Rio Grande do Sul

Religiosidade

Festas religiosas de Navegantes e Iemanjá são celebradas nesta quarta-feira com restrições

Canceladas no ano passado, as tradicionais festividades do dia 2 de fevereiro serão adaptadas por conta da pandemia

Brasil de Fato| Porto Alegre |
As atividades de encerramento poderão ser acompanhadas pelo Facebook Santuário Navegantes - Foto: Jorge Leão

Mesmo com a vacinação, o avanço da variante ômicron desde as festas de final de ano ainda impõe uma série de restrições. A maior festa religiosa do Rio Grande de Sul, a procissão de Nossa Senhora dos Navegantes terá um formato inédito e híbrido este ano. Em 2021 as festas foram canceladas.

As festividades de Nossa Senhora dos Navegantes começaram no domingo (23), quando a Santa foi ao encontro dos moradores da Ilha da Pintada. No início da manhã, foi conduzida por uma carreata da Igreja dos Navegantes até o cais de embarque do Cisne Branco. Ao chegar ao cais, remadores, a pé, levaram o andor com a imagem até o barco que se deslocou para a Ilha da Pintada acompanhada por barco de pescadores e foi recebida na capela da Ilha pelo padre Rudimar Dall Asta. Durante a novena de 23 e janeiro a 2 de fevereiro, houve missas diárias na capela até a volta da imagem para a sua igreja de origem nesta quarta.


No domingo (23), a Santa foi ao encontro dos moradores da Ilha da Pintada / Foto: Jorge Leão

Originalmente a procissão era fluvial com embarcações que navegavam o Rio Guaíba desde o cais do porto, levando a imagem da santa do centro da cidade até a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes. A tradicional procissão fluvial que iniciou em 1912, foi interrompida, por ordem da Marinha em 1989, logo após o naufrágio do barco turístico Bateau Mouche. 

As atividades de encerramento poderão ser acompanhadas pelo Facebook Santuário Navegantes, a partir das 9h. Todas as celebrações são limitadas a 150 pessoas, respeitando os protocolos relativos à pandemia, como álcool gel, medição de temperatura, espaçamento nos bancos.

Programação do dia 2 de fevereiro

- 14h às 15h: Missa no Santuário Navegantes com Padre Luiz Ricardo Xavier

- 16h às 17h: Missa no Santuário Navegantes com Padre Jaime José Caspary

- 18h às 19h: Missa no Santuário Navegantes Padre Romeo Maldaner

- 19h30min às 20h: Solene Entronização de Nossa Sra. dos Navegantes no seu Santuário passando num carpete azul de 30 metros com iluminação cênica. Responsáveis: Guardiões da Nossa Sra. dos Navegantes no Santuário Navegantes.

Prefeituras do Litoral permitem somente oferendas individuais a Iemanjá


Iemanjá é considerada a mãe de todos os adultos e a mãe dos orixás / Reprodução Facebook

O 2 de fevereiro também é o dia de Iemanjá, celebrado pelas religiões de Matriz Africana. No sincretismo religioso, Iemanjá corresponde a Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Piedade e Virgem Maria.

Em Tramandaí, Imbé, Torres, Capão da Canoa e Cidreira – onde está a maior estátua de Iemanjá do estado – somente serão permitidas oferendas individuais à beira do mar e sem aglomeração de pessoas.

A Prefeitura de Capão da Canoa divulgou nota comunicando que as homenagens a Iemanjá, nos dias 1º e 2 de fevereiro, deverão ocorrer sem a instalação de tendas e atendimentos às pessoas. "As homenagens serão individuais na beira-mar, respeitando os protocolos, como uso de máscara e distanciamento. O acendimento de velas e entrega de oferendas no santuário serão liberados somente até as 19h. Após esse horário, o espaço será fechado."

Apesar de entender a necessidade de conter a proliferação do vírus, a Iyalorisá do Centro Memorial de Matriz Africana 13 de Agosto, de Capão da Canoa, Iyá Vera Soares d'Oyá da Nação Oyó Povo Yorubá, questiona a decisão, pois as restrições não são as mesmas para todos. “Nós temos este olhar da necessidade de nos cuidarmos, porém os outros setores não parecem ter a mesma preocupação. Vemos aglomerações na Beira Mar (Orla), nos Quiosques, nos shows em lugares fechados lotados. Enfim os veranistas no seu direito de usufruir do ir e vir. Também vemos as missas e cultos de outras religiões todas cheias. Nas ruas um bom número de pessoas sem máscaras. Tudo acontecendo. Mas a proibição é só para nós Povos Originários que carregamos nossa Tradição para agradecer as Águas e trocar as Energias com nossas práticas tradicionais. A minha dúvida é: o vírus vai estar nos lugares e nas horas demarcadas para essa parcela da sociedade? No mínimo, isso é racismo, discriminação e intolerância religiosa.”


CONSEA-RS fez recomendação ao prefeito de Capão da Canoa / Divulgação

A proibição gerou uma manifestação do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do RS (Consea-RS), na tarde desta terça-feira (1), ao prefeito de Capão da Canoa. Amauri Magnus Germano. O documento, assinado pelo presidente do Conselho, Juliano Ferreira de Sá, recomenda uma reconsideração imediata sobre as medidas anunciadas pelo Poder Público Municipal de Capão da Canoa e que seja estabelecido um protocolo sanitário em conjunto com as lideranças religiosas e tradicionais de matriz africana, assegurando o direito aos eventos previstos e que fazem parte dos costumes e da cultura dos Povos Tradicionais de Matriz Africana.

A recomendação leva em conta que estamos passando pela pandemia da covid-19 há quase dois anos e que existem protocolos sanitários estabelecidos e de amplo conhecimento das autoridades e população em geral e que mesmo com o aumento dos casos de infectados e com alertas de especialistas, não há registros no estado do Rio Grande do Sul de restrições a eventos de quaisquer natureza, inclusive formaturas e festas em locais fechados seguem ocorrendo com adoção de protocolos. Além disso, ressalta que nas praias do Rio Grande do Sul, sobretudo nas de Capão da Canoa, não foram adotadas neste momento, medidas de limitação de utilização de espaços, inclusive com a permanência do funcionamento dos quiosques sem limitação de público e, que adotar medidas restritivas a um grupo ou segmento social específico pode ser considerado como segregação e/ou medida de exceção, principalmente quando se trata de povos e populações tradicionais, que têm direitos assegurados na Constituição Federal e na Declaração Universal dos Direitos Humanos. 

O documentário longa-metragem “Cavalo de Santo”, baseado no livro homônimo da fotógrafa Mirian Fichtner, mostra a presença africana no segundo estado brasileiro mais branco do país e apresenta a diversidade, de forma ampla, das principais linhas da fé cultuadas pelo povo de religião no Sul, suas características regionais e como diferenças existentes, entre os rituais do Sul e os que ocorrem no restante do Brasil.  


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Edição: Katia Marko