Não há quem ignore: os agricultores dependem das condições ambientais. Por isso, com as mudanças climáticas aceleradas que o aquecimento global está impondo, os agricultores trabalham, cada vez mais, sob a ameaça de riscos crescentes. E quanto menor o agricultor, maiores as ameaças. E são os pequenos que produzem alimentos, de modo que, na falta deles, afundamos no mapa da fome.
Nisso se percebe a importância da soberania alimentar, realidade que não se alcança importando arroz e feijão e destruindo ecossistemas, para colher soja transgênica em territórios sem gente e envenenados por agrotóxicos.
A seca que apavora os gaúchos, as cheias que matam pessoas em Minas, no Rio e na Bahia, e as queimadas no Norte e no Centro-Oeste, tudo isso se liga através do pouco caso do governo com nossa necessidade de soberania alimentar.
São resultados de políticas criminosas, contra os agricultores familiares e camponeses e em favor da fome e de um agronegócio que nos envenena. Vejam o Pacote do Veneno (PL6299/2002). Numa tacada, a maioria parlamentar de golpistas, que sustenta o presidente incapaz, criou a figura do risco “aceitável” para consumo de venenos que causam câncer, que provocam alterações reprodutivas e deformações genéticas nos filhos e filhas do Brasil.
Retirou o poder dos Ministérios da Saúde e Meio Ambiente sobre o registro de agrotóxicos, e ainda ofende a democracia participativa, impedindo que vereadores, prefeitos, deputados estaduais e mesmo governadores estabeleçam leis mais protetivas à saúde dos seus, entre outros absurdos.
Esta é a ideia de “menos Brasília, mais Brasil”, de políticos que além de não ajudar, atrapalham. Estão no poder porque a sociedade, enganada por campanhas mentirosas, não conhece soluções como as evidenciadas aqui, onde o arroz ecológico se apresenta como resultado do trabalho coletivo, com o povo chamado e estimulado a se colocar a serviço da soberania alimentar.
Aqui se evidencia a importância da Reforma Agrária Popular, com agregação cooperativa de pequenas lavouras, garantindo soberania alimentar, com saúde humana e ambiental.
É esta consciência que nos oferece a festa de partilha comemorada nesta 19ª Festa da Colheita do Arroz Ecológico do MST gaúcho.
Aqui há de fato uma grande façanha, um exemplo a ser copiado pelos povos de toda a terra.
* Engenheiro agrônomo, integra a coordenação do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos.
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko