Rio Grande do Sul

Opinião

Artigo | Porto Alegre Quilombola!

Live do Projeto Poancestral debate Ancestralidade negra e quilombola em Porto Alegre nesta segunda, às 19h

Brasil de Fato | Porto Alegre |
XIV Marcha Estadual Pela Vida e Liberdade Religiosa do RS tem como lema do seu cortejo: Lutar, resistir e preservar o sagrado: defender o meio ambiente e autonomia escolar - Foto: Carolina Lima

Porto Alegre é demais!... Porto Alegre da inovação... Porto Alegre da diversidade.... Você possivelmente já ouviu e viu essas cantilenas à exaustão. Mas sabemos que se tratam de apenas propagandas auto elogiosas, chapa branca e deslocadas da realidade.

Esta semana, dia 26, Porto Alegre completa, oficialmente, 250 anos da fundação oficial. Mais uma vez é preciso lembrar o que a classe dominante, branca e endinheirada e o seu representante no paço, Sebastião Melo (MDB), insistem em esquecer: uma Porto Alegre que tem raízes profundas na presença dos povos indígenas, originários, na herança e presença africana e afro-brasileira, nas imensas e pulsantes culturas periféricas, à despeito do abandono pelo poder público. Afinal, Porto Alegre não é apenas composta de algumas centenas de metros da orla do Guaíba embelezada para valorizar grandes empreendimentos na região ou dos casais açorianos.

Porto Alegre Ancestral

O projeto “PoAncestral muito além de 250”, nasceu ainda em 2021 em uma iniciativa de educadoras, pesquisadores e ativistas sociais com o objetivo de resgatar e construir histórias que favoreçam leituras plurais, sem apagamentos e epistemicídios, que tenham compromisso com a cultura dos Direitos Humanos  e com a divulgação de materiais de caráter didático-pedagógicos que alimentem uma educação contra-hegemônica, antirracista, antissexista, e anti-homofóbica, pautada pela justiça social e curricular. Dessa inciativa, originaram-se uma série de atividades formativas, produção de material de apoio a educador@s e projetos de interação entre Universidade e Escola Básica. 

21 de março: Marchas na África do Sul e em Porto Alegre


Poancestral presente na XIV Marcha Estadual Pela Vida e Liberdade Religiosa do RS hoje em Porto Alegre / Foto: Carolina Lima

Não por acaso, na data de hoje também acontece a XIV Marcha Estadual Pela Vida e Liberdade Religiosa do RS, uma iniciativa de vivenciadoras/es das tradições de matriz africana, Umbanda e Kimbanda, juntamente com a sociedade civil, instituições religiosas e movimentos sociais, que celebra o direito à diversidade religiosa e que neste ano tem como lema do seu cortejo: Lutar, resistir e preservar o sagrado: defender o meio ambiente e autonomia escolar.

Nesse dia 21 de março, a partir das 16h, estaremos presentes na Marcha em Porto Alegre, porque não devemos nos calar diante da histórica opressão, diante do racismo religioso! É preciso marchar como ato de denúncia, de resistência e de luta por políticas públicas para essas comunidades.   Lembramos ainda que neste dia, há seis décadas, outra marcha, em um protesto legítimo e pacífico, foi marcada com sangue e dor. No dia 21 de março de 1960, na cidade de Joannesburgo, capital da África do Sul, 20 mil pessoas, negras, protestavam contra a lei do passe, que os obrigava a portar cartões de identificação especificando os locais por onde eles podiam circular. No bairro de Shaperville, os manifestantes se depararam com tropas do exército. Mesmo sendo uma manifestação pacífica, o exército atirou sobre a multidão, matando 69 pessoas e ferindo outras 186. Esta ação ficou conhecida como o Massacre de Shaperville. Em memória à tragédia, a partir de demandas de Movimentos sociais negros, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu 21 de março como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.

Porto Alegre Quilombola!

Hoje, às 19h, temos mais um encontro marcado pelo diálogo, pela valorização e partilha dos saberes populares, por memórias de lutas e resistências e pela produção de conhecimento potencialmente libertador.


Live debate Ancestralidade negra e quilombola em Porto Alegre / Divulgação

Desta vez o tema envolve a Porto Alegre quilombola, a capital mais segregada racialmente do país! Teremos o privilégio de receber como participantes Geneci Flores (Liderança do Quilombo Flores em Porto Alegre/RS, membra da Frente Quilombola RS e da Articulação Nacional de Quilombos), Onir de Araújo (Membro da Frente Quilombola RS, Advogado), Babadiba de Iyemonja (Babalorixá, Sanitarista e Coord. Nacional da Rede de Religiões afro-brasileiras) e Lara Machado (Geógrafa, representante do Atlas da Presença Quilombola em Porto Alegre). A atividade contará com a mediação de Melina Perussatto (Professora na área de Ensino de História (FACED/UFRGS) e no ProfHistória (IFCH/UFRGS), Coord. PoAncestral) e de André Pares (Prof. Filosofia Munic. POA/Jornalista, integrante do PoAncestral).

Ao destacar o tema “Ancestralidade negra, quilombos e segregação em Porto Alegre”, a live dará continuidade às disputas narrativas em torno da efeméride dos 250 anos de Porto Alegre desenvolvidas no âmbito do projeto PoAncestral. A discussão sobre a segregação racial urbana desde as lutas promovidas por diferentes coletivos, convida-nos a refletir sobre como a ancestralidade e o movimento negro tensionam as narrativas oficiais e propõem historicamente uma repactuação social. Diante do recrudescimento da violência contra comunidades quilombolas e periféricas, que a escuta dessas múltiplas vozes fundamente e mobilize ações efetivamente antirracistas.

A atividade é co-promoção da Atempa (Assoc. Trabalhadores/as em Educação em Porto Alegre) e CPHIS (Coletivo Profes.de História em Porto Alegre), em parceria  com o Canal LUDE Comunicação (Programa Professores Diáries), e é a terceira live de um ciclo que se estende no mês de abril, como parte de um calendário alternativo aos 250 anos da cidade de Porto Alegre.

Live: Ancestralidade negra e quilombola em Porto Alegre

Hoje, 19h, Canal do Youtube: https://youtu.be/iaXQ2F1xTN0

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PoAncestral - Muito além de 250

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* Professoras/es da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre

** Prof. RME Porto Alegre e Diretor geral da ATEMPA

*** Professora na FACED/UFRGS e no ProfHistória (IFCH/UFRGS)

Edição: Katia Marko