Rio Grande do Sul

NEGACIONISMO

Em Novo Hamburgo, carro de som passeia por bairros com mensagem contra vacinação

Ato aconteceu nesta quarta-feira (26), dia em que o município amplia imunização de crianças; carros foram apreendidos

Brasil de Fato | Porto Alegre |
“Não se justifica mensagens antivacina e contra a ciência que estão circulando na região. Isso é uma atitude contra o Brasil”, enfatizou o prefeito - Marcos Moura/ Prefeitura de Fortaleza

Carros de sons circularam na manhã desta quarta-feira (26) por ruas de bairros de Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre, com mensagens antivacina. O ato acontece no dia em que o município começa a imunizar crianças de 6 a 11 anos sem comorbidades. A vacinação infantil no município começou na última quarta-feira (19).

A mensagem dizia: “Atenção, pais! Nós todos temos o dever de saber que não é obrigatória a vacina experimental em nossos filhos. E que as escolas não podem exigir e muito menos impedir o acesso de nossos filhos às salas de aula por não terem feita a vacina. E os fabricantes não garantem eficácia e não se responsabilizam pelos efeitos colaterais”.

De acordo com o Jornal NH, através de vídeos obtidos pelo jornal, a manifestação foi feita utilizando dois veículos brancos, uma Fiorino e um Fiat Uno. Os automóveis foram vistos circulando em áreas centrais dos bairros Rondônia, Liberdade. Há relatos também de que os carros teriam sido vistos nos bairros Hamburgo Velho, Boa Saúde, Jardim Mauá e Centro. 

Além da mensagem acima, os carros de som trouxeram informações não fundamentadas sobre a aplicação da dose. A mensagem ainda afirma que a vacina é experimental, uma inverdade, uma vez que a Anvisa aprovou os imunizantes da Pfizer e Coronavac e o Ministério da Saúde autorizou a vacinação de crianças. 

Carros foram apreendidos

No início da tarde, os carros foram apreendidos pela Guarda Municipal, um no bairro Guarani e outro no Centro da cidade. Depois do registro do caso da Delegacia de Pronto Atendimento da cidade, os carros foram guinchados e levados para um depósito. A prefeitura de NH está apresentando uma notícia-crime sobre o caso para o Ministério Público.

“Apreendidos os veículos que estavam espalhando fakenews contra a vacinação de crianças. Após receber denúncias da população, a Guarda Municipal apreendeu os veículos e os conduziu até a Delegacia de Polícia, onde foi feita ocorrência e os automóveis encaminhados para depósito do Detran. Os condutores foram responsabilizados por Infração de Medida Sanitária Preventiva, com base no artigo 268 do Código Penal”, afirmou a prefeitura.

Em nota, o executivo municipal ressaltou a importância da vacinação. “A verdade é que, na medida que a vacinação vai avançando, observa-se queda no número de mortes e internações”, ressaltou o secretário municipal de Saúde, Naasom Luciano.

Na nota o secretário lamenta que mensagens antivacina circulem pela região, justamente no momento tão importante que é a ampliação da proteção das crianças. “As vacinas já se mostraram seguras. Quem ama protege e vacina”, afirmou.

A importância da imunização em crianças 

No mundo, mais de oito milhões de crianças já foram vacinadas contra a covid-19. No Brasil, as crianças começaram a ser vacinadas no dia 14 de janeiro. Já no Rio Grande do Sul, a imunização começou no dia 19. 

Em entrevista ao Brasil de Fato RS, o neurocientista Miguel Nicolelis ressaltou que a demora na vacinação em crianças é um crime contra a humanidade.

“Você deixou um mês passar em branco, onde crianças brasileiras podiam estar protegidas. E me falaram agora, daqui a 15 dias, 20 dias voltam as escolas, voltam as aulas em alguns lugares do Brasil. SP acho que é um dos estados, e como nós vamos abrir essas escolas com essas crianças não vacinadas? Não faz o menor sentido, nós tínhamos que ter vacinado todas elas antes de poder abrir as escolas, se é que poderemos abrir, porque o número de casos vai ser tão gigantesco, que infelizmente nós vamos ter professores, funcionários, pais, crianças expostos”, destacou. 

Para o infectologista e consultor da Sociedade Riograndense de Infectologia (SRGI), Ronaldo Hallal, o maior risco de desenvolver covid-19 e suas formas graves é entre pessoas não imunizadas. Conforme ressalta, crianças não vacinadas, especialmente aquelas portadoras de comorbidades, podem desenvolver formas graves, o que, segundo aponta, já ocorre no país.

“Existem ensaios clínicos adequadamente planejados que avaliaram eficácia e segurança das vacinas na população infantil que demonstram que são eficazes e seguras. O mesmo tipo de estudo é realizado para registro e uso de diversos medicamentos, muitas vezes com dados de 48 semanas ou mesmo 24 semanas de estudo, portanto isso não é novidade na ciência”, disse.

Ainda segundo frisa Hallal, a vacinação completa já era exigida em escolas. “A vacina para Febre Amarela é obrigatória para algumas viagens internacionais. As razões são as mesmas: bloquear a transmissão de doenças. O que tem se observado é o risco do retorno de doenças que já haviam sido erradicadas pela alta cobertura vacinal, como no caso do sarampo. A Poliomielite foi erradicada com a ampla cobertura vacinal. A circulação de informações falsas e a distorção da dimensão da "liberdade individual" são algumas das razões para o retrocesso que grupos minoritários querem impor para a população, de forma geral com razões religiosas, políticas ou ideológicas. Não são razões científicas”, conclui. 

“A vacina nem dói, o que dói é a agulha”

Hoje pela manhã, o pequeno hamburguense Vicente Cacers, de sete anos, filho da arquiteta Sabrina Moraes e do professor Rafael Andrade Caceres, tomou a sua primeira dose. Sabrina conta que o filho aguardava ansioso pelo dia. “Como toda criança, é lógico que ele tem medo de agulha, mas ele está muito ciente de que as consequências da covid podem ser muito maiores do que uma picadinha”. Após tomar a dose, Vicente disse a mãe: “a vacina nem dói, o que dói é a agulha”. Vicente saiu da vacinação passando bem, sem nenhuma reação.


Vicente, de sete anos, tomou a primeira dose da vacina nesta quarta-feira (16) / Foto: Sabrina Moraes

Sabrina comenta, que após levar o filho para vacinar, ela se dirigiu ao seu trabalho, no bairro Jardim Mauá, onde avistou um dos carros antivacina. A arquiteta confirmou que a mensagem do carro de som desacreditava a vacinação infantil. “Me parece a suposta liberdade. Foi um momento triste por ver isso logo após eu estar tão feliz de ter, agora, toda a família com três doses, a criança da família, o Vicente com a primeira dose, e eu perceber que tem pais que preferem por a vida em risco, correndo o risco de ter essa doença, do que aplicar vacina que está totalmente aprovada por todos os órgãos. Não fosse assim com esse altíssimo número que temos de infectados, aqui mesmo na nossa cidade, os óbitos estariam elevadíssimos, só não estão por conta da vacina”, comenta. 

A arquiteta ressalta que a sua família nunca questionou a vacinação. “Acreditamos que tanto a história já mostrou a efetividade da vacina, quanto a ciência até hoje tem nos apresentado os números de redução de óbitos na situação específica da covid. Há anos se vacinam as crianças sem questionar nada, e agora, de uns tempos para cá parecem querer por em dúvida a efetividade da ciência. Nos parece uma tentativa de desacreditar a ciência por um movimento de soluções fáceis."

De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, o RS tem até o momento 1.746.431 pessoas contaminadas e 36.749 vítimas da covid-19. A cidade de Novo Hamburgo é o sétimo município do estado em pessoas diagnosticadas com o vírus, com 35.475 casos, e o quinto em relação a óbitos, com 1.005 vidas perdidas. 

Na nota divulgada pela prefeitura, o prefeito em exercício, Márcio Lüders, fez um chamamento para que se faça a vacinação. “Não se justifica mensagens antivacina e contra a ciência que estão circulando na região. Isso é uma atitude contra o Brasil”, enfatizou. 

Abaixo a nota completa da Prefeitura de Novo Hamburgo

Novo Hamburgo defende vacina e avança na imunização

O prefeito em exercício de Novo Hamburgo, Márcio Lüders, destaca a adesão da população hamburguense à vacinação contra a covid-19. Até o final da tarde desta terça-feira (25), Novo Hamburgo já havia aplicado 425.939 doses de imunizantes contra o coronavírus. “Nesta manhã, no primeiro dia da ampliação da vacinação de crianças, agendei a imunização da minha filha Rafaela, de 11 anos. Estou comprometido com o cuidado dela e a vacinação é fundamental. Aproveito para fazer chamamento a todos para que se vacinem. Não se justifica mensagens antivacina e contra a ciência que estão circulando na região. Isso é uma atitude contra o Brasil”, enfatiza o prefeito.

Para o secretário municipal de Saúde, Naasom Luciano, já está mais que provado que a vacinação é a grande responsável pela queda no número de óbitos e internações. “Contra a ciência não há argumentos. A verdade é que, na medida que a vacinação vai avançando, observa-se queda no número de mortes e internações”, destaca. Naasom lamenta que mensagens antivacina circulem pela região, justamente no momento tão importante que é a ampliação da proteção das crianças. “As vacinas já se mostraram seguras. Quem ama protege e vacina”, destaca.

Das 425.939 doses aplicadas em Novo Hamburgo até o final da tarde desta terça-feira, 196.657 foram de primeiras doses e 172.805 de segundas doses, além de 62.266 de terceiras doses (há 5.789 doses únicas que aparecem duas vezes, na primeira e segunda dose). Em relação à população completa de Novo Hamburgo, estimada pelo IBGE em 247.303 pessoas, 79,52% receberam a primeira dose e 70% foram imunizados também com a segunda dose. Já o percentual de pessoas que receberam a terceira dose (dose de reforço) chega a 25,2%. Observa-se uma forte adesão na dose de reforço (terceira dose) da comunidade.

*Com informações do jornal NH


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Edição: Marcelo Ferreira