Não mais morte, morte, morte! Vida, vida, vida! Há muito esperançar freireano. Há muito sonho no ar
Estamos vivas, estamos vivos. Apesar das chuvas de janeiro, da seca de janeiro, das mortes de janeiro, em especial o absurdo assassinato do congolês Moïse Kabagambe.
O Fórum Social das Resistências (FSR), no início de 2022, foi, e ainda está sendo, uma voz poderosa, nas circunstâncias em que foi realizado. Ainda que seja difícil escrever depois do que aconteceu com Moïse nos mesmos dias do Fórum, e da forma como aconteceu, quando milhares de pessoas encontraram-se para conversar sobre e contra o racismo, a homofobia, a transfobia, os preconceitos, a violência, a desumanização vigente. Reuniram-se virtualmente para falar de paz, de igualdade, de respeito à diversidade, de amor, de solidariedade, do ´ninguém solta a mão de ninguém´.
Aconteceram 13 Assembleias de Convergência no Fórum, com muitas-os participantes, com 530 entidades na sua organização, e presença de gente do Brasil e de mais 23 países. E com uma grande Plenária geral no domingo, 30 de janeiro, com centenas de participantes.
Foi lindo, entusiasmante, nestes tempos tão difíceis no início de 2022. Teve debates, rodas de conversa, trocas de experiência sobre quase tudo, iluminando o futuro e mostrando os caminhos de luta e esperança.
A Assembleia de Convergência de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional pela Vida e contra a Fome lançou a proposta da construção de uma Frente Nacional contra a Fome. Houve Assembleias de Convergência em defesa da EBC, Empresa Brasileira de Comunicação, e democratização da comunicação. Os movimentos urbanos organizaram a Assembleia de Convergência da Resistência Urbana. Os movimentos ambientalistas organizaram o debate da luta socioambiental e seus desdobramentos. A Campanha em Defesa do Legado de Paulo Freire discutiu Direitos e Democracia. Houve debates sobre a agressão imperialista, o capitalismo e as ameaças à paz. A Defesa do SUS, assim como proteção social e direitos das vítimas da covid, estiveram presentes. Os movimentos de mulheres discutiram Feminismo e Resistência. Os movimentos de cultura fizeram a Jornada Arte e Cultura para a Vida. E teve Assembleia de Convergência sobre a Articulação e Incidência para proteção dos povos indígenas. E o Movimento Negro falou sobre os anos de resistência no combate ao racismo. Houve ainda rodas de conversa sobre os desafios do campo democrático-popular, promovida pelo CAMP. E roda de conversa promovida por Fórum Inter-religioso sobre os Gargalos das nossas Espiritualidades.
A Plenária Final de Movimentos e Organizações sociais das Assembleias de Convergência e demais atividades ouviu as deliberações de cada Assembleia e encaminhou a preparação do Fórum Social das Resistências de 26 a 30 de abril, com a designação de três pessoas por Assembleia para sua preparação.
Ainda aconteceu um Ato Político do Fórum Social Mundial Justiça e Democracia (FSMJD), ainda que o FSMJD tenha sido todo transferido para 26 a 30 de abril, quando acontecerá de forma presencial em Porto Alegre.
Agora, é organizar o Fórum Social das Resistências, espera-se de forma presencial, em abril, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, se a pandemia permitir. E preparar o Fórum Social Mundial, a realizar-se no México, de 1 a 6 de maio.
2022, apesar de tudo, de todos os problemas e da conjuntura difícil, começou tri bem. Os sinais vitais mostram-se vivos, funcionando. Lutadoras e lutadores, sonhadoras e sonhadores, freireanamente, não deixam que o ódio, a intolerância, as ameaças à democracia tomem conta de corações e mentes.
A vida não será fácil em 2022, ficou claro e demonstrado no Fórum. Haverá mais mortes e assassinatos. Haverá violência contra os mais pobres. Haverá mais fome, miséria e desemprego. Mas a resistência ativa anuncia o novo, mais cedo ou mais tarde.
O ano de 2022, o Fórum Social das Resistências, o Fórum Social Mundial Justiça e Democracia, os dois de 26 a 30 de abril, em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial no México, passando pelo 8 de março, Dia Internacional da Luta das Mulheres, o Primeiro de Maio, Dia Internacional das Trabalhadoras e dos Trabalhadores, e todas as lutas por justiça, igualdade, paz, por terra, trabalho, teto, democracia e direitos precisam ser dedicadas a Moïse, aos congoleses, aos haitianos, aos senegaleses, às oprimidas e oprimidos do mundo, e a todas e todas aquelas e aqueles vítimas da violência miliciana, da perseguição, de todo tipo de preconceitos, da insensibilidade cotidiana.
2022 promete muita mobilização social, solidariedade, luta e esforço coletivo pela transformação e construção de ‘um outro mundo possível’. E com a realização de eleições na Colômbia e no Brasil, com perspectivas alentadoras neste momento, embora nada esteja decidido.
Não mais morte, morte, morte! Vida, vida, vida! Há muito esperançar freireano. Há muito sonho e utopia no ar.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko