Rio Grande do Sul

Pandemia no RS

Ato em Porto Alegre lembra dois anos da pandemia e homenageia vítimas da covid-19

A manifestação para marcar o Dia Nacional em Homenagem às Vítimas aconteceu neste sábado (12) no Parque da Redenção

Brasil de Fato | Porto Alegre |
“Essa data marca dois anos de mortos e sobreviventes da covid-19 no país, onde o Estado Brasileiro tem sido criminoso e violado os nossos direitos” - Foto: Amaro Souza

Em um grande pano branco, estendido no chão, familiares escreveram os nomes de vítimas da pandemia. Cartazes com fotos de amigos e parentes que perderam suas vidas pela doença também foram expostos, no ato de protesto na manhã deste último sábado (12), em Porto Alegre.

No Monumento ao Expedicionário, no Parque da Redenção, dezenas de familiares e amigos se reuniram na ação que marcou o Dia Nacional em Homenagem às Vítimas da Covid-19 alusivo à data em que aconteceu a primeira morte no Brasil, que foi uma mulher de 57 anos, em São Paulo, segundo o Ministério da Saúde. Todos estavam com máscaras, apesar do decreto municipal desta sexta-feira (11) do prefeito Sebastião Melo (MDB) que liberou o uso ao ar livre.

“Essa data marca dois anos de mortos e sobreviventes da covid-19 no país, onde o Estado Brasileiro, seja nas instâncias federal, estaduais e municipais, tem sido criminoso e violado os nossos direitos”, destacou a presidente da Avico Brasil, a assistente social, Paola Falceta. Ela ressaltou que, embora ainda não faça parte do calendário oficial do Brasil, por não ter sido votado por deputados da Câmara Federal, o dia 12 de março já teve aprovação do Senado. O objetivo é relembrar anualmente brasileiros e brasileiras que perderam a vida por causa do coronavírus.

“Minha mãe morreu agora”, destacou Paola, lembrando que ela faleceu da doença em março de 2021, no governo Bolsonaro, o que a motivou a organizar a associação junto com outros familiares de vítimas. A entidade já conta com mais de 1.500 associados em todo o país.

Até o momento o país registra mais de 655 mil vidas perdidas pela covid-19. Com 38.720 vítimas fatais, o RS é o quinta estado no país em número de óbitos. .


“Nossa luta é por memória e justiça para nossos familiares vítimas e sobreviventes da covid-19, mas sobretudo na defesa de direitos humanos garantidos na Constituição do Brasil” / Foto: Amaro Souza

Manifestantes também destacaram o descaso com a pandemia 

"No início da pandemia, a gente não tinha equipamentos para trabalhar. Muitas pessoas morreram, incluindo 900 profissionais da enfermagem porque estavam na linha de frente e não tinha vacinas", afirmou a conselheira do Coren-RS Sônia Regina Coradini. "Defendemos o SUS e estamos juntos nesta luta", expôs.

Para a coordenadora de saúde da Vida e Justiça – Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid-19, médica Rosângela Dorneles, muitas vidas foram perdidas por falta de leitos, de acesso, de testes e por falta de uma consciência de defender a vida da população gaúcha e do país. “Nós não vamos deixar cair no esquecimento todo o sofrimento que nós tivemos com as perdas de pessoas queridas e que faziam a diferença na sociedade”, frisou. “A pandemia ainda continua e não podermos abrir mão do uso da máscara, mesmo que tenha gestores negligentes que não escutam a ciência”, ressaltou Rosângela.

A diretora do Sindicato dos Enfermeiros e vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde, Inara Ruas, alertou que “muitas pessoas com covid-19 desenvolveram sequelas na pandemia e estão invisíveis para os governos e o Estado, o que levou à criação do Comitê em Defesa das Vítimas da Covid-19, composto por várias entidades da sociedade, e que não para de crescer”.

O secretário de Comunicação da CUT-RS, Ademir Wiederkehr, lembrou que “desde o início da pandemia, a Central tem estado junto com as entidades dos trabalhadores da saúde e todos os lutadores sociais na defesa da saúde e da vida”. Ele citou a luta por testes de covid-19. “Não investiram em testagem nem para os profissionais da saúde”, criticou.

Por sua vez o jornalista e repórter da TVT, Guilherme de Oliveira, que perdeu uma tia na pandemia, ressaltou ser fundamental o reconhecimento do trabalho dos profissionais da saúde. Ele Lembrou que trabalhadores da saúde foram até a casa da sua família para dar notícias da tia hospitalizada, quando ela não podia receber visitas. “Isso não ocorre no sistema privado”, comparou, elogiando o Sistema Único de Saúde. “Graças ao SUS, muitas pessoas sobreviveram”, enfatizou Guilherme. 

Nos depoimentos de familiares de vítimas, foi destacado o descaso dos governos (em todas as esferas) com a qualidade de atendimento da saúde e a proteção da vida das pessoas. Foi salientado também que a pandemia não "é uma gripezinha", como falou Bolsonaro, e que o uso das máscaras e a vacinação completa, incluindo as crianças, são medidas fundamentais para salvar vidas. Além de evitar a desinformação e as fake news.

Ao final do ato foi feito um minuto de silêncio e depois os manifestantes saíram em caminhada pela Avenida José Bonifácio, onde estava sendo realizada a tradicional Feira Ecológica do Bom Fim, que ocorre todos os sábados, vendendo produtos orgânicos da agricultura familiar.

“Nossa luta é por memória e justiça para nossos familiares vítimas e sobreviventes da covid-19, mas sobretudo na defesa de direitos humanos garantidos na Constituição do Brasil”, destacou Paola ao megafone para dialogar com os participantes da feira.

O protesto foi organizado pela Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico Brasil) e pela Vida e Justiça – Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid-19, com o apoio da CUT-RS, Sindicato dos Enfermeiros (Sergs), Sindicato dos Servidores da Justiça (Sindjus-RS), Conselho Estadual de Saúde (CES-RS), Conselho Regional de Enfermagem (Coren-RS) e movimentos sociais.

*Com informações da CUT-RS


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Edição: Katia Marko