Os sinais precisam ser lidos, interpretados. Os sinais alertam. Os sinais levam à ação
Final da tarde de sábado, 9 de abril, depois do grande ato e panelaço Fora Bolsonaro nas ruas de Porto Alegre, vou todo feliz ao encontro de Leonardo Boff e Márcia Miranda, hospedados numa casa das religiosas scalabrinianas entre os bairros Independência e Moinhos de Vento, região tranquila de classe média baixa em Porto Alegre. Dia seguinte, na Escola Murialdo, bairro Partenon, Leonardo falou belamente sobre PAZ, JUSTIÇA, CUIDADO COM A CASA COMUM: POR UMA SOCIEDADE DO BEM VIVER, nestes tempos tri complicados.
Conversamos sobre tudo e sobre (quase) todo mundo. Horas tantas chega a deputada federal Maria do Rosário: conversar, trocar ideias sobre a conjuntura, sobre a eleição das nossas vidas em outubro e mil outras coisas. Tri cansado, fui embora um pouco depois das 21h. Entrei no carro, o banco de trás faz um barulho estranho, vejo que está virado para frente. Não sei o que é. Empurro-o para trás, vou para casa.
Dia seguinte, domingo de manhã, vou fazer umas compras de emergência. Ao abrir o porta-malas do carro, descubro o que aconteceu na noite anterior. Roubaram o pneu estepe.
Na terça, 12 de abril, depois de viagem a São Paulo para reunião no SEFRAS, Serviço Franciscano de Solidariedade - preparar o lançamento da Frente Nacional contra a Fome e a Sede -, vou atrás de um novo pneu. Conto o caso para o Vlademir da Zé Pneus, que me conta dos muitos casos semelhantes acontecidos ultimamente. E ouço de muitos lados e pessoas notícias de furtos crescentes de cabos de eletricidade nas ruas, entre outras coisas.
São sinais, muitos sinais dos dias atuais e do que está acontecendo no Brasil. Os tempos são de miséria, desemprego e fome. Muita fome, e desespero.
Neste contexto, dia 28 de abril, 14h, no Fórum Social das Resistências (FSR), no Auditório Dante Barone da Assembleia Legislativa, será lançada a Frente nacional contra a Fome e a Sede, necessária e urgente. SEFRAS, Ação da Cidadania, movimentos sociais, sindicais e populares, Periferia Viva, Banquetaço, Movimento Fé e Política, CAMP (Centro de Assessoria Multiprofissional), Conferência Popular de SSAN, CONSEA/RS e CONSEAs de todo Brasil estão integrados na sua organização e articulação.
Os Comitês Populares contra a Fome, as Cozinhas Solidárias e Comunitárias, as Feiras, como o Feirão Colonial de Santa Maria e a Feira Solidária da Rede Comunitária - esta organizada pela Associação do Morro da Cruz de Porto Alegre, pelo MTD/RS (Movimento dos Trabalhadores por Direitos) e pelo CAMP -, entre outras tantas iniciativas, precisam cada vez mais dialogar entre si, organizar-se solidariamente em todo Brasil. O CONSEA/RS está organizando para julho a 8ª Conferência gaúcha de SSAN, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, com o tema "A fome voltou! Medidas Já!". E está acontecendo a Conferência Popular nacional de SSAN, bem como, nos próximos meses, serão realizadas as Conferências Populares de Educação, de Saúde e a 6ª Plenária Nacional de Economia Solidária.
No Fórum Social das Resistências, acontecerá a Tenda do Bem Viver na Igreja Anglicana da rua José do Patrocínio, 570, Porto Alegre, no dia 27 de abril, dia inteiro. De manhã, será apresentado pela CPT (Comissão Pastoral da Terra) e debatido o relatório anual dos conflitos do campo. Ao meio dia haverá um almoço solidário, com a Mística da Partilha, organizado pelo MTD. À tarde, acontecerão debates sobre a sociedade do Bem Viver, a educação libertadora e a 3ª fase da Campanha Latino-americana e Caribenha em Defesa do Legado de Paulo Freire, sobre o trabalho nas comunidades e os fundamentalismos. Um programa de encher os olhos e aquecer os corações.
As recentes eleições francesas são também um recado claro. A ultradireita cresceu e até pode ganhar no segundo turno no final de abril. Sinais.
A guerra entre Rússia e Ucrânia é muito mais que um conflito entre dois países. Envolve EUA, União Europeia e OTAN. Envolve o mundo e não é possível saber seu resultado e suas exatas consequências nos próximos anos. Sinais.
O Fórum Social das Resistências, de 26 a 30 de abril, em Porto Alegre, o Fórum Social no México, de 1 a 6 de maio, o 1º de Maio de 2022, Dia das Trabalhadoras e dos Trabalhadores, são momentos de escuta, são momentos de resistência. São oportunidade de prestar atenção aos sinais e preparar o futuro da humanidade e da Casa Comum com todo cuidado.
A paixão e morte de Jesus, operadas pelos poderes daquele tempo, sua passagem e ressurreição, recordadas e celebradas nestes dias, estão presentes todos os dias. São sinais na vida daqueles que têm esperança e lutam por igualdade, dos que acreditam no sonho e na utopia de um Reino e de "um outro mundo possível", de paz, justiça, soberania, democracia.
Os sinais precisam ser lidos, interpretados. Os sinais alertam. Os sinais levam à ação. ESPERANÇAR.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira