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“As esquerdas ocidentais devem prestar mais atenção na China”, diz Elias Jabbour

Para o autor de China, o Socialismo do Século 21, o país de Xi Jinping tem muito a ensinar ao ocidente

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Elias Jabbour lança livro sobre a China, com a participação do ex-governador Tarso Genro e mediação da vereadora Daiana Santos - Reprodução

Em 2009, o professor Elias Jabbour subiu em um trem na estação central de Xangai e viajou até o extremo da malha ferroviária, onde havia uma fábrica de celulares. Lá, perguntou a um operário quanto tempo gastava no deslocamento diário da casa ao trabalho. “Duas horas” foi a resposta. Em 2018, Jabbour refez o percurso, retornou à fábrica e repetiu a pergunta. “Sete minutos” foi a resposta.

“Se alguém me perguntar o que é socialismo posso dizer que é isso”, argumenta Jabbour, que leciona nos cursos de pós-graduação de Economia e Relações Internacional da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e é autor do livro China, o Socialismo do Século 21. 

Os trens e o valor de uso

Ele citou o caso dos trens – o país de Xi Jinping concentra a maior extensão de linhas de alta velocidade do planeta – durante debate com o ex-governador gaúcho Tarso Genro (PT), mediado pela vereadora de Porto Alegre Daiana Santos (PCdoB), atividade do Fórum Social das Resistências. 

:: Confira a cobertura completa do Fórum Social das Resistências ::

Jabbour considera que o exemplo do trem de alta velocidade serve para demonstrar a transição dos valores de troca, típicos da economia capitalista, para uma proposta de valor de uso. Segundo ele, os trens de alta velocidade representam o primeiro caso empírico onde a métrica deixa de ser a geração de valor para ser “um projeto indutor de utilidade". 

O Ocidente deve olhar para o Oriente

Para o autor, as esquerdas ocidentais devem prestar mais atenção no que acontece na China. Lembrou que a falta de perspectiva espiritual e o pessimismo que grassam no ocidente não são observados no gigante asiático. Aquilo que denomina “socialismo de características chinesas” está “elevando a capacidade do domínio humano sobre a natureza”. 

Está em curso na China, na sua visão, um processo de superação do capitalismo. Notou que a China tem dois milhões de pesquisadores ocupados em alcançar os EUA em tecnologia. “E eles tem a obrigação, dada pelo Partido Comunista (PCCH), de gerar mais 13 milhões de empregos/ano”, reparou. “Estamos vendo a história diante de nós que traz outra conformação social”, reforçou.

Após a adoção de reformas econômicas no final dos anos 1970 através de Deng Xiaoping, o mercado ganhou maior projeção e a planificação recuou. Jabbour ponderou que, na dinâmica dessa nova formação, com várias inovações institucionais, o Estado e o setor privado foram trocando de papéis. 

A partir de 2006, o salto na inovação tecnológica vai resultar na tecnologia 5G, na inteligência artificial e no Big Data. “Hoje, o setor privado é cada vez mais absorvido pelo estatal”, acentuou, com o país – apesar de seus problemas – cada vez mais capacitado a organizar e executar grandes projetos. É um processo, citou, que ocorreu na passagem do feudalismo para o capitalismo e, agora, do capitalismo para o socialismo. Para Jabbour, a China caminha a passos largos para se transformar em uma democracia não liberal. 

“Que sociedade conseguiria mobilizar 450 mil voluntários?”

“Socialismo, disse ele, é a transformação da razão em instrumento de governo, o que a China mostrou muito claramente com o enfrentamento da pandemia”. E perguntou: “Que sociedade conseguiria mobilizar 450 mil voluntários para combater a covid-19?”

Ele vê as transformações em curso como “um novo tipo de democracia de base e com muita força”. Enquanto nos países ocidentais, os políticos estão em baixa, há negacionismo, movimentos antivacinas e a ultradireita avança, no Parlamento chinês há uma grande e contínua renovação. “Nenhum deputado pode acumular mais de três mandatos enquanto, nos Estados Unidos, o (Joe) Biden ficou 40 anos no Congresso”, comparou.

“Uma criança saindo da barriga da mãe”

Genro comentou que a China, mesmo dentro da concepção de uma economia mista, manteve as estatais públicas e estratégicas voltadas para o mercado. Perseguem o lucro, mas têm a função de organizar a malha produtiva. “É uma gestão da economia tendente ao socialismo”, definiu. 

Jabbour ponderou que muitas mudanças estão em curso na China nesta conformação inovadora da sociedade chinesa e outras virão. “O socialismo que vemos – ilustrou – é uma criança que está saindo da barriga da mãe”.

Confira a íntegra

 
LANÇAMENTO DO LIVRO "CHINA: O SOCIALISMO DO SÉCULO XXI", DE ELIAS JABBOUR

O "Fórum Social da Resistências" ocorrerá de forma puramente virtual, estamos convidando a todos e a todas a participarem do lançamento do livro. Teremos o autor do livro Elias Jabbour e Tarso Genro debatendo temas tratados nesta obra, com mediação de Daiana Santos. Agende-se e partipe! Para adquirir o livro:https://www.boitempoeditorial.com.br/produto/china-1156

Posted by Brasil de Fato RS on Friday, January 28, 2022

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Edição: Katia Marko