Exu e Menos Capelania na Escola. Exu vai vencer. Ela tem liberdade! Ela sabe brincar, descomplicar. Abre e fecha caminhos. Entre o físico e o espiritual. Yorubá. Exu é vítima de racismo e por isso demonizada. Ela nos ensina o que é racismo estrutural. Exu é circular.
Cantou a Elza Soares: “Exu no recreio. Não é Xou da Xuxa. Exu brasileiro. Exu nas escolas. Exu nigeriano. Exu nas escolas. E a prova do ano. É tomar de volta a alcunha roubada. De um deus iorubano”
É o fim da censura e do silenciamento! Ebó!
Exu nas escolas! Liberdade para professoras, mães, estudantes. Direito das nossas filhas, filhos e filhes de aprenderem em um contexto democrático e emancipatório! Resistência! A paz não é a ausência de conflito. A paz é um chão cheio de pipocas distribuídas por uma criança que aprende a girar! Sonhe! Ousadia! Rebeldia! Axé! Por mais Exus do amanhã!
Apresento o ponto da Pomba Gira Cigana da minha infância no terreiro de umbanda que eu frequentava com a minha vó e mãe Lia no bairro Jardim Botânico em Porto Alegre.
Vinha caminhando a pé, para ver se encontrava a minha cigana de fé.
Vinha caminhando a pé, para ver se encontrava a minha cigana de fé.
Ela parou e leu minha mão. (Exu)
Me disse a pura verdade. E eu só queria saber, aonde mora Pomba Gira Cigana,
só queria saber, aonde mora Pomba Gira Cigana.
Vinha caminhando a pé, para ver se encontrava a minha cigana de fé.
Vinha caminhando a pé, para ver se encontrava a minha cigana de fé.
(Laroyê Exu)
Ela vinha com a sua gaitada.
Eu coloca a mão no peito e regalava os olhos.
Vai nascer o Inácio, o filho do fogo.
Pombagira é mulher!
Revolução! Libertação!
O futuro já é matriarcal!
* Aline Kerber – feminista, ativista, socióloga e professora, mãe pela democracia do Gui e do Theo
** Este texto foi escrito durante a Oficina de escrita e escuta feminiSta que propõe mariam pessah.
*** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko