Professores e funcionários de escolas públicas do Rio Grande do Sul realizaram uma manifestação, na manhã desta terça-feira (15), em frente ao Palácio Piratini. O objetivo foi exigir o reajuste de 33,24% do piso nacional do magistério para todos os trabalhadores da educação. Com duras críticas ao governador Eduardo Leite (PSDB), chamaram a atenção para o que consideram “farsa do reajuste”. Concedido em dezembro de 2021, não trouxe aumento real para a maioria dos professores e, além disso, deixou de fora os funcionários e os aposentados.
Organizado pelo Centro dos Professores do Estado do RS (CPERS Sindicato), o ato iniciou em frente à sede do sindicato e cruzou o Centro de Porto Alegre em direção à sede do governo gaúcho. O cartaz que puxou a caminhada dizia: “Pela verdade e contra as mentiras de Eduardo Leite”. Chegando na Praça da Matriz, uniram-se a outros educadores, sindicatos parceiros e apoiadores que já estavam no local.
Em carro de som, a presidenta do CPERS, Helenir Aguiar Schürer, destacou que os trabalhadores da educação tomaram a praça para desmascarar o governador, que vem fazendo propaganda de que concedeu um reajuste de 32% para os professores. O sindicato exige o reajuste de 33,24% aprovado na Lei do Piso Salarial Nacional do Magistério também para os funcionários de escola, para os educadores aposentados e para todos os professores da ativa sem mexer na parcela de irredutibilidade.
Reajuste anunciado deixou de fora maioria dos trabalhadores
Conforme explica o sindicato, o reajuste de 32% atingiu apenas 14% dos professores do estado, somente os que estão em início de carreira. Os outros 86% não tiveram aumento real nesta faixa, pois o reajuste absorveu a parcela de irredutibilidade dos salários. A parcela de irredutibilidade havia sido conquistada nas discussões sobre o Plano de Carreira do Magistério como um mecanismo para preservar avanços de carreira que foram eliminados pelo governo.
“O nosso jurídico já está fazendo um estudo e vai sair ação”, afirmou Helenir. Além disso, pontua que foram deixados de fora do reajuste cerca de 25 mil funcionários de escola e quase 10 mil aposentados sem paridade. A dirigente disse que no dia 22 de fevereiro o sindicato vai iniciar uma caravana pelos 42 núcleos do estado, numa crescente mobilização, que resultará numa assembleia geral.
Funcionária de escola aposentada e diretora do CPERS, Juçara Borges criticou o governo Leite por sua capacidade de dividir a categoria, não reconhecendo os funcionários como educadores locados na Secretaria de Educação e deixando esses trabalhadores sem reajuste.
“Mais vergonhoso é esse governo fazer campanha e ir pra escola propagar que está aumentando a verba da alimentação dos nossos alunos. Não sou contrária, mas o que me indigna é esse governador que nos ignora, temos o salário mais baixo do Rio Grande do Sul e ele tira foto com uma merendeira. Na hora da foto somos visíveis, na hora do reajuste somos esquecidos”, repudiou Juçara.
A dirigente do Departamento dos Aposentados do CPERS, Glaci Weber, disse que o governador deve ter sido um mal aluno. “Aprendeu uma matemática que nunca vi na minha vida e um português que mente para a população do RS. E os deputados que votaram contra nós também. Nós aposentados, professores e funcionários não vamos deixar assim”, afirmou.
Ao lembrar que Leite não concedeu reajuste aos aposentados, disse que o superávit anunciado pelo governo foi feito a partir da retirada de direitos da classe trabalhadora. “Ele vai gastar nosso dinheiro e dizer que está com um novo Rio Grande, mas é do nosso sangue e nosso suor. Nas próximas eleições não vamos deixar barato, Eduardo Leite nunca mais”, protestou.
Servidores na luta contra a precarização
Além das falas dos dirigentes do CPERS, subiram no carro de som representantes de sindicatos apoiadores e parlamentares da oposição. O diretor do Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal no Rio Grande do Sul (Sintrajufe/RS), Marcelo Carlini, destacou a presença de diversas categorias do serviço público no ato. “Seguramos o atendimento público mesmo na pandemia e nem isso fez com que o poder público não atacasse nossos direitos”, disse.
Marcelo lembrou dos servidores municipais de Florianópolis (SC), atualmente em greve pelo piso salarial e outras reivindicações, que estão sendo criminalizados pelo prefeito Gean Loureiro (DEM). Ele contou que o prefeito pediu a prisão dos dirigentes do sindicato, abertura de administrativo, multa de R$ 500 mil por mês. “É para destruir o movimento, que é como esse que estamos construindo aqui no estado. Esses governos não conseguem suportar a existência das nossas entidades e sindicatos. Não é exagero dizer que estamos numa guerra contra o serviço público, a exemplo da PEC 32 (reforma Administrativa) que impedimos”.
Tamyres Filgueira, servidora da UFRGS e integrante do Sindicato dos Servidores Técnico-Administrativos da UFRGS, da UFCSPA e do IFRS (Assufrgs) recordou que o governo estadual quer fechar escolas públicas. “Não podemos aceitar. Leite comete crime quando quer fechar as portas do IE (Instituto de Educação), uma escola centenária, um patrimônio de Porto Alegre.”
Reforçou a luta dos servidores das diferentes esferas, lembrando que os federais também estão em campanha de reajuste e foram divididos por Bolsonaro, que prometeu reajuste apenas para os policiais. “Aqui tem unidade do serviço público contra o governo Leite, contra Bolsonaro e contra o governo Melo, que tem a mesma política de atacar o serviço público de Porto Alegre, que é usado pela população, especialmente a população negra desse país”, disse.
Governo anuncia contas em dia às custas dos trabalhadores
A deputada estadual Luciana Genro (PSOL) parabenizou os educadores por darem seu recado para o governador e os deputados e criticou o superávit anunciado pelo governo, obtido às custas dos trabalhadores e do sucateamento das escolas. “Superávit que só serve para Leite se mostrar como candidato a Presidência, enquanto servidores sofrem perda atrás de perda”, afirmou
Luciana ressaltou que o governador tem uma bancada de deputados muito unida que deu a ele várias vitórias aqui na Assembleia, mas que em 2022 a situação é diferente. “Esse ano tem eleições e o governo ainda não conseguiu se unir em torno de um candidato, não estão coesos, então a base não está tão unida e temos uma brecha para, a partir da mobilização, junto às bases dos deputados, arrancar conquistas ao longo do ano”, avaliou.
Para a deputada estadual Sofia Cavedon (PT), a síntese do governo Leite é “uma grande mentira” de que colocou o estado em ordem. “Essa mentira é formada por muitas mentiras, é uma grande mentira porque ele mesmo diz que está sobrando dinheiro porque são verbas extraordinárias, de venda de patrimônio público, ele vendeu a CEEE, a Sulgás pelo valor do orçamento de um ano. Já vimos isso nos governos Britto e Ieda, vender patrimônio não organiza finança”, criticou.
“Mas pior, ele tirou dinheiro direto do bolso dos trabalhadores e aposentados”, prosseguiu a deputada. “À custa do massacre da educação, Leite inventou que resolveu os problemas de finanças do estado. Ele buscou 25 mil funcionários e trouxe pro fluxo de caixa e parou de colocar dinheiro no fundo da Previdência. Isso é vergonhoso porque ele tá destruindo a Previdência no futuro”, completou.
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Edição: Katia Marko