Com o objetivo de estimular mulheres para inserção em processos políticos, eleitorais e participação em instâncias partidárias, inicia esta semana o projeto “Caravana Por Todas Nós”. Ele percorrerá durante três meses as principais regiões do estado com formações para o ativismo político.
A primeira atividade será realizada nesta quinta-feira 927), às 19 horas, com um debate on line no contexto do Fórum Social das Resistências. Intitulado Por todas nós: a luta das mulheres no mundo, o lançamento da Caravana terá a presença da economista Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social do governo Dilma Rousseff, da vereadora baiana Maria Marighela (PT/BA), com mulheres de todo o Rio Grande do Sul. O evento será coordenado pela deputada federal Maria do Rosário.
O Brasil, apesar de ser um dos primeiros países em que se reconheceu o direito do voto às mulheres na década de 1930 do século passado, e de ter elegido uma presidenta da República de esquerda, é ainda um dos que ocupam posições de enorme desvantagem em relação à presença masculina. A única mulher no posto mais importante do país sofreu em 2016 um golpe sem crime de responsabilidade, episódio que foi marcado pelos ataques misóginos e muita violência contra as mulheres.
Dentre 192 países analisados pela União Interparlamentar Mundial, o Brasil ocupa 142 posição, tendo como referência a composição dos legislativos da esfera federal. O Brasil fica melhor posicionado apenas em relação ao Haiti na América Latina quanto ao gênero na política. No entanto, segundo as Nações Unidas, a desigualdade na política é um dos maiores indicadores do grau de desenvolvimento de uma sociedade.
As mudanças na legislação brasileira para a garantia de cotas e de recursos para campanhas femininas e para a formação política das mulheres, ainda que não tragam resultados imediatos, são consideradas medidas fundamentais para reversão deste quadro.
“É necessário insistir, pois são formas de promover o debate na sociedade, fazer o embate no campo da cultura política, estimular as mulheres à disputa de cargos representativos e, também, de enfrentar a violência política de gênero e de raça que está impregnada nas relações no Brasil”, afirma a deputada federal Maria do Rosário, única mulher do Rio Grande do Sul que representa o Partido dos Trabalhadores em Brasília.
Ao longo de seus mandatos, de vereadora a deputada federal, ela tem como registro que “nunca foi fácil, pois as barreiras são tangíveis e simbólicas, pairando sempre sobre as mulheres na política a ideia de que estão no lugar errado. Mas nós sabemos que este é precisamente o nosso lugar se queremos mudar a sociedade e transformar o mundo”.
A Caravana é um projeto vinculado ao movimento Elas por Elas, da Secretaria Nacional de Mulheres do PT, adaptado à realidade do Rio Grande do Sul. Serão oficinas, seminários e debates públicos, sempre que possível presenciais, sobre temas que influem nos processos de empoderamento pessoal e coletivo das mulheres. A ideia é de que após as formações surjam núcleos locais que fortaleçam a relação de territorialidade como espaços de saberes e trocas, dando um novo significado ao lugar onde as mulheres vivem. potencializando a conexão entre as mulheres de diferentes territórios e seu estímulo à participação na política e por políticas públicas.
Os números da desigualdade
Segundo dados das últimas eleições realizadas no país (2018 e 2020) as mulheres representam 15% da Câmara de Deputados enquanto a bancada de senadoras eleitas em 2018 corresponde a 11,54% da Casa.
Em 2018, foram eleitas 161 deputadas estaduais, o equivalente a 15,56% do total. O número de vereadoras eleitas em 2020 (898) corresponde a apenas 16,51% dos assentos das câmaras municipais, embora as mulheres representem 52,50% do eleitorado.
Este quadro ainda é mais complexo quando se trata das mulheres negras, segundo o estudo realizado pelo Instituto Marielle Franco (RJ), de que 98,5% das candidatas negras sofreram mais de um tipo de violência política na disputa eleitoral de 2020.
Segundo a pesquisa, para a qual foram ouvidas 142 candidatas negras em 21 estados, 78% delas foram alvo de violência virtual. Mais da metade (62%) respondeu ter sofrido violência moral e psicológica, enquanto 42% relataram violência física e 32% sexual. Fatores como local de moradia, orientação sexual, deficiência se somam às barreiras, cuja remoção depende de ações globais e do próprio sistema eleitoral.
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato RS no seu Whatsapp ::
SEJA UM AMIGO DO BRASIL DE FATO RS
Você já percebeu que o Brasil de Fato RS disponibiliza todas as notícias gratuitamente? Não cobramos nenhum tipo de assinatura de nossos leitores, pois compreendemos que a democratização dos meios de comunicação é fundamental para uma sociedade mais justa.
Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.
Edição: Katia Marko