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O Brasil comemora os 70 anos de Antonio Nóbrega

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Antonio Nóbrega, nos seus 70 anos é convidado pelo Instituto de Estudos Avançados da Unicamp para ministrar oficinas em uma residência artística - Divulgação
Nóbrega faz com que possamos ainda acreditar na salvação. Ele nos mostra uma crença no ser humano

São 70 anos de um sorriso que nos coloca em contato com toda a ancestralidade de nosso povo. São 70 anos de nascimento daquele que transformaria e revolucionaria o olhar do mundo para as suas próprias tradições culturais. São 70 anos de uma vida que, em cada respiração, faz ventar aos quatro cantos a inspiração que nos faz ser quem somos. São 70 anos de Antonio Nóbrega.

Brincante, trovador, menestrel, o multiartista colocou em sua vida corpo e alma em função de levar a cada pedacinho de terra, a lembrança de quem somos, a nossa verdadeira identidade. Utilizando as ferramentas da dança, da música, do teatro e das manifestações populares do nosso Brasil, Nóbrega se tornou o próprio Lunário Perpétuo e fez no Marco do Meio Dia ecoar o 9 de Frevereiro com as mais mágicas e coloridas sombrinhas.

Abriu alas ao apaixonante Tonheta e trouxe às ruas, feiras, campos e palcos do Brasil e do mundo, as mais autênticas expressões e o orgulho de ser brasileiro cabra da peste com sorriso e segurança de quem conhece e sabe a missão que tem nesse mundo.

Ah, quando falo de Antonio Nóbrega, falo com o orgulho e emoção de quem pode aprender e ter contato com um dos mais geniais artistas e seres humanos que conheci. Impossível segurar as lágrimas que correm do marejado dos olhos.

No meio de tantas guerras pela vida, guerras contra quem podemos ver e contra que não podemos, Nóbrega faz com que possamos ainda acreditar na salvação. Ele nos mostra uma crença fiel nas tradições, mas acima de tudo no ser humano.

Por tudo isso e muito mais é que o mundo acadêmico se curva ao mestre dos mestres. Antonio Nóbrega já foi tema de trabalhos, teses, artigos, espetáculos, mas acima de tudo, Nóbrega levou o povo e suas expressões mais verdadeiras para dentro da Universidade, levando os acadêmicos de uma elite intelectual a se curvarem à sabedoria natural e popular. Como disse Patativa do Assaré em trecho de sua obra Cante lá que eu Canto cá:

Pra gente aqui sê poeta

E fazê rima cumpreta

Num precisa professô

Basta vê no mês de maio

Um poema em cada gaio

E um verso em cada fulô

Antônio Nóbrega, nos seus 70 anos é convidado pelo Instituto de Estudos Avançados da Unicamp para ministrar oficinas em uma residência artística.

O ciclo de atividades gratuitas terá início em março e contará com encontros remotos e presenciais

O músico, dançarino, cantor, compositor e ator Antônio Nóbrega realiza a partir de 15 de março uma extensa programação, que inclui palestras e oficinas sobre a música, a dança, o teatro e a poesia. O multiartista, comprometido com a cultura popular brasileira, foi convidado a partir do Programa "Hilda Hilst" do Artista Residente da Unicamp, coordenado pelo Instituto de Estudos Avançados (IdEA).

Ex-professor do Instituto de Artes da Unicamp, onde atuou entre 1985 e 1991, o multiartista pernambucano completa 70 anos e cinco décadas de carreira em 2022. O ciclo de atividades, que segue até setembro, é aberto à comunidade da Unicamp e também ao público externo e será composto por 12 encontros teóricos, presenciais, divididos em 6 temas, por uma parte prática constituída de oito oficinas e por 2 encontros virtuais.

Após os dois primeiros encontros introdutórios, discutindo as “Origens, formação e desenvolvimento do mundo cultural popular brasileiro”, a programação continua quinzenalmente com os seguintes assuntos: “Da quadra ao Galope beira-mar” (12/04 e 26/04), “Com passo sincopado: teoria e prática de uma linguagem brasileira de dança” (31/05 e 14/06), “Dos terreiros e reiseiros ao Cavalo-marinho” (28/06 e 12/07), “O imaginário musical popular brasileiro” (26/07 e 09/08), e “Brasisbrasil” (23/08 e 06/09).

As oficinas, também quinzenais, serão realizadas na sede do Instituto de Estudos Avançados. As inscrições para elas serão abertas em breve no site do IdEA.

Antonio Nóbrega nasceu em Recife, em 1952. Sua iniciação artística veio pelo violino, instrumento que sempre o acompanha em suas diversas atividades artísticas desde então. Entre 1968 e 1970, integrou a Orquestra de Câmara da Paraíba e a Orquestra Sinfônica do Recife. Em 1971, a convite do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna (1927-2014), ingressou no Quinteto Armorial, grupo precursor na criação de uma música de câmara brasileira de raízes populares, com quem lançou quatro discos entre 1974 e 1980.

Sua extensa carreira inclui apresentações por todo o Brasil, além de países como Portugal, Alemanha, Estados Unidos, Cuba, Rússia e França. Nóbrega é detentor de diversas premiações em reconhecimento por seu trabalho de valorização da cultura brasileira, como o TIM de Música, o Shell de Teatro, o Mambembe, o APCA e o Conrado Wessel, além ter sido condecorado por duas vezes com a Comenda do Mérito Cultural. Há 30 anos, dirige com Rosane Almeida em São Paulo o Instituto Brincante, espaço voltado a cursos, apresentações, oficinas, mostras e encontros diversos de difusão da cultura brasileira.

Serviço

Brasisbrasil – ciclo de encontros com Antonio Nóbrega

Datas: 15/03, 29/03, 12/04, 26/04, 31/05, 14/06, 28/06, 12/07, 26/07, 09/08, 23/08 e 06/09.

Horário: 10h às 12h

Local: Auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp

Endereço: Rua Albert Sabin, s/nº, Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, Campinas

Realização: Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp

Inscrições: http://www.idea.unicamp.br/eventos/brasisbrasil-ciclo-de-encontros-com-antonio-nobrega

Oficinas com Antonio Nóbrega

Datas: 12/04 e 26/04 (Poesia); 31/05 e 14/06 (Dança); 28/06 e 12/07 (Teatro); e 26/07 e 09/08 (Música)

Horário: 14h30 às 16h30

Local: Instituto de Estudos Avançados (IdEA)

Endereço: Avenida Oswaldo Cruz, 301, Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, Campinas

Realização: Instituto de Estudos Avançados (IdEA) da Unicamp

Inscrições: Em breve no site www.idea.unicamp.br

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko