Se vivêssemos em mundo melhor, talvez a Câmara dos Deputados não decidisse apressar a nossa morte. Assim aconteceu na votação do PL 6.299/2002. Foram 301 votos favoráveis e 150 contrários aquilo que a gente conhece, no popular, como “Pacote do Veneno”.
Se vivêssemos em um mundo melhor, não se aprovaria uma medida abrindo a porteira para pesticidas e herbicidas proibidos em seus países de origem. Sem contar o fato de que o Brasil fechou 2021 com a liberação alucinada de 562 novos venenos agrícolas. Um recorde histórico. Como elemento de comparação, basta dizer que foram autorizados apenas 139 novos produtos em 2015. Sintomaticamente, o ano anterior ao golpe parlamentar.
Se vivêssemos em um mundo melhor, não teríamos a bancada federal do Rio Grande do Sul também votando massivamente contra seu eleitor e a favor dos venenos. Foram 19 deputados, entre eles todos os do MDB.
Se vivêssemos em um mundo melhor, a Assembleia Legislativa não passaria a boiada do governador Eduardo Leite violentando a Lei dos Agrotóxicos como o fez em 2021. Foram 37 votos que legalizaram aqui venenos banidos nos próprios países que os fabricam. E o MDB, de novo, foi maioria. Por ironia, a lei fora uma batalha do ex-deputado estadual Antenor Ferrari, também do MDB. Que, indignado, chamou a mudança de “atraso para o povo gaúcho” que atenderia apenas “a sanha de lucros de poucos”.
Se vivêssemos em um mundo melhor, alguns deputados que concorrem à reeleição neste 2022 deveriam ser identificados e rotulados como os produtos que liberaram. Algo como “Este candidato pode causar câncer, doenças do coração, rins e fígado e malformações fetais”. Além do desenho da caveira e a palavra “Perigo”. Se fosse assim, talvez não os elegêssemos para despejar veneno nos nossos pratos.
Edição: Ayrton Centeno