A fundação do porto organizado foi no dia da senhora dos mares e marés, a tão saudada Iemanjá
Terra à vista! O grito marca as primeiras atividades portuárias em meados do século XVI na antiga Ilha de São Vicente, hoje dividida nos municípios de Santos e São Vicente. Essa região abriga um dos maiores e mais importantes portos do mundo: O Porto de Santos.
No começo, a entrada e saída de mercadorias que faziam a travessia Brasil - Portugal dava-se de forma precária com a utilização de animais e trapiches para transportá-las até as embarcações de avançada tecnologia para a época: As caravelas.
Com o tempo, o porto foi se modernizando para que pudesse atender às embarcações que se (re) significavam, assim os povoados que se organizavam na região foram se tornando vilas e na sequência cidades.
Hoje, nove municípios formam, estrategicamente, a região central do Litoral paulista. A conhecida Região Metropolitana da Baixada Santista reúne os municípios de Bertioga, Guarujá, Cubatão, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe e Santos. Essa última, recebeu como primeiro nome, Vila do Porto de Santos, tamanha era a importância do Porto.
A região, hoje reconhecida como turística, é antes e acima de tudo uma região portuária com a formação de sua cultura fincada nas atividades do Porto, na importação e exportação, no polo industrial e na história de imensa relevância, não apenas no Brasil como em todo o mundo.
Comemorando neste ano, 130 anos não de atividade portuária, mas da fundação do que chamamos de Porto organizado, fruto de uma concessão de 90 anos dada em 1890 à empresa dos então comerciantes no Rio de Janeiro Eduardo Guinle e Cândido Gaffrée que se tornaria a famosa Companhia das Docas de Santos.
A fundação do Porto Organizado é marcada, além claro da sua inauguração em 2 de fevereiro de 1892, mas também do atracamento (na mesma data) do inglês Nasmith, primeiro navio a vapor em costas brasileiras, consequência ainda do decreto assinado por D. João VI que decretava a abertura dos portos brasileiros às nações irmãs, referindo-se a Inglaterra que na época escoltou e protegeu a corte portuguesa de Napoleão Bonaparte.
Pelo porto de Santos que mexe com a vida econômica de todo o Brasil, entraram novas mercadorias, tecnologias, povos e culturas que marcam toda uma diversidade regional e nacional, a ponto de transformar a Região Metropolitana da Baixada Santista, antes e acima de tudo numa região portuária, deixando mais ao norte e ao sul do Litoral de São Paulo os povos tradicionais caiçaras e, formando uma cultura específica na região central que tem no trabalhador portuário um símbolo de força e resistência e, no mar a esperança de um novo amanhã.
A fundação do porto organizado foi realizada no dia da senhora dos mares e marés, a tão saudada Iemanjá. Um Porto que passou pelos gloriosos ciclos do açúcar e café, que trouxe tantas referências, onde se levantou a primeira greve organizada do Brasil em 1897, mas também um Porto que já foi conhecido de Porto da Morte, por onde entraram tantas pestes e doenças, que foi explorado em regime de monopólio por 90 anos e por onde trouxeram negros e negras vindos da África para que fossem escravizados no Brasil.
Esse mesmo Porto que foi motivo de tantas obras de infraestrutura como a São Paulo Railway, a Calçada de Lorena, os armazéns, para atender e estocar demandas e mercadorias que, essa semana completa 130 anos de fundação e mais de 500 anos de atividade, ainda nos traz exemplo de luta, trabalho e esperança de um novo amanhã que, deve estar calcado no aprendizado que a história nos mostra, no presente de realização que nos trará um futuro de glórias, soberania e, cada vez mais na integração com a cidade, região e com o Brasil.
Viva o Porto de Santos, viva o trabalhador portuário e que Iemanjá sempre traga em suas ondas a proteção e força de justiça e esperança para o país e o povo brasileiro.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko