Após intensa luta, a Casa do Estudante Indígena (CEI) da UFRGS foi inaugurada neste sábado (16). Alguns estudantes já estavam instalados no local, conforme havia registrado o repórter Alass Derivas, devido às condições da antiga moradia em que se encontram os estudantes indígenas.
Desde o início de março, o Coletivo de Estudantes Indígenas da UFRGS ocupava um prédio abandonado da prefeitura de Porto Alegre, como forma de pressionar as autoridades para viabilizar a CEI, demanda antiga dos povos originários que estudam na UFRGS. Os estudantes são originários dos povos Kaingang, Xokleng e Guarani.
Os estudantes moravam na Casa do Estudante Universitário (CEU) da UFRGS, localizada na Avenida João Pessoa. Além da impossibilidade das estudantes mães conviverem com seus filhos, os indígenas sofriam diversas formas de discriminação ao longo dos anos, tanto pelo preconceito direto quanto pela negação do direito de manter seus modos tradicionais de vida.
A mobilização contou com momento conflituosos com a Reitoria da Universidade e até mediação no Ministério Público Federal. Por fim, a Universidade destinou o prédio onde funcionava a Creche da UFRGS, que estava desativada.
Inauguração contou com momento espiritual
A inauguração da CEI contou com um momento de purificação do novo local, com rezas e banho de ervas, promovido por lideranças espirituais. Além disso, foi promovido um café coletivo. Neste primeiro momento, a totalidade dos estudantes indígenas que moram na CEU da avenida João Pessoa ainda não se mudou para o local. Conforme relatou o estudante Talvane Kaingang, está sendo dada prioridade para as estudantes que são mães poderem se mudar com suas crianças.
Talvane, por exemplo, é estudante do último ano e relata que, provavelmente, não irá se mudar para a nova moradia. Porém acredita que o local será um bem a ser aproveitado pelas próximas gerações de estudantes que virão para a UFRGS.
Da mesma forma, Antonio Tomais Pereira, também conhecido como Tino Kaingang, saudou a inauguração do local. "Hoje está garantido este espaço para eles. Muito importante este local, para os que estão aí e para os que virão. Assim, vai cada vez mais aumentando nosso povo [dentro da UFRGS]. A gente está feliz com isso", afirmou à nossa reportagem.
Embora não seja estudante da UFRGS, Tino nos fez um breve relato sobre a luta por educação superior dos povos indígenas do RS. Ele foi o primeiro presidente do Conselho Estadual dos Povos Indígenas do RS (CEPI) e recordou que o primeiro estudante universitário indígena que se tem registro no estado ingressou, em 2004, no Centro Universitário Metodista (IPA), no curso de Terapia Ocupacional.
Este espaço, recorda Tino, foi garantido através da mobilização do CEPI. Mais adiante no tempo, outros indígenas também passaram a ingressar no Ensino Superior no estado. Porém, o ingresso na Universidade Federal só veio mesmo em 2008 "com muita briga", afirma. Foi a partir desse momento de abertura do espaço na Universidade que foi garantido, junto a outros estudantes não indígenas, que os estudantes indígenas morassem na Casa do Estudante Universitário.
Tino afirma que esse processo, ao longo dos anos, deu-se com diversos episódios de discriminação. O que aumentou principalmente neste mês de março, após a intensificação da mobilização indígena por uma casa própria. Mesmo não conhecendo ainda o local, afirma que a conquista da nova CEI é um fator positivo, pois será um local onde os povos indígenas da Universidade poderão manter seus modos de vida.
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Edição: Marcelo Ferreira