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Romaria da Terra: sinais de esperança

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A 44ª Romaria será na Cidade da Erva-mate, Ilópolis, Diocese de Santa Cruz do Sul, na terça de Carnaval, 1º de março - Reprodução Facebook
A Romaria da Terra unifica a fé cristã (Mística) e o desejo de luta do povo (Política)

A terça de Carnaval é sagrada no Rio Grande do Sul. Mas não por causa do Carnaval. Sim, porque em 7 de fevereiro de 1756, terça-feira de Carnaval, “os invasores espanhóis e portugueses mataram São Sepé Tiaraju e 1.500 índios, terminando a República Cristã dos Guaranis, que batizou todas terras do Sul (Frei Wilson Dalagnol, As Romarias da Terra no RS: Memória e Teologia de um Povo lutador, Caderno da Romaria da Terra/2022).

E é data sagrada por causa da Romaria da Terra, que acontece desde 1978. Nas palavras de Frei Wilson, “a cada ano, os romeiros da terra fazem ecoar o grito de Sepé: ´Alto lá, esta terra tem dono. Nós a recebemos de Deus e só ele nos pode tirar´.” (Contatos e informações da Romaria: [email protected]. Facebook: Romaria da Terra do Rio Grande do Sul).

Wilson Dalagnol reflete: “A Romaria da Terra unifica a fé cristã (Mística) e o desejo de luta do povo (Política), por uma convivência mais fraterna e humana. Hoje, no RS e no Brasil, a Romaria da Terra é um fato histórico indispensável na agenda de todo militante popular. Ela faz parte do militante popular desde 7 de fevereiro de 1978. Os índios inspiram os pequenos do campo e da cidade a se organizarem e lutarem pela Terra. A partir desta Romaria da Terra, consolidou-se seu caráter regional e seu reconhecimento pelas Igrejas e pela sociedade, fortificando as lutas do povo sofrido.”

Em 2022, a 44ª Romaria será na Cidade da Erva-mate, Ilópolis, Diocese de Santa Cruz do Sul, na terça de Carnaval, 1º de março, com o tema profético ´AGRICULTURA FAMILIAR E AGROECOLOGIA: SINAIS DE ESPERANÇA. IRMÃS E IRMÃOS, CUIDEMOS DA MÃE TERRA´.

Dom Aloísio Dilli, bispo de Santa Cruz do Sul, sabiamente faz três destaques do tema da Romaria, em ´Agricultura familiar e a 44ª Romaria da Terra´ (Caderno da 44ª Romaria):

1º A agricultura familiar está focada na produção de alimentos, normalmente saudáveis, envolvendo as pessoas do núcleo familiar.

2º A agricultura familiar valoriza a agroecologia.

3º A agricultura familiar proporciona a possibilidade de participação dos jovens, o que dá sinais de esperança para continuidade.

Dom Aloísio ainda destaca que esta Romaria da Terra - ´Irmãs e irmãos, cuidemos da Mãe Terra´ - fundamenta-se em duas Encíclicas do Papa Francisco: “Na Laudato Sì (sobre o cuidado da Casa Comum), o Papa insiste na necessidade de cuidarmos da nossa Mãe Terra. E na Fratelli Tutti (sobre a Fraternidade e a Amizade Social), o Papa insiste: ´Somos todos irmãs e irmãos`.”

 “Ecologia deriva do grego, Eco=Oikos=, que quer dizer Casa, Logia=Logus=conhecimento, estudo. Então Ecologia é o estudo, é o cuidado com a Casa, a grande Casa Comum. Então quando falamos de Agroecologia estamos falando exatamente de cultivar a terra sem destruir a Casa Comum, é fazer agricultura respeitando a grande casa, o planeta, e os moradores dela, ou seja, toda a Biodiversidade (Maurício Queiroz, em ´Os Sinais de Esperança vindos da Agroecologia´, Caderno da 44ª Romaria da Terra).

O vigário de Ilópolis, Clécio José Henckes, faz o convite: “Bem-vindos irmãs e irmãos! Estaremos esperando a todas e a todos com o abraço da alegria e do tradicional chimarrão! É uma honra para nossa região poder sediar essa Romaria! Para nós, a festa já começou” (Caderno da 44ª Romaria da Terra).

 

Pe. Clécio José Henckes, pároco de Paróquia Santuário São Paulo Apóstolo, convida os romeiros e as romeiras para 44ª Romaria da Terra, no dia 1º de março, em Ilópolis/RS.

Posted by Romaria da Terra do Rio Grande do Sul on Friday, February 18, 2022

 

Todas e todos, portanto, convidadas-os a chegarem na Cidade da Erva-mate, porque “tomar um gostoso chimarrão bem cedinho perto do fogão a lenha ou em qualquer horário do dia é um hábito muito comum para a maioria das famílias gaúchas, costume que faz parte da cultura e da identidade, não só do Rio Grande do Sul, mas SC e PR, sem deixar de citar os países vizinhos como o Paraguai, Argentina e Uruguai. É herança dos povos indígenas que remonta a milhares de anos. Foram os povos guaranis que nos presentearam com a preciosidade desta planta tão significativa, seja do ponto de vista cultural ou econômico. ´A erva-mate na nossa língua se escreve kogûn, e utilizamos principalmente no chimarrão todos os dias. É uma herança dos nossos antepassados´, conta Luiz Alan Retanh Vaz, de 56 anos, cacique da Aldeia Indígena Foxá, localizada em Jardim do Cedro, Lajeado, RS” (Oldi Helena Jantsch, em ´A erva-mate na cultura indígena´, Caderno da 44ª Romaria da Terra).

Dom Aloísio traz a bênção final a todas as romeiras e romeiros: “Somos filhas e filhos do mesmo Pai (Pai Nosso) e moradores da mesma casa (nossa Mãe Terra). Assumamos, solidariamente, os cuidados com a nossa Casa Comum e a transformemos num verdadeiro LAR de irmãs e irmãos. Unamo-nos na produção de alimentos orgânicos, evitando o mais possível os venenos, tomando o cuidado que não faltem alimentos de boa qualidade para ninguém.”

PS. Uma lembrança final e um cuidado: por causa da pandemia do coronavírus, a 44ª Romaria da Terra, em Ilópolis, Diocese de Santa Cruz do Sul, acontecerá só de manhã na forma presencial, excepcionalmente, e com todos os cuidados sanitários. E haverá transmissão pelas redes sociais.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko