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CIDADANIA

Pochmann defende a criação de ministério para a economia solidária

No Fórum Social das Resistências, economista diz que economia solidária deixa de ser reação e ganha novo lugar no país

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Márcio Pochmann foi um dos debatedores do tema “Economia Solidária, outro modo de viver é possível”, no auditório da Fetrafi-RS, em Porto Alegre - Foto: George Careça/Unisol

O economista e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) Márcio Pochmann defendeu a implantação de um ministério para o segmento da economia solidária. Ele foi um dos debatedores do tema “Economia Solidária, outro modo de viver é possível”, no auditório da Fetrafi-RS, em Porto Alegre, dentro da programação do Fórum Social das Resistências.

“Temos oportunidades diante da mudança tecnológica. Não vai acabar o capitalismo, precisamos ter um Ministério da Economia Solidária. Podemos fazer economia de trocas com base moeda social, remunerar o trabalho de casa, pode ter crédito pessoal”, exemplificou.

A economia a serviço de uma vida melhor

Pochmann alertou que, desde 2014, existe uma subutilização do trabalho e que, no seu entendimento, “a economia solidária ganha um novo lugar e que não é só uma reação, um pronto-socorro, uma vez que o capitalismo não tem respostas, a não ser para os seus”.

Defendeu que a economia seja um meio “para estar a serviço de uma vida melhor”. Acrescentou que, na economia solidária, a política reorganiza a vida, permitindo combinar o modo de sobrevivência a partir do trabalho.

Assim - prosseguiu - a economia solidária se apresenta como uma oportunidade de trabalho, com uma visão política da sociedade, evidenciando que não devemos atuar de forma fragmentada.

Segundo Pochmann, desde 1990 não aumenta a taxa de assalariamento. O emprego ainda existe, mas vem sendo atacado, sobretudo com a reforma trabalhista, em 2017, que reduziu direitos e precarizou o trabalho.

“Oportunidade de fazer história”

Assinalou que “o dinamismo do capitalismo brasileiro é o menor de todos”. Na sua opinião “estamos no pior momento, parece que não há saída”. Por isso, entende, é necessário saber onde estão sendo geradas ocupações. “Estamos na era da digitalização da sociedade. Essa nova fase está abrindo novas formas de trabalho e de produção, com a ausência das políticas públicas”, analisou.

Lembrou que, com a internet, o grau de exploração é muito maior. “As pessoas não desconectam do trabalho quando saem do espaço de trabalho. É possível trabalhar em outros lugares e em casa. A pauta do mundo do trabalho não é só de quem trabalha fora de casa, mas de dentro de casa. A extensão intensificou o trabalho e a exploração do trabalho”, disse.

Ressaltou ainda a importância da atual década para o Brasil. Avaliou que é “uma década chave” e “uma oportunidade histórica ímpar de fazer história nos próximos 50 anos (...)”

“12 milhões de pessoas”

Secretária geral da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários/RS (Unisol-RS), Nelsa Fabian Nespolo reparou que, hoje, no país, “somos mais de 12 milhões de pessoas que escolheram viver essa forma de vida e que isso não é pouca coisa”.

Após lembrar que é oriunda do trabalho em um lixão de Uruguaiana, a catadora Maria Tugira destacou a importância das parcerias que contribuíram na conquista da sua cooperativa.

“A economia solidária sempre vai estar ao lado da esperança, da vida e não da morte e do desprezo pela classe trabalhadora”, disse Suziane Gutbier, representante do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES). Notou que, nos últimos tempos, por falta de recursos e apoio, houve uma desarticulação do FBES mas que, atualmente, está ocorrendo a retomada das plenárias temáticas, municipais e estaduais.

“É necessário ir além da carteira assinada”

O presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Amarildo Cenci, adiantou que, caso Lula seja eleito, a central lutará para incluir a pauta da economia solidária no governo.

“Nós, da CUT, aprendemos muito com o pessoal da economia solidária e o desafio da pandemia mostrou para o movimento sindical que é necessário ir além das pautas da carteira assinada e dos direitos dos trabalhadores”, afirmou.

Reparou que, na pandemia, inúmeras mulheres surgiram como lideranças, através da doação de cestas básicas de alimentos de qualidade e sem agrotóxicos e das cozinhas comunitárias. “Só poderemos resistir se construirmos um tecido nos modelos cultural e político para garantir um mundo de paz, civilizado, sustentável e inclusivo”, apontou.

Além da CUT, do FBES, da Unisol e do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), o encontro teve a participação da Cooperativa de Costureiras Unidas Venceremos (Univens), da Cooperativa Central Justa Trama, da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), do Centro de Assessoria Multiprofissional (CAMP), entre outras entidades.

Sobre os Fóruns Sociais em Porto Alegre

O Fórum Social das Resistências (FSR) e o Fórum Social Mundial Justiça (FSMJD) iniciaram na terça-feira (26) em Porto Alegre, com a marcha de abertura, com atividades presenciais e híbridas. Centenas de debates ocorreram até o sábado (30), quando aconteceu a plenária de encerramento que organizou um documento preparatório para o Fórum Social Mundial que será realizado no México entre os dias 1º e 6 de maio.

O FSMJD teve atividades focadas na transformação do sistema de justiça e na defesa da democracia, reunindo membros do judiciário com movimentos sociais para repensar as estruturas que perpetuam as desigualdades. Já o FSR trouxe movimentos sociais e organizações que para debater saídas para as crises que se abatem sobre o mundo e o Brasil, que penalizam a população mais pobre e vulnerabilizada e o meio ambiente.


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Edição: Marcelo Ferreira