Os maiores 20 bilionários brasileiros têm mais riqueza do que 128 milhões de brasileiros
Para quem está interessado em saber como estão o Brasil e o mundo neste início de 2022, é só ir na banca de jornais e revistas do Largo Glênio Peres, ao lado do Mercado Público, Porto Alegre, e comprar a edição do Valor Econômico das sextas-feiras. Segundo João Pedro Stédile, é o único jornal, da grande mídia, que vale a pena ler hoje no Brasil, porque é um jornal da burguesia e alta classe média, feito para a burguesia e a alta classe média. Por isso, fala a verdade e analisa a conjuntura segundo os interesses de seus leitores, sem as mentiras e Fake News de outras publicações, mesmo alguns leitores, como eu, sendo ponto fora da curva.
Desde novembro, o Valor Econômico publica um Caderno com o título ´IMÓVEIS DE VALOR´. Manchete da edição de 21.01.2022: “INTERESSE POR ILHAS PRIVATIVAS CRESCE DURANTE A PANDEMIA.” Mais: “A busca por propriedades que podem custar mais de US$ 100 milhões aumentou desde o início da crise sanitária nos litorais do Caribe, do Sudeste Asiático e do Brasil. Em Angra dos Reis, pequena ilha privativa tem heliporto, deck para iates de cem pés e piscina de água natural por R$ 19 milhões. Na Ilha Grande (RJ), casa com decoração rústica é avaliada em R$ 2,7 milhões. Em Mangaratiba, na chamada Costa Verde, no litoral do Rio, Isla Bonita com duas casas para até oito pessoas é negociada a US$ 3,5 milhões.”
Diz o Valor de 21.01.2022: “EXPERIÊNCIAS IMERSIVAS EM ÁREAS DE BELEZA NATURAL. O escritório Natureza Urbana, em parceria com a Altar, vem criando hospedagens modulares para experiências imersivas em áreas de beleza natural, como a represa de Joanópolis (Bragança Paulista) e o Legado das Águas, reserva de Mata Atlântica mantida pelas Reservas Votorantim (Vale do Ribeira). O local tem uma casa flutuante na represa do Rio Juquiá e em breve terá outra com vista para o mesmo rio.”
Ainda: “CASAS COM ATÉ CINCO SUÍTES NA BARRA DA TIJUCA. A Avanço fechou o ano com casas prontas e em construção em condomínios de alto luxo na Barra. As unidades têm até 655 metros quadrados, cinco suítes, espaço gourmet, sauna e piscina com hidromassagem. A propriedade pode ser personalizada – inclusive com obras do artista plástico Rigo, famoso por transformar o peso e a rigidez do aço em leveza, movimento e flexibilidade. As mansões custam a partir de R$ 6,5 milhões.”
Conta ainda a matéria do Valor: “Expectativa para o mercado imobiliário de alto padrão em 2022 é de manutenção da curva de crescimento registrada no ano passado (32%), um desempenho muito favorável que o setor de incorporação não vivenciava desde 2014.”
Este é o Brasil em 2022. Esta é a realidade brasileira em tempos de pandemia, de fome, desemprego e miséria em crescimento.
Neste contexto, “a pandemia faz um novo bilionário a cada 26 horas, diz OXFAM. Os 20 maiores bilionários do país têm mais riqueza do que 128 milhões de brasileiros” (Sul21, 18.01.2021). “Pandemia colocou na pobreza mais de 160 milhões de pessoas. A Diretora Executiva de OXFAM Brasil, Katia Maia, afirmou que, se os 10 homens mais ricos do mundo perdessem 99,99% da sua riqueza, continuariam mais ricos do que 99% de todas as pessoas do planeta. ´Eles têm hoje seis vezes mais riqueza do que os 3,1 bilhões mais pobres do mundo. No Brasil há 55 bilionários com riqueza total de US$ 176 bilhões.´ Desde março de 2020, o Brasil ganhou 10 novos bilionários. O aumento da riqueza entre eles durante a pandemia foi de 30% (US$ 39,6 bilhões), enquanto 90% da população teve redução de renda de 0,2% entre 2019/2021). Os maiores 20 bilionários brasileiros têm mais riqueza (US$ 121 bilhões) do que 128 milhões de brasileiros (60% da população).”
Nem preciso trazer outras manchetes recentes do Caderno de Imóveis do Valor Econômico. Por exemplo: “Incorporadoras de luxo são destaque em rankings nacionais” (20.10.21). “Procura por imóveis no réveillon bate recorde, e preços explodem” (03.12.21). “Brasileiros retomam o interesse por imóveis no exterior” (19.11.21).
Eis um resumo do Brasil de 2022, e um resumo de uma boa parte da história brasileira, a partir de suas elites. Como mudar isso? A eleição de outubro, a eleição das nossas vidas, junto com a luta e a mobilização social de massa, é um momento fundamental de mudança, com um programa democrático-popular, que faça uma reforma tributária pra valer, os ricos pagando impostos progressivos e anunciando distribuição de renda, riqueza e poder.
Muita luta, pois, pela frente, ante uma direita conservadora e uma burguesia absolutamente insensível, sem solidariedade com a pobreza, a fome e a miséria de milhões de brasileiras e brasileiros.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko