As três refeições diárias dos sete mil indígenas que participaram do 18° Acampamento Terra Livre (ATL) tiveram sabor de luta e solidariedade. Toneladas de alimentos sem veneno vieram de assentamentos da reforma agrária e foram preparados pelo MST, numa demonstração de unidade na defesa da terra.
Dinaman Tuxá, que integra a articulação dos povos indígenas, destaca que o evento buscou implementar a alimentação saudável como forma de resistência. “No Acampamento Terra Livre conseguimos concretizar a luta dos povos indígenas e a luta do MST, representada através dos seus alimentos”, diz.
Membro da direção do MST/RS, Jeronimo Pereira da Silva destaca que o objetivo da luta pela reforma agrária popular é apresentar para a sociedade um modelo que visa a democratização da terra. “A função social da terra é produzir alimentos. Isso nos coloca juntos na luta porque, tanto indígenas quanto camponeses, são guardiões dos bens comuns da natureza”.
“Nós, movimentos do campo e indígenas, somos o principal alvo do agronegócio”, acrescenta Xiru, como é mais conhecido. Lembra que o modelo “é subsidiado pelo estado, não produz comida, degrada a natureza, expulsa trabalhadoras e trabalhadores do campo e indígenas de suas terras para entregar para empresas estrangeiras”.
Agenda anti-indígena
A primeira medida provisória do presidente (MP 870/19) passou a atribuição de demarcar terras indígenas e quilombolas para a ministra Teresa Cristina, da Agricultura. Com a Funai e o Incra enfraquecidos, nenhuma terra foi demarcada e as desapropriações foram suspensas.
Agora, com o PL 191/20, Bolsonaro quer entregar as áreas indígenas para o garimpo e o agronegócio. Além disso, o PL 490/07, que limita o reconhecimento de novas terras tradicionalmente habitadas por povos nativos, foi desengavetado por sua base no Congresso. Situação que contribui para o avanço da violência contra os povos tradicionais.
Quilombolas na mesma luta
Membro da Frente Quilombola/RS, o advogado Onir de Araújo ressalta que a resistência quilombola só foi possível a partir do acolhimento do povo negro sequestrado da África pelos indígenas. “Foi essa aliança que permitiu resistirmos para reconstruir as nossas liberdades expressas na territorialização negra, quilombola e originária”.
Para ele, o inimigo comum está materializado nos que se beneficiam da “infâmia colonial, racista e rentista que perdura há 522 anos e é responsável pelas condições miseráveis de vida impostas aos nossos povos”. Entende que a resistência quilombola tem a tarefa de se somar na luta contra “os projetos de lei de morte”, bem como “para que o STF afaste definitivamente a famigerada, racista e genocida tese do Marco Temporal”.
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Edição: Ayrton Centeno