Rio Grande do Sul

Comportamento

Artigo | Uma crise ambiental ou um efeito do capitalismo

Na nova etapa do expansionismo do capital, necessidades básicas passam a ser contempladas em sua maioria por supérfluos

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Com conceito de “Obsolescência Programada”, a felicidade, que era plena, acaba por ser momentânea - Reprodução/Documentário “Comprar, tirar, comprar”

O advento da globalização com o avanço das indústrias e sua expansão de capital, produziu transformações que afetaram de forma direta e indireta a vida como um todo. As disputas por território, por controle de mercado de capital necessitaram nessa nova etapa expansionista (imperialismo) uma mudança de comportamento.

Para sustentar estas mudanças, foi necessário que novas elaborações fossem desenhadas mantendo a mesma essência. Desta maneira as velhas ideologias receberam uma nova maquiagem, agora com a alcunha de “NEW”. Tais mudanças afetam nosso comportamento, a maneira como vemos o mundo.

Nossas necessidades básicas passam a ser contempladas em sua maioria por supérfluos, as etiquetas, os rótulos, propagandas muito bem produzidas irão nos apontar o caminho para o “El Dorado” trazendo um sentimento de felicidade plena. O ponto nevrálgico deste comportamento está na velocidade que os produtos são descartados, pois neles são aplicados o conceito de “Obsolescência Programada” e a felicidade, que era plena, acaba por ser momentânea.

Decorrentes a esta “Felicidade Programada” em seu desmedido consumo, os danos ambientais decorrentes de todas as fases das diversas “cadeias produtivas” têm produzido danos irreversíveis. Conforme Global Footprint Network, entidade responsável pelos cálculos de sobrecarga da Terra desde 1970, precisaríamos de 1,7 planeta para manter nossos padrões de consumo.

É comum que em um primeiro momento, quando paramos para observar o tamanho do problema, suas causas e efeitos, promovidos pelo “sistema capitalista” tenhamos como impossível desconstruir as engrenagens muito bem lubrificadas deste modelo econômico, onde os Estados Nacionais, o mercado financeiro e as (NEW) políticas clássicas estão operando a todo vapor. Muitas pessoas inclusive acabam fazendo referência deste “sistema” com uma figura da mitologia grega (Hidra de Lerna), um ser invencível, com capacidade de regeneração.

Partindo do pressuposto da capacidade de regeneração deste sistema que se alimenta do consumo e se reproduz através de sua expansão de capital, aos olhos de muitos a imagem refletida será o impossível de superar. Porém assim como à Hidra de Lerna, este sistema não é onipotente nem imortal, este modelo de consumo desenfreado enfrenta muita resistência, por mais que exista competitividade de mercado, o que realmente ameaça a queda deste “modelo” é o avanço da consciência de quem sustenta a base da pirâmide social.

Neste sentido poderíamos aqui invocar uma figura muito cara para Hidra, a de Héracles, aquele que foi capaz de derrotá-la. Nesta analogia muito bem podemos identificar Héracles com nossas irmãs e irmãos originários desta terra, que tem resistido historicamente aos brutais ataques de seus colonizadores, pagando com a própria vida. Nossa história presente tem demonstrado que as relações comunitárias com a natureza são capazes de restaurar os ciclos produtivos da terra e produzir alimentos de forma justa garantindo a vida de forma plena sem que haja excedentes.

Mais que possível é necessário (Re)construir as bases de produção deste sistema que oprime, segrega, violenta e mata, não como projeto de futuro, mas como forma de garantir nossa existência!

* Assessor de Projetos da Associação do Voluntariado e da Solidariedade - AVESOL

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato

Edição: Marcelo Ferreira