Rio Grande do Sul

Cinema de rua

“O principal pilar da Cinemateca Capitólio é a preservação”, destaca coordenadora

Inicialmente chamado de Cine-Theatro Capitólio, atravessou décadas de sucesso, tempos de crise e chegou a ser fechado

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A Cinemateca Capitólio está abrigada dentro de um dos poucos e raros cinemas de rua do Brasil, no centro de Porto Alegre - Divulgação/Capitólio

Em outubro de 2023, o prédio que abriga a Cinemateca Capitólio, localizado no centro de Porto Alegre, na equina entre a Borges de Medeiros e a Demétrio Ribeiro, completará 95 anos de história. Mais que um cinema de calçada, o local é espaço de confraternização, de eventos culturais, contando com um café e uma biblioteca.

Recentemente, foi lançado um projeto para reunir memórias sobre o espaço, com intuito de preservar a sua trajetória. O Brasil de Fato conversou com Luiz Antonio Grassi, presidente da Associação dos Amigos do Cinema Capitólio (AAMICA), e Daniela Mazzilli, coordenadora de Cinema e Audiovisual, da Secretaria Municipal da Cultura - Cinemateca Capitólio. 

“A Cinemateca Capitólio está abrigada dentro de um dos poucos e raros cinemas de rua do Brasil, mais raro ainda em um cinema ainda dos anos 1920, e que atualmente ainda funciona. Neste espaço a história do cinema se faz presente e não haveria algo mais simbólico que nele funcionar uma Cinemateca. Sempre gostamos de salientar que além da programação intensa e viva, o principal pilar da Cinemateca Capitólio é a preservação”, destaca Daniela. 

Inicialmente chamado de Cine-Theatro Capitólio, atravessou décadas de sucesso, viveu tempos de crise, chegou a ser fechado, reabriu, e em 2020 enfrentou o risco de terceirização, sob o governo Nelson Marchezan Júnior, ação suspensa pela justiça após intensa mobilização popular. Sob o governo de Sebastião Melo (MDB), o futuro do espaço é que permaneça com a administração pública total através da Coordede Cinema e Audiovisual, mantendo-a entidade pública.

“Nós tivemos mais de um contato com o secretário da Cultura, Gunter Axt, e até o momento ele diz que não concorda com o que foi tentado fazer, que não é ideia dele voltar à questão da terceirização. E que ao contrário, pretende manter a Cinemateca funcionando como entidade pública. Nós estamos vigilantes, obviamente a AAMIVA , assim como outras entidades, está acompanhando. Continuamos sempre vigilantes”, afirma Grassi. 

Para Daniele a conquista de se possuir um espaço dedicado à preservação das nossas imagens em movimento é um marco na cultura do Rio Grande do Sul. Conforme ressalta a coordenadora, a sua instituição e manutenção está sendo muito importante para que se possa recuperar aspectos perdidos da cultura cinematográfica do passado, assim como também olhar para o futuro e garantir que nos próximos 50, 100 anos as próximas gerações possam conhecer seu passado, ‘que é o nosso hoje, a partir das imagens que aqui resguardamos’, afirma.

”Para que este espaço pudesse existir como hoje o conhecemos muitas instituições e, principalmente, pessoas entregaram o máximo de si para que o projeto nunca parasse. Foram quase 15 anos para sua inauguração”, ressalta, destacando a AAMICA, a Fundacine RS, a APTC RS, a Secretaria Municipal da Cultura, a Coordenação de Cinema e Audiovisual e seus servidores, entre tantos outros agentes como a Petrobras e o BNDES.

“Foram muitas e inúmeras as pessoas que sonharam com a concretização da Cinemateca e que passaram por todas as dificuldades de uma obra de restauro, de rápida mudança tecnológica desde a projeção até a preservação. Hoje podemos nos orgulhar de possuir um centro cultural da envergadura da Cinemateca Capitólio e é muito importante o apoio contínuo para que ela siga existindo e melhorando a cada dia”, complementa. 

Desafios 

Um dos grandes desafios e gargalos da Cinemateca está na questão dos recursos financeiros, uma vez que ela é mantida pela prefeitura e os recursos são muito poucos. “A equipe que está fazendo a administração, que está gerindo a Cinemateca, faz um verdadeiro exercício de ginástica para conseguir com os poucos recursos se manter funcionando”, destaca Grassi. 

De acordo com o presidente da AAMICA, recentemente foram aprovadas emendas parlamentares dos vereadores, cujo recurso vai ajudar a manter a Cinemateca. A entidade também entrou em um dos editais de Cultura do Estado. O projeto apresentado tem como finalidade a formação de pessoal para manuseio de filmes antigos, conservação e limpeza. “Isso não é o ideal, o ideal seria que a prefeitura previsse no orçamento municipal o recurso necessário pra Cinemateca funcionar normalmente. É preciso que o prédio, que os equipamentos todos sejam mantidos, é preciso melhorar também os equipamentos em conservação do acervo. Ter, por exemplo, toda a instalação ambiental interna, não só de ar condicionado, mas de higrômetros, ou seja, para manter a umidade baixa para preservar os filmes. É uma preocupação que temos com a conservação desse material. Não podemos deixar que a Cinemateca Capitólio também entre em decadência e não seja conservada”, expõe Grassi. 

A manutenção do dia a dia da Cinemateca é um dos desafios apontados por Daniele. “Sonhamos com importantes passos, como a digitalização do maior número possível de nossos itens acervados, a melhoria na forma de acesso ao acervo e projetos de sensibilização social sobre a importância da preservação e da existência de arquivos como o nosso”, destaca. 

De acordo com a coordenadora se busca para 2022 contar com patrocínios de empresas privadas que permitam continuamente efetuar ações e melhorias no espaço. “Já que muitas vezes contar apenas com os recursos do cofre municipal é inviável frente aos valores observados para melhorias tecnológicas necessárias e frente a necessidade social de atendimento neste momento ainda pandêmico”, ressalta. 

Ainda de acordo com ela, é importante que o porto-alegrense tenha conhecimento do que funciona no prédio do Capitólio. “Muitos porto-alegrenses passam diariamente na frente da Cinemateca, recordam que era um cinema, mas não fazem ideia que nele ainda funciona uma das salas mais lindas do Brasil, que temos uma programação voltada para crianças (de todas as idades), que possuímos um sólido Programa de Alfabetização Audiovisual que trabalha há mais de 14 anos com escolas do município e que além de tudo, resguarda a história em movimento do nosso Rio Grande do Sul e que isso não tem preço”, conclui.

Projeto de memórias

Em janeiro a prefeitura, por meio da Secretaria Municipal da Cultura e da Cinemateca Capitólio, lançou o projeto Histórias do Capitólio, que propõe uma campanha de coleta de fotografias e relatos pessoais dos frequentadores do local ao longo dos anos. O projeto é coordenado pela historiadora Alice Dubina Trusz. 

As imagens e histórias podem estar relacionadas a acontecimentos recentes ou mais antigos, da época em que o Cine Capitólio esteve em atividade apenas como sala de cinema (1928-1994), antes da reforma que o transformaria na Cinemateca Capitólio, a partir de março de 2015. Pode ser uma sessão de cinema marcante, uma memória da infância ou da juventude, uma visita ao local, a lembrança de algum episódio narrado por familiares, uma foto do espaço, um recorte de jornal, entre outras.

O material - que fará parte do acervo da Cinemateca Capitólio - deve ser encaminhado para o e-mail [email protected] com as seguintes informações: nome; endereço; telefone; e-mail; profissão; data de nascimento; data da foto (se possível); autor da foto (se possível); identificação do evento e/ou pessoas que aparecem na foto (se possível). 

Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail [email protected]

Veja aqui a programação completa da Cinemateca Capitólio.


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Edição: Katia Marko